França: Helena Costa e a vida para lá do pico mediático

De repente, cerca de cem jornalistas, de 65 órgãos de comunicação social, estiveram presentes numa conferência de imprensa do clube que terminou no modesto 14.º lugar na Ligue 2. O motivo de tal interesse é facilmente compreensível. Afinal, ali seria feita História. Pela primeira vez, uma mulher iria ser apresentada como a líder de uma equipa de futebol masculino.

Helena Costa representa, desde já, um marco na História do futebol. E isto é importante por variadíssimas razões, logo à partida porque questiona o determinismo do sexo biológico na vida de um(a) profissional de futebol. Mas como este é um espaço de opinião dedicado às questões da comunicação, centrar-nos-emos na dimensão comunicacional que esta escolha representa.

A atenção mediática e a boa percepção dos públicos são duas variáveis fundamentais no domínio da comunicação. As organizações precisam de ser conhecidas e reconhecidas. Só assim podem sobreviver numa sociedade de ecrãs e da informação, só assim podem existir num desporto transformado em indústria muito por culpa dos media (da televisão, sobretudo), alimentando-se destes. Contratar Helena Costa, pela novidade que representa, por ser um exemplo facilmente tido como positivo no debate muito actual à volta da igualdade de géneros, garante tudo isto ao Clermont Foot. A conferência de imprensa foi apenas um exemplo, talvez o maior, dos olhares mais atentos que irão observar, a partir de agora, a formação gaulesa.

Contudo, as regras do jogo mantêm-se. Um clube vive de vitórias e serão estas – a sua ausência ou presença – a derradeira instância de avaliação de Helena Costa. Há vida para lá do 'hype' mediático. E este foco inovador de atenção pode mesmo toldar as avaliações, sobretudo se as coisas correrem mal. Por estar tão presente, a novidade que representa a treinadora portuguesa saltará de imediato para os discursos. Por romper com o que está fortemente enraizado, a novidade que Helena Costa personifica presta-se mais facilmente à caricatura, independentemente dos méritos (ou deméritos) da nova responsável técnica do Clermont Foot.

A comunicação, como temos referido, é parte integrante do futebol. E como todas as partes deste, não pode nunca existir por si só. Sozinha redunda em insucesso. Contextualizada é um recurso absolutamente fundamental para o triunfo das organizações e dos seus públicos.

Assim sendo, só resta a Helena Costa não alimentar a novidade que é, usando a comunicação a seu favor. Normalizar a situação e colocar o foco no essencial são passos fundamentais para o seu sucesso. E a técnica portuguesa fez isso mesmo na sua apresentação. Sem meias palavras, Helena Costa pediu igualdade nas análises. Fê-lo com segurança e, assim, terá contribuído positivamente para a sua afirmação.

Este texto é resultado da colaboração semanal entre o Futebol 365 e o blogue marcasdofutebol.wordpress.com. Esta parceria procura analisar o desporto-rei a partir de um ângulo diferente: a comunicação.