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Desportivo de Rabo de Peixe luta para ultrapassar barreiras da cerca sanitária

O Desportivo de Rabo de Peixe tem vivido dias de “ansiedade” pela sua freguesia estar sob cordão sanitário devido à pandemia da covid-19, o que coloca “barreiras” à participação do clube açoriano no Campeonato de Portugal.

Desportivo de Rabo de Peixe luta para ultrapassar barreiras da cerca sanitária

A norte da ilha de São Miguel, a muitas vezes mediática vila piscatória de Rabo de Peixe é a freguesia com mais casos de covid-19 nos Açores, com 103 infetados. Desde 13 de janeiro que está sob cerca sanitária: primeiro em toda a vila, desde a semana passada apenas numa zona mais específica do território.

A somar ao isolamento da freguesia, junta-se a obrigação de recolher domiciliário. Restrições que afetam o dia-a-dia do Desportivo de Rabo de Peixe, segundo o capitão de equipa, João Flor.

“Os últimos tempos não têm sido fáceis. Ninguém gosta de estar numa cerca. Temos de ter uma declaração para conseguir sair, mas felizmente tem corrido tudo bem”, começa por dizer Flor à agência Lusa.

O capitão, pescador de profissão, explica que o elevado número de casos para uma freguesia com cerca de nove mil habitantes causa “ansiedade” à equipa, que já teve seis jogadores do plantel infetados com o novo coronavírus.

“Estamos sempre com a ansiedade para saber quando é que vai haver um jogador a testar positivo outra vez, o que nos obriga a ficar 14 dias isolados. Nós temos os nossos trabalhos e as nossas famílias e por isso queremos resguardar tudo”, assinala.

As condicionantes provocadas pela pandemia vieram agravar as dificuldades já existentes. Por exemplo, o clube não treina na freguesia, uma vez que utiliza o estádio municipal da Ribeira Grande.

Os “obstáculos” são ainda “maiores” quando os ‘pescadores’ têm de se deslocar ao continente, o que obriga a vários testes à covid-19. Segundo as normas em vigor, no regresso à região, é necessário efetuar despistes no desembarque e ao sexto e 12º. dia.

“Estamos a enfrentar barreiras. Fazemos testes atrás de testes, o que é bom no sentido em que estamos a ver se estamos positivos ou não. Mas é muito complicado e desgastante”, refere o capitão.

Na época atual, estão a receber “os louros de muito trabalho”, porque depois de terem “lutado tanto”, conseguiram chegar aos nacionais. Apesar de a época de estreia estar a “ser muito diferente” do imaginado, João Flor adivinhou numa previsão.

“Foi como já tinha dito antes: quando Rabo de Peixe fosse campeão, ia parar o mundo. Afinal o mundo parou todo por causa de uma doença. Incrível”, aponta.

As dificuldades vividas pelo clube são também partilhadas pelo treinador Manuel Matias, que diz ser “muito difícil” fazer a gestão entre as viagens, os testes à covid-19 e uma freguesia em cordão sanitário.

“É muito difícil fazer a gestão. São os testes à covid, são as viagens e estamos a falar de uma equipa como a minha que não é profissional, é amadora, onde 80% são trabalhadores, que vivem de oito horas de trabalho e a ainda têm disponibilidade para vir treinar às 20:00”, revela.

Considerando que “nem as equipas da I Liga” estão preparadas para jogar à quarta-feira e ao domingo de forma consecutiva, como acontece muitas vezes com o clube, Manuel Matias afirma que os jogadores, a direção e a equipa técnica “têm-se alimentado da vontade e da dedicação”.

Matias, de 56 anos, já tem uma carreira longa no futebol. Começou a carreira de treinador em 2001/02, já depois de ter sido jogador do Salgueiros, Vitória de Guimarães e FC Porto na década de 80 e 90. Para ele, a situação atual é um “dos maiores problemas” que já viveu no futebol.

O treinador garante que, perante as dificuldades, a “descrença jamais” vai invadir equipa que tem como objetivo assegurar a manutenção no Campeonato de Portugal.

“Ninguém pode escamotear o que esta equipa e esta vila tem sofrido. Temos caminhado e vamos continuar a caminhar de pés assentes, sabendo que só com muita vontade e união conseguimos superar essas dificuldades”, salienta.

A luta do Rabo de Peixe com a pandemia começou logo no final da época passada. Apesar de o clube ter sido campeão dos Açores, a paragem dos campeonatos devido à covid-19 comprometeu a subida de divisão.

Por isso, a época de estreia em provas nacionais, “começou atribulada” e “mais tarde” do que as restantes equipas, frisa o presidente do clube.

“É preciso perceber que isso é uma situação que para nós é toda nova. É nova a participação nesse campeonato, é nova em termos logísticos e depois para complicar ainda vem a questão da pandemia e da cerca”, declara Jaime Vieira.

O dirigente refere que a “complexidade logística” acontece porque existem jogadores, membros da equipa técnica e dirigentes a viver em Rabo de Peixe.

“Há sempre muitos impedimentos. Costumamos dizer que cada novo dia é sempre uma incógnita. A começar pela indecisão sobre o prolongamento da cerca. E isso tem levado, obviamente, a alguns transtornos no dia a dia do clube”, assinala.

Além dos testes à covid-19 e das viagens, Jaime Vieira também frisa os impactos da situação no plantel, uma vez que muitas vezes o resultado dos testes não é imediato e, por isso, em certos casos, alguns jogadores ficam dias sem treinar.

“O cansaço é fazer viagens e fazer testes em cima de testes. E depois, há situações em que não se conhece logo o resultado do teste, o que leva a situações complicadas. Nós, enquanto ilhéus que somos, estamos a ser muito prejudicados em comparação com as outras equipas”, aponta.

Outro “problema”, segundo o dirigente, é o tempo de espera necessário para um atleta vindo de fora da região, uma vez que tem de esperar pelo resultado do teste realizado no sexto dia de permanência no arquipélago.

“Numa equipa de futebol, que tem jogado à quarta e ao domingo, um jogador que chegue e tenha de esperar seis ou 15 dias para começar a treinar, obviamente que é complicado. Estamos a ser muito penalizados por esta situação”, admite.

Um ano de estreia nos campeonatos nacionais que está a ser “muito diferente” do imaginado, segundo o presidente do clube, que é também o presidente da junta de freguesia de Rabo de Peixe. Ainda assim, não vacila ao afirmar que “valeu tudo a pena”.

“Sim, valeu a pena o sofrimento e eu gosto de estar nesta divisão, independentemente dos problemas. Queria que fosse diferente? Sim, completamente diferente, não só pela questão do público como pela questão de quanto nos éramos felizes e não sabíamos”, confessa.

Com quatro vitórias, seis empates e três derrotas, o Rabo de Peixe ocupa o sétimo lugar, na série G do Campeonato de Portugal, com 18 pontos.

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