loading

Novas notas sobre Jorge Jesus no Sporting

Esta é a terceira vez que o Marcas do Futebol se refere à verdadeira novela que está a marcar o fim da temporada. E sim, ainda há coisas novas a dizer. Porque o que estamos a assistir é verdadeiramente extraordinário. Aliás, até o inenarrável 'Dragões Diário' já se referiu ao tema, tendo sido bem mais lesto a lançar umas farpas a Rui Gomes da Silva do que o clube que está na sua origem a comunicar com os exigentes adeptos portistas, após a segunda época sem títulos. Mas vamos por partes, ainda que estas estejam todas interrelacionadas.

Novas notas sobre Jorge Jesus no Sporting

1- A comunicação dos clubes

Oficialmente, ela só existiu após pressões da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários. O que diz muito sobre como os clubes encaram os diferentes ‘stakeholders’ na hora de exercer comunicação de crise. Ou seja, as organizações só se preocuparam em comunicar quando um dos seus públicos de interesse, por as SAD serem cotadas em bolsa, o exigiu. O problema é que os adeptos também são um público de interesse. E nem Sporting nem Benfica – sobretudo este último – reagiram suficientemente depressa à torrente de notícias que agitaram sportinguistas e benfiquistas.

No caso do clube da Luz bastava que se tivesse dito que não haveria renovação de contrato e que se avançaria para um novo treinador. Valorizar em demasia a saída de Jesus pela reticência em confirmar a partida ajudou a criar a perceção de que o anterior técnico é praticamente insubstituível e que o clube foi apanhado de surpresa.

Mas pior do que isto foi a reação do diretor de comunicação do Benfica. Este adiantou-se até à comunicação oficial para criticar Jesus. Fê-lo na sua conta pessoal no Twitter. Contudo, João Gabriel é sempre o rosto da comunicação do Benfica, independentemente do contexto ou plataforma. E não resistiu à sobreposição dos impulsos pessoais à organização.

Ainda nos atuais campeões nacionais importa referir o episódio da fotografia retirada. À boa maneira estalinista, o Benfica fez desaparecer Jorge Jesus de algo onde todos sabiam que ele lá tinha estado. Como é óbvio, esta atitude abriu espaço a ataques e ao descrédito. Mesmo compreendendo que já não faz sentido continuar a comunicar com a imagem de um treinador que se mudou para um dos grandes rivais, a estratégia foi completamente errada. Jesus é o treinador do bicampeonato. Se era preciso deixar de o ter na linha da frente da comunicação do feito alcançado, bastava retirar todos aqueles cartazes e comunicar com novos objetos. Porque aquele conjunto de imagens alterado remeterá sempre para a lembrança do original, onde estava Jorge Jesus.

VISITE O BLOGUE MARCAS DO FUTEBOL

A comunicação oficial dos clubes tem sido escassa: uma declaração de Bruno de Carvalho à hora dos noticiários televisivos, uma mensagem deste no Facebook e site do Sporting, o discurso de Vieira no jantar com os deputados benfiquistas e pouco mais. Mas ambas as organizações (e não só) estão a mexer-se. Com isto quero dizer que está na hora do ‘spin’, ou seja, da interpretação dos acontecimentos que se vai passando cá para fora, sobretudo via media. Basta atentarmos nisto: quantas versões desta verdadeira novela já se conhecem? Temos a narrativa de Jesus que não atendeu os telefonemas de Jorge Mendes e Luís Filipe Vieira (esta mais favorável às cores encarnadas) ou a de Jesus como ofendido com a tentativa de colocação no Qatar por parte do presidente do Benfica, apesar da conquista do bicampeonato, por exemplo.

2- Bruno de Carvalho

Já o disse: o presidente do Sporting conseguiu um trunfo inesperado, muito provavelmente o único que teria capacidade de diminuir o ruído à volta da saída de um treinador vencedor e popular como é Marco Silva. O problema é que as terríveis justificações para o despedimento por justa causa do ainda treinador do clube de Alvalade extinguiram esta vantagem. A história do fato oficial promete ficar para o anedotário do futebol português. Aliás, neste caso o ‘spin’ do Sporting foi fraquíssimo. Apenas Marco Silva saiu beneficiado. E todas as outras justificações remetem para a triste figura protagonizada por José Eduardo em dezembro. Agora já ninguém duvida quem estava por trás do homem que trata do ‘catering’ do Sporting.

Bruno de Carvalho tem sido o rosto da comunicação oficial do Sporting. Assumiu Jesus (parece que já se esqueceu do ‘limpinho, limpinho’ que disse custar a apagar da memória) e atacou Marco Silva. E esta última parte merece atenção pela estratégia usada. Afinal, o presidente nunca se coloca no papel de ofendido. A instituição é que foi o alvo de todas as alegadas faltas de respeito protagonizadas pelo técnico que recolocou o Sporting na rota dos títulos. O objetivo não podia ser mais claro: Bruno de Carvalho reconhece a popularidade de Marco Silva e procura combatê-la não com a sua, mas com a paixão à volta do clube. Porque esta supera qualquer individualidade.

