O episódio insólito de um apito ‘fantasma’ e um golo anulado por um sheik do Koweit marcaram o Mundial de futebol de 1982, no célebre jogo entre a França e a equipa do continente asiático, na primeira fase.
Tudo aconteceu na cidade espanhola de Valladolid, na segunda jornada do Grupo 4, com a França a querer recuperar do desaire na estreia com Inglaterra (3-1) e o Koweit a tentar confirmar o estatuto de equipa surpresa, depois do empate inesperado com a Checoslováquia (1-1).
Já na fase final do jogo, com o resultado em 3-1 a favor dos franceses, Alain Giresse fez mais um golo para os ‘bleus’, num lance totalmente regular, perante uma defesa do Koweit que subitamente desistiu de disputar o lance.
“Festejámos o golo, mas vimos que algo estava a acontecer. Os jogadores do Koweit foram todos rapidamente para perto da bancada e, lá em cima, estava alguém a acenar. Os jogadores indicavam que tinham ouvido o apito do árbitro e, por isso, pararam”, contou Giresse.
Perante os protestos, o árbitro, o soviético Miroslav Stupar, não reiniciou a partida, e, subitamente, ao seu lado tinha o sheik Fahad Al-Ahmed Al-Jaber Al-Sabah, irmão do Emir do Koweit e presidente da federação de futebol desse país.
“Saiu das bancadas, dirigiu-se ao relvado e chegou ao pé do árbitro sem qualquer tipo de restrição. A polícia até pareceu que fez um cordão de segurança para ele chegar perto do árbitro”, lembrou Giresse.
Poucos segundos depois, o árbitro invalidou mesmo o golo, perante a fúria dos franceses, que levou à intervenção das forças policiais.
“Para o sheik entrar em campo, tudo bem, para jogadores e treinador a polícia já existiu. Foi surreal”, acrescentou o antigo médio.
Mesmo assim, até final, Maxime Bossis fez novo tento para a França, que venceu a partida por 4-1, chegando mais tarde às meias-finais da competição, enquanto o Koweit ficou pelo caminho.
Este não foi o único episódio ‘estranho’ do Mundial de 1982, em Espanha, já que Alemanha e Áustria protagonizaram o que é lembrando como a “vergonha de Gijón”, com os germânicos a vencerem o duelo por 1-0, resultado que permitiu o apuramento das duas seleções, perante a ‘fúria’ da Argélia.
Tudo aconteceu no último jogo do Grupo 2, numa altura em que os encontros da derradeira ronda do mesmo agrupamento ainda se desenrolavam em dias ou horários diferentes. Na véspera, a Argélia tinha vencido o Chile, por 3-2, resultado que deixou os africanos perto do apuramento.
Alemanha e Áustria entraram em campo no dia seguinte, sabendo que uma vitória dos germânicos por um ou dois golos resultaria no apuramento das duas equipas. E tal aconteceu.
A Alemanha marcou por Horst Hrubesch logo aos 10 minutos e, depois disso, as duas equipas praticamente ‘desistiram’ de jogar, o que levou à fúria dos 41 mil espetadores, tanto espanhóis, como afeto às duas seleções, que estava no El Molinón.
Os comentadores das televisões germânicas e austríacas que estavam a transmitir a partida deixaram mesmo de falar, após terem aconselhado os telespetadores a mudar de canal ou desligar os aparelhos, tal o espetáculo “deplorável” que estava a acontecer.
Contudo, os responsáveis dos dois países negaram sempre qualquer tipo de combinação.
Eliminada, a Argélia protestou o jogo junto da FIFA, que recusou anular o resultado, mas alterou as regras dos jogos das últimas jornadas da fase de grupos, que a partir deste episodio começaram a ser disputados sempre no mesmo dia e à mesma hora.