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LC/África: Rivalidade «tremenda» entre Al-Ahly e Zamalek resiste à pandemia

A rivalidade “tremenda” entre Al-Ahly e Zamalek manterá “um aspeto emocional muito grande” na final da Liga dos Campeões africana de futebol, apesar das restrições de público devido à pandemia de covid-19, expressou à agência Lusa Manuel José.

LC/África: Rivalidade «tremenda» entre Al-Ahly e Zamalek resiste à pandemia

“Um Al-Ahly-Zamalek é a mesma coisa do que era antigamente o Sporting-Benfica ou do que é agora o FC Porto-Benfica. São jogos que se começam a viver três semanas antes. Acho que os adeptos vão ter as mesmas vivências fora do estádio, mesmo que cinco a 10 mil lá dentro não sejam nada”, disse o ex-técnico do Al-Ahly.

O 239.º capítulo da histórica rivalidade entre os dois principais clubes do Egito realiza-se na sexta-feira, às 19:00 de Lisboa, no Estádio Internacional do Cairo, e representa uma final inédita em 56 edições da maior prova africana de clubes, da qual o Al-Ahly é recordista, com oito títulos, menos três que Zamalek e os congoleses do TP Mazembe.

“Defrontei 23 vezes o Zamalek nesse estádio, que levava 100 mil pessoas [comporta 76 mil desde 2006] e já estava cheio três horas antes do jogo. É claramente o maior dérbi de África, mas a pandemia não deixava ninguém ir assistir. Ia ser uma final intramuros sem nada, mas de tremenda relevância no exterior, nas redes sociais e na imprensa”, notou.

O Al-Ahly já alcançou o 42.º título de campeão egípcio e vai disputar pela 13.ª ocasião a final da Liga dos Campeões, cinco das quais sob orientação de Manuel José, vencedor em 2001, 2005, 2006 e 2008, enquanto o Zamalek, treinado por Jaime Pacheco desde setembro, regressa ao encontro decisivo quatro anos depois da sétima aparição.

“Quando fui para lá em 2001, há 14 anos que o Al-Ahly não ganhava uma prova continental. A Liga dos Campeões não tinha importância nenhuma para eles, apenas ganhar a Liga egípcia e ao Zamalek. Não fui logo campeão. Venci a ‘Champions’ e uma inédita Supertaça africana, mas parecia que tinha ganhado um jogo de bilhar”, lembrou.

Os embates entre duas instituições centenárias extravasam os limites geográficos do Cairo, cuja área metropolitana concentra quase 21 milhões de pessoas, e lideram audiências na diáspora árabe, tendo começado em fevereiro de 1917, quando o país mais populoso do Médio Oriente estava reduzido à condição de colónia do Reino Unido.

“Quando lá estive, os jornais desportivos tinham três edições diárias. 60% da imprensa escrita só falava dos dois clubes por causa desta rivalidade saudável. O Egito praticamente para quando um joga contra o outro. O Al-Ahly ganha mais vezes [102 triunfos contra 58] e esta final tem uma importância maior para o Zamalek”, defendeu.

Aportando sentimentos nacionalistas aquando da fundação, em abril de 1907, os ‘diabos vermelhos’ criaram um clube para os estudantes opositores à ocupação britânica e cultivaram laços com as classes populares, ao ponto de terem adotado a única cor da antiga bandeira do Egito e banido a utilização de atletas estrangeiros durante anos.

Já os ‘cavaleiros brancos’ nasceram quatro anos mais tarde como Qasr El Nile Club e eram apoiados por elites políticas, administradores coloniais e forças do exército, até que a independência do país, em fevereiro de 1922, restringiu o controlo inglês ao Canal do Suez, três décadas antes do golpe militar responsável pela destituição do rei Farouk.

“As rivalidades não se explicam. São dois clubes com grandeza ímpar em África. Em termos de adeptos, é um bocadinho 60/40 a favor do Al-Ahly, num país com 103 milhões de habitantes. Quando se nasce ali, passado pouco tempo ou se é de um clube ou de outro. Esse aspeto emocional, mas tranquilo, marca a diferença”, explicou Manuel José.

Gamal Abdel Nasser subiu ao poder em 1956 e tomou o futebol como reflexo de uma nação autónoma e renascida, esperando quatro anos para estrear o imponente Estádio Internacional do Cairo, casa da seleção do Egito e dos dois emblemas da capital, impedidos de jogarem entre si de 1967 a 1970, em função da Guerra dos Seis Dias.

Os dois acordos de paz celebrados com Israel em 1978 permitiram ao sucessor Anwar Sadat reativar em pleno as provas futebolísticas, numa altura em que o rebatizado Zamalek, nome do bairro onde estava localizado, perdia pujança e o Al-Ahly aproximava-se do poder, até por ser preferência clubística de diversos chefes de Estado egípcios.

No novo milénio, o fervoroso dérbi da cidade banhada pelo rio Nilo conheceu oito treinadores lusos e assistiu à ascensão de grupos radicais de adeptos, que até se uniram em protestos contra o regime de Hosni Mubarak, deposto em fevereiro de 2011, sem deixarem de acumular episódios violentos entre si à custa do fanatismo futebolístico.

“Tenho um dos maiores resultados da história dos dérbis [6-1, em 2001/02] e não houve nenhum conflito nem ninguém insultou. São gente extremamente afetiva e tranquila. A rivalidade não gera agressividade, mas um peso tremendo de responsabilidade sobre os jogadores, pois 90% das coisas são feitas de forma emocional no Egito”, considerou.

Manuel José somou 20 títulos em oito anos, incluindo seis campeonatos internos, e consolidou a supremacia do Al-Ahly, que significa ‘Nacional’ em português e foi eleito o clube africano do século XX pela Confederação Africana de Futebol, logo à frente do Zamalek, ‘carrasco’ do eterno arquirrival na Supertaça continental de 1994.

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