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Padre do Marco troca altar por estúdio de rádio para comentar futebol

Uma vez por semana, o padre Pedro Oliveira troca o altar e as homilias pelo estúdio da rádio de Marco de Canaveses, onde faz comentários aos jogos da Associação de Futebol do Porto, extravasando a paixão pela modalidade.

Padre do Marco troca altar por estúdio de rádio para comentar futebol

"Os microfones nunca me assustaram, porque eu falo todos as semanas para uma plateia visível [missas]. Aqui falo para uma plateia invisível", contou à Lusa, pouco antes do início do programa da "Rádio Marcuense".

Há cerca de cinco anos que o pároco, por hora e meia de ondas hertzianas, à segunda-feira à noite, larga a batina, a estola e as escrituras para, num registo informal, mas "sério e para gente séria", como gosta de vincar, analisar ao pormenor, com a voz experimentada na oratória, os resultados do futebol distrital.

O programa, de grande audiência, começa às 22:00, intitula-se "90 minutos" e é apresentado e realizado por Luís Miguel Nogueira.

"Foi um desafio", disse o comentador, referindo-se ao convite do realizador para participar no programa, o que "obriga" o pároco a ver ao vivo alguns jogos das aguerridas equipas distritais e, quando a disponibilidade permite, fazer comentários em direto nos relatos das partidas.

Na sua mesa de trabalho, na rádio, faz-se acompanhar de um "tablet" que manuseia com destreza. No dispositivo encontra dados que ajudam a discorrer sobre as prestações futebolísticas de dezenas de clubes. No ambiente insonorizado do estúdio, por entre os microfones e auscultadores que compõem o mundo da rádio, avistam-se alguns recortes de jornais que também dão uma ajuda nas análises dos resultados.

"Às vezes faz comentários mordazes, mas tem também um discurso apaziguador nos temas mais quentes", assinalou à Lusa o apresentador do programa, elogiando a prestação radiofónica de Pedro Oliveira.

Responsável pelas paróquias de Penhalonga, Sande e Paços de Gaiolo, no concelho do Marco de Canaveses, onde vivem cerca de 5.000 "almas", ali celebra cinco missas em cada fim-de-semana, muito concorridas pelos fiéis.

"Alguns paroquianos são provocadores e brincam comigo, sobretudo os portistas", gracejou, falando da sua paixão pelo Benfica em terra de muitos "dragões".

No quotidiano de Pedro Oliveira, os afazeres profissionais, ressalvou, sobrepõem-se ao gosto pelo futebol, mesmo quando os jogos do Benfica são à hora da missa.

"Nunca alterei o horário por causa disso. Não confundo as coisas. Primeiro tenho as minhas obrigações", exclamou.

Afável, mas pronto nas respostas, o pároco avisa que "não é melhor nem pior padre" por gostar do desporto e vice-versa.

Apesar de não sobrar muito tempo livre, admitiu que comentar jogos de futebol, na rádio, é algo que faz com naturalidade, porque até já foi diretor desportivo de um clube profissional em Freamunde, quando estagiou naquela localidade como padre.

"Tenho muitos amigos no mundo do futebol e a maioria até são portistas", ironizou.

Sócio de vários clubes, incluindo o de Baião, onde nasceu há 41 anos, destaca o Benfica, agremiação que acompanha, quando pode, em Portugal e no estrangeiro, conciliando com o gosto pelas viagens, cujas recordações vai partilhando no Facebook, para gáudio dos paroquianos.

"Não estou no futebol como estou na missa. O futebol é um jogo de emoções, por isso é que prefiro ver ao vivo", afirmou, resoluto.

Apesar do gosto pelo desporto, assinalou à Lusa não ser "fanático", garantindo nunca se ter zangado, nem discutido por causa do futebol.

"Vejo o futebol como uma forma interessante de extravasarmos um pouco de adrenalina", observou, pausadamente, quase em modo de reflexão.

A conversa informal foi avançando, sempre descontraída, quando, a propósito do entusiasmo pelo desporto, pontuou ser igual ao que sentem outros padres jovens e menos jovens que com ele costumam "andar atrás da bola" à quarta-feira, no Porto, e nos torneios entre as dioceses.

À pergunta final da Lusa sobre se alguma vez rezou para o seu "glorioso" ganhar, sorriu demoradamente e vociferou de pronto: "Deus não tem clube".

"Se Deus é justo não se pode meter nisso", rematou, enquanto se ouvia o genérico de abertura do programa e o alerta do apresentador: "Estamos no ar".

Confira aqui tudo sobre a competição.

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