Mas o processo para o despedimento por justa causa é o mais interessante acontecimento que gravita à volta do presidente leonino. E parece-me ser sobretudo danoso para a reputação deste. Porque faltou à reunião onde foi comunicado o processo que visa a destituição de Marco Silva. Porque confirmou um novo treinador quando o anterior ainda está dentro dos dez dias a que tem direito para responder à nota de culpa e, portanto, ainda ocupa o cargo de técnico principal. Porque contratou primeiro Jesus e só depois despediu Marco. Pelo meio é que se juntaram as mais ou menos risíveis razões para o afastamento sem indemnização. Porque não tem pejo em pagar o maior salário de um treinador em Portugal, mas mostra-se incapaz de despedir um treinador com o qual se incompatibilizou há muito (seja porque não quer pagar, seja porque não teve a capacidade de acordar uma saída mais ou menos amigável).

3- Luís Filipe Vieira

O presidente do Benfica tem tudo para sair como um derrotado deste episódio. Afinal, o seu treinador de seis anos, aquele que ele sempre quis manter, saiu para um rival. Mas para mim está muito longe de ser óbvia esta conclusão. Porque o fim da dupla Vieira-Jesus pode apenas servir para confirmar a figura do presidente como a única verdadeiramente essencial ao projeto. Agora se verá qual a peça central no sucesso recente do Benfica: se Vieira, se Jesus.

O líder encarnado tem também sido notícia pelas pressões de que tem sido alvo para responder ao Sporting com a contratação de Marco Silva. Isto apesar de já se ter noticiado a preferência de Vieira por Rui Vitória. Ora, há aqui um tremendo teste ao estilo de liderança do presidente do Benfica. Afinal, ele é o homem que traça o caminho, independentemente das jogadas dos outros, e escolhe as figuras que lhe parecem melhores ou é o presidente que prefere a resposta e o contra-ataque como forma de manter o domínio? Com isto não estou a defender Rui Vitória a Marco Silva. Este último bem pode ser a pessoa que Vieira prefere. Competência é algo que todos lhe reconhecem. Mas se se confirmar a escolha do ainda técnico do Sporting parece-me crucial que o presidente do Benfica consiga passar a mensagem de que ele é quem traça o rumo, evitando a inócua perceção de retaliação.

4- Jorge Jesus, Rui Vitória e Marco Silva

Os treinadores estão no centro do novo 'Verão Quente' do futebol português. O primeiro é o grande protagonista. O Sporting só o quer pela reputação vencedora que foi criando. Os elogios vão todos neste sentido: ele é um ganhador. A Jesus só resta continuar a vencer, caso contrário a desilusão será tremenda e arrastará a aura vencedora para o esquecimento. E Bruno de Carvalho acompanhá-lo-á. Colherá os louros da vitória ou a amargura das derrotas. Entretanto, o técnico amadorense também comunicou ativamente, através de uma nota à Imprensa. No tom certo, Jesus agradeceu os tempos que passou no Benfica e mostrou-se voltado para o futuro.

VISITE O BLOGUE MARCAS DO FUTEBOL

Rui Vitória e Marco Silva têm em comum pelo menos uma coisa: a boa Imprensa. De todos os protagonistas nesta história são os únicos cuja reputação não sofreu qualquer estrago. Aliás, o último até está a sair reforçado. Fruto da inépcia do Sporting, ou da ação de gente interessada em defender o treinador e/ou contrariar o clube, ou até da simples verdade, Marco Silva sai como um vencedor. As causas para o despedimento, a sobreposição da contratação de Jesus à sua dispensa, o calvário que aguentou ao longo da temporada. Tudo isto contribui para a perceção da razão de Marco Silva. E a forma tranquila como abandonou Alvalade, saudado por quem encontrou, foi a imagem que serviu para reforçar tudo isto.

Não tenho dúvidas que ainda haverá mais sobre o que escrever, no futuro, sobre tudo isto. Porque esta mudança de Jesus para Alvalade promete fazer correr ainda muita tinta. E porque, sem jogos, a pré-época precisa destas histórias. Mesmo sem partidas, o futebol não pára.

Este texto é resultado da colaboração semanal entre o Futebol 365 e o blogue marcasdofutebol.wordpress.com. Esta parceria procura analisar o desporto-rei a partir de um ângulo diferente: a comunicação.

Confira aqui tudo sobre a competição.

Siga-nos no Facebook, no Twitter, no Instagram e no Youtube.

Relacionadas

Para si

Na Primeira Página

Últimas Notícias

Notícias Mais vistas

Sondagem

Quem será o próximo presidente FC Porto?