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O Serviço Público de Comunicação faz a diferença no desporto?

A existência de Serviços Públicos de Rádio e Televisão é um dos temas que mais debates origina no campo dos media. A realidade construída nas últimas décadas problematizou-os: o fim dos monopólios estatais nas radiodifusões deu origem a uma série de canais/emissoras comerciais. No meio da abundância (que não deve ser confundida com diversidade), questiona-se se ainda faz sentido manter um serviço público nesta área.

O Serviço Público de Comunicação faz a diferença no desporto?

As opiniões são muitas e, por vezes, fortemente contrastantes. Há quem já não veja qualquer valor acrescentado na existência de meios públicos. Há quem acredite que ideais como a universalidade ou a diversidade só podem ser materializados por meios que não visem a maximização de lucros.

Estou claramente do lado desta última fação. Ainda assim, importa ter em mente que todos esses ideais implicam um esforço de diferenciação da marca que se quer que seja o Serviço Público. E a existência de práticas diferentes substanciais é uma discussão ainda mais acalorada. O desporto pode ser um bom ponto de partida para algumas reflexões.

Os meios do grupo RTP fazem diferente no desporto, desde logo porque trazem para a esfera pública modalidades e formações pouco ‘mediagénicas’. Já o fizeram mais e de forma mais convicta, é verdade. Hoje também se colocam problemas novos, como os direitos sobre as imagens, importa reconhecer. Mas ainda são, por exemplo, o único serviço de televisão em sinal aberto que não emite apenas jogos de futebol.

Na rádio, a Antena 1 é a única emissora que faz o relato de todos os jogos de todas as equipas de futebol portuguesas a participar nas competições europeias. Contudo, isto já não se verifica nos noticiários televisivos e radiofónicos. Muito menos nos programas de debate. Aí, tal como nos privados, o desporto é reduzido a uma única modalidade e esta é confundida com apenas três clubes.

Os chamados 'três grandes' monopolizam os tempos de emissão. Programas como 'Trio D’Ataque', 'Grandes Adeptos', 'Zona Mista' e 'Grande Área' são essencialmente dedicados a Benfica, FC Porto e Sporting. Os três primeiros de forma declarada. O último com mais reservas. Mas não há aqui nada de substancialmente diferente. Chega a ser confrangedor ver treinadores e jogadores de futebol de outras formações a serem encaminhados para um debate que se preocupa quase sempre com as formações dominantes, por exemplo. São grandes oportunidades perdidas para fazer a diferença. E fazer diferente com o objetivo de garantir pluralidade, diversidade e promoção de vozes menos fortes é um traço essencial de qualquer Serviço Público de comunicação.

O grande argumento apresentado para estas opções – são opções, nunca podemos deixar de nos recordar deste facto – diz respeito às audiências. Quem assistiu à tertúlia que encerrou a Conferência de Jornalismo Desportivo, organizada em 2013 no âmbito de Guimarães Capital Europeia do Desporto, pôde ouvir isso mesmo por parte de Carlos Daniel. Um Serviço Público que não é visto serve para muito pouco, é verdade. Mas um Serviço Público que não se diferencia também não serve para muito.

A verdade é que o desporto acaba por ser frequentemente encarado como área de decoração. Há as prioritárias, onde as regras são mais restritas. E há as acessórias, mais apropriadas a desvios, nomeadamente para alavancar audiências. Acabam por sofrer, por um lado, a cultura desportiva em Portugal e, por outro lado, os pequenos clubes nacionais. No fim de contas, é o desporto que sai pouco beneficiado pela existência de um Serviço Público de Rádio e Televisão.

Este texto é resultado da colaboração semanal entre o Futebol 365 e o blogue marcasdofutebol.wordpress.com. Esta parceria procura analisar o desporto-rei a partir de um ângulo diferente: a comunicação.

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