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Toque de Letra na Bombonera, um passeio pelo futebol guiado por ex-jogadores

Exibições marcantes, golos históricos e histórias contadas na primeira pessoa por quem pisava os relvados é a marca de Toque de Letra na Bombonera, um evento que junta ex-jogadores, jornalistas e amantes de futebol, no Porto.

Toque de Letra na Bombonera, um passeio pelo futebol guiado por ex-jogadores

Na terça-feira, a Casa da Madeira do Norte foi novamente o palco de mais uma edição, que juntou o ex-guarda-redes do Boavista Alfredo e o apresentador e radialista portuense Álvaro Costa, numa viagem até 1993, quando o ‘Boavistão’ venceu a Lazio, por 2-0, na extinta Taça UEFA, antecessora da Liga Europa.

“Este convite é impossível de rejeitar. Aproveitei para rebobinar o meu passado, a minha vida, ouvir o ‘feedback’ das pessoas do que fiz e do que fui. Não tenho como compensar um convite destes. Não sabia o que ia encontrar [ao vir cá], mas não esperava e não estava preparado para o que ia acontecer”, relatou à Lusa o agora treinador de guarda-redes do Boavista, Alfredo.

A conversa durou três horas com a lotação esgotada maioritariamente por adeptos boavisteiros, que vibraram com o ‘bis’ de Ricky e as defesas do ex-‘guardião’, numa histórica eliminatória que levou os ‘axadrezados’ aos quartos de final da competição, deixando Alfredo a pedir mais “deste tipo de eventos”.

“Os jogadores são mais profissionais do que eram antes. Não dizendo que eles são melhores ou piores, acho que o futebol antes era mais criativo, não era tão robotizado. A informação que os jogadores têm das equipas técnicas é muito robotizada, eles não sentem a paixão e o calor das bancadas para pegar na bola, fintar dois ou três e marcar um golo. Isso é que é a alegria do futebol”, opinou sobre os tempos de hoje.

O guia para esta visita ao passado foi Álvaro Costa, o ex-apresentador do programa de televisão Liga dos Últimos confessou ter demorado “três segundos a aceitar o convite”, sendo ele um amigo de infância de Alfredo, “apaixonado pelo futebol” e “fã deste tipo de eventos” que devolvem “paixão pelo jogo”.

“Naquele tempo, uma equipa era um grupo, não havia tanta distração. Havia mais convívio, mais loucuras, jogadores a fugir dos estágios ou estágios completamente marados. Nos dias de hoje, [os jogadores] são marcas. São roupas desportivas, imagens e o pior é que estão nos seus clubes um ano ou seis meses. Já me aconteceu no início desta época olhar para uma equipa e não conhecer nenhum jogador”, confessou, entre risos.

Mostrou alguma insatisfação pela maneira como o futebol, “um jogo de erros”, é visto em Portugal, porque defende que “não acreditamos que o erro seja honesto”, embora em “Inglaterra, Espanha e Alemanha haja jogos que têm arbitragens inconcebíveis”, e a “dúvida é importante para o futebol”.

“Eu não quero um jogo científico, em que não há dúvida. Se as pessoas não acreditam que o jogador que errou é honesto, ou a arbitragem é honesta, acreditamos em quê? Acreditamos na ciência e na gestão. O futebol sem paixão não existe. Perdeu-se paixão e ganhou-se clubite, que é uma enorme diferença”, apontou.

A iniciativa, que tem preenchido quinzenalmente as noites de terça-feira desde 08 de maio, partiu dos criadores da Enciclopédia do Desporto em Português, página numa rede social que quer “combater a ideia de que o futebol são 22 pessoas atrás de uma bola”, contaram à Lusa os historiadores João Pedro e João Freitas, dois dos responsáveis.

“O futebol tem uma dimensão muito maior que o campo, porque afeta a história, a sociedade e a política dos países. Como o caso da Jugoslávia, em que acabou por potenciar a cisão de países. O evento não é só ouvir histórias do que era no passado, mas também ver os antigos estádios cheios, pessoas que tiveram um papel na história dos clubes e poderem falar do que pensavam naquele momento”, referiu João Freitas.

Neste contexto, sobressaem as edições com Milic Jovanovic, que atuava na Jugoslávia e contou como era “viver lá, fugir da guerra e de colegas que lá ficaram”, e outra com Ricardo Nascimento, que recordou os tempos na Coreia de Sul, quando um soldado sul-coreano matou um norte-coreano, causando um “estado de choque” e tensão no país.

“As pessoas não falam à-vontade se estiver a ser gravado. Quem tem uma vida estabelecida e fora da área [futebol] já não é tão complicado. Se tivermos um ambiente entre 20 a 30 pessoas, toda a gente se sente à-vontade para conviver. Fazer perguntas ao Domingos Paciência foi uma oportunidade única para quem veio”, explicou João Pedro.

O jornalista Ivo Costa considerou que o Toque de Letra na Bombonera é “uma ideia inovadora e para quem gosta de futebol”, tendo falhado uma só edição das nove já realizadas, chegando a apresentar uma delas, com a presença dos antigos jogadores Delfim e Bino, em que o primeiro se “emocionou ao ver um golo que marcou, depois de uma lesão gravíssima”.

“É uma ideia original, de colocar um jogo numa tela durante 90 minutos e haver uma conversa por cima do jogo sem amarras. Há um moderador e um convidado, mas depois surge uma conversa entre várias pessoas. O que acontece aqui dentro, fica aqui dentro. Há conversas abertas, sem o medo do que se pode ou não dizer. Há um certo de saudosismo de quem gosta de futebol”, indicou.

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