Quando o futebol se põe ao serviço da sociedade

Quando falamos de futebol e de tudo o que o envolve pensamos, numa primeira fase, em troféus, títulos e competitividade, conceitos que fazem as delícias dos adeptos. No entanto, é também frequente pensarmos em dinheiro e, sobretudo, nas enormes quantias que se movimentam no planeta do futebol. Os últimos 60 milhões de euros – que podem chegar aos 80 – gastos pelo Manchester United na contratação de Anthony Martial ao Mónaco são valores que o comum dos mortais não consegue entender.

Esta visão mercantilista do futebol nem sempre abona a favor da modalidade e muitos são aqueles que apontam o dedo a dirigentes e empresários, acusando-os de estarem a mercantilizar uma indústria que se quer antes de mais desportiva. É também por isso, que ver o futebol associar-se a causas humanitárias é essencial.

As recentes notícias que dão conta de que sírios, afegãos e líbios – entre outros – têm fugido dos seus respetivos países, arriscando a vida para entrar numa Europa que lhes possa proporcionar trabalho e segurança, não deixa de chocar qualquer um de nós. Todos os dias somos invadidos com imagens desses momentos de aflição que, infelizmente, tantas vezes acabam por acabar em morte e destruição de famílias inteiras.

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São situações que não devem deixar nenhum de nós indiferente, mas que sobretudo devem mobilizar todos para que não se repitam. Por isso, é gratificante sabermos através das notícias que agentes do futebol se juntam para combater crises humanitárias do género. É frequente criticarmos a Alemanha pelo domínio económico exercido em toda a Europa, mas nesta crise humanitária os germânicos lideraram e deram o exemplo de como se deve enfrentar problemas deste tipo.

Soube-se esta semana que alguns dos clubes alemães darão total apoio aos refugiados que acabem por ir para a Alemanha. O Bayern de Munique, por exemplo, cedeu as instalações do clube, pondo-as à disposição dos refugiados e anunciou ainda que iria oferecer aulas de alemão, de forma a facilitar a integração dos refugiados em solo germânico. Borussia de Dormund e Schalke 04 seguiram o exemplo dos campeões alemães e vão também eles apoiar com roupas e brinquedos os povos que acabem por ir para a Alemanha.

Também por cá estão a ser lançadas iniciativas que visam diminuir o sofrimento destas pessoas. O FC Porto enviou, ontem, uma carta à UEFA, convidando todos os outros 31 clubes que participam na Liga dos Campeões a doar um euro por cada bilhete vendido. O dinheiro servirá para apoiar todas as pessoas vítimas desta crise humanitária. Os próprios jogadores, um pouco por todo o mundo e através das suas contas nas redes sociais, têm demonstrado solidariedade e apelado às pessoas para que ajudem quem mais precisa.

Todas estas iniciativas são excelentes e demonstram que o mundo do futebol, apesar dos milhões de euros nele envolvido, também sabe ser solidário. É óbvio que uma crise humanitária desta dimensão tem, antes de mais, de ser resolvida a nível político, mas o desporto também tem um papel primordial na construção de uma sociedade mais justa.

Acredito que os mais céticos vejam estas iniciativas como ações de comunicação com o propósito de melhorar ou potenciar a imagem dos clubes envolvidos. Talvez assim seja, mas, pessoalmente, não vejo isso como sendo negativo. Se através das boas ações for também possível construir uma imagem positiva tanto melhor. O que interessa no fim é que as pessoas que se pretende ajudar saiam da situação precária em que se encontram e com mais razões para voltarem a sorrir.

Este texto é resultado da colaboração semanal entre o Futebol 365 e o blogue marcasdofutebol.wordpress.com. Esta parceria procura analisar o desporto-rei a partir de um ângulo diferente: a comunicação.