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V. Guimarães: Equipa cresce nos anos 60 em ligação à indústria local e ao nordeste do Brasil

O Vitória de Guimarães começou a lutar pelo primeiro terço da I Divisão portuguesa de futebol após a subida de 1958, apoiando-se no conhecimento de jogadores do nordeste brasileiro e no apoio da indústria local, constata o antigo dirigente, Raul Rocha.

V. Guimarães: Equipa cresce nos anos 60 em ligação à indústria local e ao nordeste do Brasil

Despromovido à então II Divisão em 1955, após 14 épocas seguidas na elite, em que o sexto lugar de 1948/49 foi a melhor classificação que lograram, os vimaranenses regressaram à primeira divisão em 1958/59 para se tornarem no quarto clube com mais presenças no escalão maior (78, contando com 2022/23), tendo, em 1960/61, sido quartos classificados no campeonato, circunstância que terminou um ciclo de nove anos consecutivos com o Belenenses entre os quatro primeiros.

Presidente da mesa da assembleia geral entre 1997 e 2003, em direções presididas por Pimenta Machado, e autor do livro “Vitória – 75 anos de história”, publicado em 1997, Raul Rocha crê que o Vitória começa a “mudar de patamar” a partir de 1958, devido à gradual perda de estatuto de candidato ao título pelo Belenenses, ao apoio dos industriais locais, quer com dinheiro, quer com empregos num tempo de “semiprofissionalismo”, quer pela aposta em jogadores brasileiros oriundos da cidade de Recife.

“O primeiro jogo que vi foi o primeiro da época 1958/59 em Guimarães, com o trio de avançados brasileiros Edmur, Ernesto Paraíso e Carlos Alberto. O Vitória venceu o Belenenses 3-0”, lembrou, a propósito do clube que assinala o 100.º aniversário na quinta-feira.

Apesar de haver, à época, mais representantes brasileiros no campeonato, como Osvaldo Silva – FC Porto, Leixões e Sporting – e o ‘leão’ Fernando Puglia, o Vitória adquiria os ‘seus’ brasileiros graças a António Pimenta Machado, um vimaranense emigrado no Recife e familiar do futuro presidente do clube, com o mesmo nome, entre 1980 e 2004.

“Não ia buscar os jogadores ao Rio de Janeiro ou a São Paulo, porque eram mais caros. Fazia-o no nordeste brasileiro. Havia campeonatos em que os jogadores eram menos conhecidos e mais baratos. Ele escolhia-os para Guimarães. Os brasileiros beneficiaram muito a qualidade das equipas do Vitória nos anos 60”, atesta.

Melhor marcador do campeonato português na época 1959/60, com 25 golos marcados, Edmur seguiu do Náutico, do Recife, para Guimarães, em 1958, e Caiçara seguiu-lhe as pisadas no ano seguinte, tornando-se o lateral-direito titular dos vimaranenses até 1965.

O clube minhoto ocupou por quatro vezes os quatro primeiros lugares do campeonato na década de 60 – foi terceiro classificado em 1968/69 e três vezes quarto -, em alternância com a CUF, o Vitória de Setúbal, a Académica e o Belenenses, facto que motivou ainda mais os empresários do concelho a investirem no clube.

“Os industriais de Guimarães viam o Vitória como uma ‘marca’ da terra. Os técnicos de vendas andavam por todo o país a vender os têxteis. Ao dizerem que Guimarães estava associado a um clube de futebol do primeiro patamar, isso beneficiava muito a visibilidade da terra. Há um grande esforço nessa época para o Vitória atingir um patamar superior”, realçou.

Esse fenómeno alastrava-se a outros lugares do país, com o historiador Francisco Pinheiro, do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX da Universidade de Coimbra, a dar conta de que os clubes lusos são “muito financiados a partir dos mecenas até à década de 70”, num “exemplo clássico” de “relação entre o espaço empresarial e o futebol”.

Além disso, os clubes de futebol ganham a dimensão de representantes das “identidades” de cidades e regiões com o avanço do século XX, sendo o Vitória de Guimarães um dos exemplos “mais vincados” numa região, o Minho, que tem historicamente “enorme força futebolística”, a par da península de Setúbal, por exemplo.

“O clube deixa de representar o mero adepto e passa a representar a cidade e a identidade dessa cidade. Assume um cariz quase moral. Por isso, é que as vitórias são vistas como ‘vitórias morais’ da cidade e as derrotas são vistas como ‘derrotas morais’ da cidade. Um clube nunca é só um mero clube de futebol. Em geral, representa identidades”, descreve.

Quanto à influência dos futebolistas brasileiros no futebol luso, o investigador refere que o Vitória tem “o caso interessante” da ligação familiar, mas lembrou que essa influência já se notava no futebol português desde 1954, com a chegada do treinador Otto Glória ao Benfica, que desencadeou um “processo de profissionalização”.

“O futebol brasileiro estava mais evoluído do que o português. Ele acaba por ter influência grande e começa-se a olhar para o espaço brasileiro de maneira ligeiramente diferente, mas o Brasil só passa a ser o grande ‘mercado’ de jogadores em Portugal na década de 80”, salienta Francisco Pinheiro.

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