Comunicação: O princípio essencial da coerência ou o exemplo de Lopetegui

Quase todos nós, adeptos de futebol, ouvimos alguma vez a célebre frase: 'No futebol, o que hoje é verdade amanhã é mentira'. São inúmeros os exemplos de casos em que as ações não coincidem com a mensagem passada.

De treinadores despedidos depois dos seus presidentes terem assegurado dias antes que os seus cargos estavam seguros a jogadores que dizem amar o emblema que representam para, dois dias depois, assinarem por outro clube, muitas vezes um rival, são inúmeros os exemplos de falta de coerência no mundo do futebol. O próprio André Villas-Boas contribuiu para a descredibilização da mensagem quando disse estar na «cadeira de sonho» no FC Porto e, pouco tempo depois, assinou pelo Chelsea. Como diz o povo: 'A bota não bate com a perdigota!'.

De facto, os exemplos de falta de coerência são mais que muitos. É por isso de salutar quando aparece uma figura no futebol que faz o que diz. Estou a referir-me a Julen Lopetegui, o novo treinador do FC Porto. É certo que muitos de vocês estão a pensar que estou a ir rápido demais na avaliação do técnico espanhol. É verdade que ainda é cedo para tirar conclusões sobre o trabalho de Lopetegui, no entanto, no que toca ao aspeto comunicacional, algumas ilações já podem ser retiradas.

O treinador espanhol, em sensivelmente dois meses de trabalho, já demonstrou ter um discurso claro e coerente, transmitindo mesmo uma certa empatia. Lopetegui parece ter ideias claras sobre o que pretende para o clube de Pinto da Costa e evidencia mesmo uma certa dose de coragem. Senão vejamos:

Lopetegui afirmou que, para ele, todos teriam uma hipótese de jogar caso mostrassem qualidades e empenho. Esta resposta foi dada ainda na pré-época quando o técnico começou a apostar em Rúben Neves. Até hoje, o 'novo miúdo maravilha' do Dragão mantém-se como titular da equipa e a um bom nível.

O outro exemplo foi dado esta semana. No final do jogo com o Marítimo (2-0), Lopetegui afirmou que, para ele, não existiam titulares, todos poderiam entrar e sair da equipa. Apesar das palavras proferidas, uma minoria acreditaria realmente que jogadores como Quaresma teriam o lugar em risco num futuro próximo. Puro engano. A semana que agora termina provou o contrário. Não sei das razões que levaram a que Ricardo Quaresma saísse da equipa, mas certo é que o extremo português não foi titular contra o Lille e não foi convocado para o jogo deste fim-de-semana com o Paços de Ferreira.

Até agora, no aspeto comunicacional, Julen Lopetegui trouxe uma lufada de ar fresco ao futebol português. Pode não chegar, mas ser coerente, credível e simpático nunca prejudicou ninguém.

Este texto é resultado da colaboração semanal entre o Futebol 365 e o blogue marcasdofutebol.wordpress.com. Esta parceria procura analisar o desporto-rei a partir de um ângulo diferente: a comunicação.