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Do mar ao futebol vão duas horas de sono para jogadores do Rabo de Peixe

Para vários jogadores do CD Rabo de Peixe, a rotina diária tem duas horas de sono, para permitir assim conjugar a pesca com o futebol, mas a «garra» é muita para seguir em frente na Taça de Portugal.

Do mar ao futebol vão duas horas de sono para jogadores do Rabo de Peixe

É já no sábado que o Clube Desportivo de Rabo de Peixe ‘salta’ do campeonato regional para enfrentar o Académico de Viseu, da II Liga, no Estádio Municipal da Ribeira Grande, um jogo a contar para segunda eliminatória da Taça de Portugal.

O CD Rabo de Peixe “é muito importante” para a população da vila piscatória, que “vive muito o futebol e apoia muito a equipa”, disse à agência Lusa o capitão da equipa, João Flôr, acrescentando que “o jogo com o Académico de Viseu é importante para divulgar a vila e mostrar o que é o Rabo de Peixe, o povo de Rabo de Peixe e o que vale a equipa”.

O médio-centro, de 32 anos, veste o emblema do clube da vila há 21, no qual começou por ingressar nas camadas mais jovens e mantém-se como líder da equipa “com muita força de vontade”, segundo afirma o pescador, que dorme apenas duas horas entre o trabalho no mar e os treinos.

“Vamos treinar, acabamos às 22:00, jantamos e, às 23:30, estamos no mar. Voltamos às 14:00 e dormimos uma ou duas horas. É força de vontade e muito sacrifício”, explica emocionado João Flôr, que tem também um irmão e um cunhado que o acompanham no mar e em campo.

“É muito difícil ser pescador. Não é nada fácil. Só o descanso que nem temos, dormimos duas ou três horas em 24, isto é a força de vontade para jogar futebol, só assim se ultrapassa tudo”, acrescenta.

Com força de vontade e com alguma ajuda do treinador. Nelo, de 33 anos, jogou no Operário da Lagoa e no Sporting Clube Ideal e passou pelas camadas jovens do Sporting, tendo assumido a liderança do CD Rabo de Peixe em março, um clube que diz ter “uma mística muito própria”. “São pessoas de muito trabalho, muito humildes, que trabalham, tentam sempre ajudar o próximo, e este jogo tem importância”, concretiza.

O técnico admite que, no clube, são todos “amadores, com trabalhos, e há muitos jogadores que depois do treino duas horas a seguir estão toda a noite a trabalhar no mar. A nível físico, ficam muito desgastados”.

Um esforço que é compensado com “exercícios específicos”: “Eles, os pescadores, mas também os outros trabalhadores, dão-me 'feedback'. Sou exigente, mas prefiro que me digam e antes menos do que a mais.”

Para o jogo de sábado, a motivação é grande, garante o técnico, admitindo que “favoritismo está do lado do Académico de Viseu”.

Ainda assim, a equipa encara o desafio “com muita ambição, dedicação, sacrifício, esforço e a garra de Rabo de Peixe”, afiança o capitão, prometendo “lutar até ao fim”.

Para o clube, que não tem campo próprio e treina, alternadamente, nos campos municipais do Pico da Pedra e da Ribeira Grande, a oportunidade de jogar a segunda eliminatória da Taça de Portugal traz, também, uma importante compensação financeira.

Jaime Vieira, que foi jogador, varredor, roupeiro e chegou a treinar a equipa, é, atualmente, presidente do clube e da Junta de Freguesia de Rabo de Peixe, e considera que “um campo faz toda a diferença”, já que, “nos últimos anos, o clube passou de sete ou oito mil euros por ano para acima de 20 mil euros” em despesas com transportes.

A distância afeta, também, “a relação com os adeptos”: “Somos fervorosos - no nosso campo tínhamos média de 700 a 1.000 pessoas, por vezes mais do que o próprio Santa Clara, e não ter campo faz a diferença, também a relação que os miúdos têm com o campo da sua terra”.

Além da questão dos transportes, “a verba será para ser investida na formação, quer com criação de melhores e mais equipamentos de treino e jogo, e também de condições".

Numa comunidade com mais de nove mil habitantes – “uma vila, em habitantes, maior do que quatro ou cinco ilhas, maior do que muitos concelhos dos Açores”, sublinha Jaime Vieira –, “mais do que os fundos, que são importantes”, importa “poder receber uma equipa profissional como o Académico de Viseu, que é prestigiante para a direção e para este grupo de trabalho, é gratificante”.

E a ambição é grande. Para o dirigente, o Rabo de Peixe “é um clube com tudo para dar o salto e estar numa divisão superior”.

“O clube recomenda-se e não tenho dúvidas que, quando tivermos o nosso campo de jogos, voltaremos a ser a maior potência desportiva a nível do futebol dos Açores”, completa.

A construção do novo campo, um investimento da Câmara Municipal da Ribeira Grande, orçado em 1,7 milhões de euros, aguarda o final do procedimento concursal.

Com ou sem casa, e com ou sem vitória, a festa está garantida: “Será sempre uma grande festa, mesmo que não ganhemos”, garante o dirigente.

“A Taça de Portugal permite isso, e passar à terceira eliminatória ainda permitia sonhar com um 'grande' do futebol, e permite o confronto entre realidades diferentes, uma equipa do regional contra uma equipa profissional. Enquanto há vida há sonho, e o sonho é fazer um grande jogo, independentemente do resultado final”, concluiu.

João Flôr também vê o desafio, e a ambição, de fazer do clube das distritais “um 'tomba gigantes'”, até porque “tudo é possível no futebol e jogam 11 contra 11”. A vontade de marcar um golo é muita, por ser “o clube do coração”, mas o importante “é que Rabo de Peixe ganhe”, garantindo o líder do balneário que uma possível passagem “fecha as ruas todas” da vila.

“A gente nem imagina se ganhar. Fazemos história”, remata.

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