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Rui Águas e Tonel divergem sobre cabeceamentos restritos na formação

Os ex-internacionais portugueses Rui Águas e Tonel divergiram hoje quanto à eventual implementação de restrições aos cabeceamentos no futebol de formação, apenas observadas nos Estados Unidos e no Reino Unido.

Rui Águas e Tonel divergem sobre cabeceamentos restritos na formação

“O cabeceamento é parte do jogo, mas, se essas regras significarem uma defesa muito importante da pessoa, fazem todo o sentido. Vale a pena restringir e modificar leis, já que o futebol é muito mais do que cabecear, sobretudo na fase de formação, que define o futebolista que se vai ser”, partilhou à Lusa o ex-avançado Rui Águas, de 60 anos.

Várias investigações científicas sugerem que a prática de futebol profissional, a envolver incessantes atos de cabecear a bola e choques com outros atletas, pode favorecer o desenvolvimento de doenças neurodegenerativas após a despedida dos relvados.

“Basta pensar um pouco e perceber o impacto de um objeto repetidamente a bater na cabeça. Tenho alguma preocupação, mas sem quaisquer sinais de nada à data. Tudo aquilo que seja defesa da saúde, assente em estudos que provem que algo é penalizador para os atletas, deve ser providenciado”, reforçou o atual treinador adjunto do Boavista.

Antecipando maiores riscos em idades precoces, as federações de Escócia, Inglaterra e Irlanda do Norte seguiram no ano passado as diretrizes aplicadas nos Estados Unidos desde 2015, ao proibirem os menores de 12 anos de cabecear bolas durante os treinos.

“Há muita coisa que se deve privilegiar na fase pré-adulta, mas não a ação de cabecear. Mais do que treinada, é muito intuitiva. Falo por mim: sou filho de alguém que cabeceava bem e, por mistérios da genética, passaram-me essa característica”, notou Rui Águas, descendente de José Águas, bicampeão europeu pelo Benfica em 1960/61 e 1961/62.

A federação norte-americana foi forçada a ajustar as leis de jogo, depois de uma ação movida por atletas e respetivos pais contra si, a Organização de Futebol Jovem local e a FIFA, acusadas de negligência pela omissão de futuros impactos daquele gesto técnico.

“É compreensível alguma preocupação. No entanto, para mim e outros que tinham uma incidência maior neste tipo de ação, fruto das posições que ocupavam, não havia grande repetição. Em 90 minutos de futebol, o cabeceamento não é massacrante. Fora do jogo também há um défice de treino, que salvaguarda a estrutura cerebral da pessoa”, frisou.

A determinação federativa veio proibir o ensino de cabeceamentos aos menores de 10 anos e introduzir limitações ao jogo aéreo entre os 11 e 13 anos, sendo, mais tarde, alargada às seleções jovens e academias dos clubes da Liga norte-americana (MLS).

“Falamos de um desporto histórico e de grande complexidade económica. Se não forem os organismos de saúde, cientistas e médicos a procurarem provas, não acredito que mais alguém ligado ao fenómeno o faça. Da parte dos jogadores, os principais visados pela bola, há todo o interesse nisso”, avaliou o ex-avançado de Benfica e FC Porto.

Desde a despedida dos relvados, em 1994/95, Rui Águas assistiu à inclusão de “bolas mais impermeáveis, menos pesadas e agressivas” e ao debate crescente sobre assuntos do foro mental, alertando que outras modalidades trazem “sequelas muito marcantes”.

“O futebol é uma atividade de desgaste rápido e um profissional tem de se dedicar ao máximo no que é melhor para si e para a equipa. Não pode estar a pensar que não deve dar de cabeça, porque poderá vir a pagar por isso. São os ossos do ofício e há que saber conviver com isso de forma salutar”, contrapôs à agência Lusa Tonel, de 40 anos.

Se as restrições até aos 12 anos “têm alguma lógica” na ótica do ex-defesa, que “não percebe o que ganham os miúdos em trabalhar com bolas de cabeça nessas idades”, condicionar essa ação técnica em plena transição para o futebol de 11 “não faz sentido”.

“Sentia maior diferença consoante a zona da cabeça usada para tocar na bola do que propriamente na execução de um canto ou de um pontapé de baliza. Notava maior desconforto quando cabeceava com a parte de cima da cabeça em vez da testa”, notou o campeão europeu sub-18 de seleções em 1999, notabilizado ao serviço do Sporting.

António Leonel Sousa, mais conhecido por Tonel, encarou um jogo “menos duro e físico” na viragem do milénio e vê “pouca degradação no corpo” desde que deixou de competir em 2015/16, à exceção do desgaste no joelho direito, atenuado com injeções anuais.

“Era forte no jogo aéreo, até pelo meu perfil e posição específica. Em jeito de brincadeira, quando às vezes não me lembro de algo, a minha mulher lembra-me que dei muitas cabeçadas. Achei que isso podia um dia mais tarde afetar-me de algum modo em termos de memória, mas nunca pensei que evoluísse até ao ponto de demência”, concluiu.

Ainda é cedo para medir o real impacto dos ajustes estreados nos Estados Unidos, na certeza de que as crianças dos 11 aos 13 anos podem cabecear sem restrições nas partidas, embora o treino desta ação técnica deva ser limitado a 30 minutos semanais.

"Quando um jogador [menor de 10 anos] cabeceia a bola deliberadamente num jogo, marca-se livre indireto favorável ao adversário no local da infração. Se for na sua grande área, é assinalado livre indireto na linha paralela à linha de golo”, prevê o regulamento.

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