Este domingo, o futebol ibérico viverá alguns momentos especiais. Em Portugal joga-se a final da Taça de Portugal, no Estádio Nacional. Em Espanha disputa-se a penúltima jornada de um campeonato já entregue, mas com alguns lugares ainda por decidir.
Contudo, neste último caso, um dos jogos com maior interesse para os amantes do desporto-rei pouco contará para a tabela classificativa. O Athletic Bilbao recebe o Levante. Nenhuma das formações pode ambicionar mais do que um lugar mediano entre as 20 equipas do campeonato espanhol. Mas essa partida será a última (oficial) do mítico San Mamés. Na próxima temporada, os bascos terão uma casa nova.
O recinto do Athletic Bilbao é o único que pode ostentar a honra de ter marcado presença em todas as edições da La Liga. O estádio foi inaugurado a 21 de Agosto de 1913 e a primeira edição do campeonato espanhol decorreu em 1928/1929. Muita história e muitos mitos passaram pelo relvado de San Mamés. Como referiu Marcelo Bielsa, não é pela arquitetura que a casa do Athletic é mítica, mas sim por causa do que aí aconteceu. Nós acrescentaríamos um outro pormenor: tal como na História há tradições inventadas (a este propósito é indispensável ler a obra de Eric Hobsbawm), tal como as lendas são parte fantasia, parte realidade, a força intangível de um estádio/público/clube não tem de ser uma consequência linear do passado. Podendo e devendo ter uma base real, a própria ideia dessa força condiciona o presente, tal como condicionou o desenrolar do passado.
Ou seja, o mito de San Mamés, mais ou menos fantasiado, também joga, entrando em campo muito antes das equipas e da pressão dos adeptos da casa. Uma ideia altamente disseminada pode ser um forte trunfo na atemorização dos adversários e na união do clube. Por aqui se percebe, desde já, a importância de trabalhar a marca de um clube.
O Estádio Nacional é um caso muito particular em Portugal. Tal como o San Mamés, o Jamor merece ser elevado à condição de mítico. Apesar das suas insuficientes condições, a verdade é que quase todos os clubes e profissionais do futebol querem disputar aí a final da Taça de Portugal. Ou seja, o palco da final da prova rainha do futebol português é um elemento de valorização dessa mesma competição.
Os tradicionais convívios antes dos jogos ou a subida à tribuna presidencial são as faces visíveis do mito. E este mito contribui, acreditamos, para manter a relevância da Taça de Portugal numa altura em que há mais e mais lucrativas competições. Assim sendo, a marca que é o Jamor, com todas as dimensões que lhe estão associadas, assume um papel crucial no futebol. Este é um dos poderes de uma marca: dar relevância.
Nota: Este é o primeiro texto de uma colaboração semanal entre o Futebol 365 e o blogue Marcas do Futebol. Neste projeto, o nosso objetivo passa por pensar o futebol por um prisma diferente, ou seja, através da comunicação.