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Bloco de Notas: Marcelo Bielsa e Leonardo Jardim contra as estruturas

Apesar de a época desportiva estar ainda a começar, a Ligue 1 já regista um par muito interessante de polémicas envolvendo dissonâncias públicas entre treinadores e direções. E tudo isto ganha maior relevância por causa dos clubes envolvidos, visto que diz respeito a dois dos principais emblemas franceses. O histórico Marselha, de Marcelo Bielsa, e o supostamente endinheirado Mónaco, de Leonardo Jardim.

Bloco de Notas: Marcelo Bielsa e Leonardo Jardim contra as estruturas

A disputa na formação marselhesa tem tanto de surpreendente como de previsível. Surpreende pela franqueza com que Marcelo Bielsa abordou o tema, em conferência de imprensa. Não surpreende pelos históricos do técnico argentino e do clube do Sul de França.

Não é, de todo, usual ouvir da boca de um treinador palavras tão duras como: «O período que permite definir os contornos da equipa terminou e o balanço é negativo. Não houve concordância entre aquilo que eu esperava e aquilo que se concretizou. Nenhum dos jogadores que veio para o Marselha foi iniciativa minha». Ainda assim, é o resultado da mais que conhecida forte personalidade de Marcelo Bielsa. É também consequência da habitual falta de organização do Marselha, um clube que sempre cultivou uma boa polémica.

O que isto revela é a falta de um rumo partilhado, de um planeamento e alinhamento estratégicos. Por isso é que a face mais visível da comunicação – o contacto, via media, com os públicos externos – falha publicamente. O problema principal não é, podendo não parecer, a exposição pública da disputa. Isto porque esta surge por um erro elementar, daqueles que só podem traduzir-se em asneiras: a comunicação implica estratégia organizacional e esta tem de ser partilhada. O facto de Bielsa não ter sido informado sobre os reforços apenas realça a importância que um bom fluxo comunicacional tem na partilha de um rumo.

Já o Mónaco arrisca-se a ser um novo Málaga. Nas palavras de Leonardo Jardim, «o projeto mudou». Mudou tanto que o técnico português já não orienta uma equipa capaz de lutar pelo título. O treinador madeirense já não comanda o clube que prometia ser o maior rival do PSG. Leonardo Jardim terá sorte se conseguir colocar a equipa a lutar por lugares europeus, o que se afigura uma tarefa hercúlea, dadas as três derrotas, um empate e uma vitória em cinco jornadas.

Aqui o problema é de expectativas. Tal como os adeptos se revoltaram contra as saídas de Falcao e James Rodriguez, os rostos mais visíveis do suposto projeto ganhador, ao ponto de exigirem a devolução do dinheiro investido nos bilhetes, ninguém pode acreditar que Leonardo Jardim está totalmente comprometido com uma equipa mediana. Ninguém pode acreditar que o treinador trocou a hipótese de lutar pelo título em Portugal pela possibilidade de apenas disputar a Ligue 1.

Apesar de se ter mantido discreto, o técnico português não teve qualquer problema, também em conferência de imprensa, em reconhecer que os objetivos iniciais – aqueles que existiam quando foi contratado, importa destacar – «perderam força». Saíram as estrelas e o capitão, ficaram jogadores ora muito experientes ora muitos jovens.

Olhando para a caixa de comentários do jornal L’Équipe, foram vários os adeptos que viram semelhanças entre as conferências de imprensa de Bielsa e de Jardim. E não é de estranhar. «Não estou aqui a criticar, mas a constatar factos. O treinador não é contratado para causar problemas ao clube, mas para trabalhar», explicou o treinador monegasco. Ainda assim, mesmo os factos que destacamos valem alguma coisa simbolicamente, nem que seja porque os verbalizámos. Ficou absolutamente claro que o trabalho que Jardim esperava fazer não é aquele que agora lhe oferecem.

PS: É incontornável não abordar a saída de Paulo Bento da Seleção Nacional. Apesar de muito já ter sido dito, há ainda algumas coisas a acrescentar. Desde logo, a profissionalização que o presidente Fernando Gomes parecia estar a implementar na Federação, nomeadamente na comunicação, mostrou ser um castelo de cartas, sem base ou força estrutural para se manter. Paulo Bento, apesar das muitas críticas que se podem fazer à sua condução técnica, reforçou a sua reputação, a boa e a má. Os alegados problemas que tem em lidar com um grupo de jogadores e os seus naturais conflitos foram reforçados. Em contrapartida, a força e integridade do seu carácter também. Por último, muita da conversa que tem surgido à volta da sucessão prende-se com o consenso da escolha. No fundo, aquilo de que se fala é de reputação. Perceção e reputação, o que mostra que a gestão da comunicação por parte dos profissionais do futebol não pode ser descuidada.

Este texto é resultado da colaboração semanal entre o Futebol 365 e o blogue marcasdofutebol.wordpress.com. Esta parceria procura analisar o desporto-rei a partir de um ângulo diferente: a comunicação.

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