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Geração de Lisboa priorizava afirmação na I Liga e não estrangeiro - Nélson

A geração de futebolistas portugueses que revalidou o título mundial de sub-20 em 1991 ambicionava afirmar-se com urgência na I Liga em detrimento de antecipar a mudança para o estrangeiro, considerou o ex-defesa Nélson.

Geração de Lisboa priorizava afirmação na I Liga e não estrangeiro - Nélson

“O jogador português tem imenso valor, é reconhecido internacionalmente e chama a atenção dos melhores clubes. No nosso tempo, a minha maior preocupação era afirmar-me no meu clube e, de certa forma, acho que era um bocadinho a de todos nós”, notou à agência Lusa um dos campeões mundiais consagrados há exatos 30 anos em Lisboa.

Nélson formou-se entre FC Porto e Salgueiros e completou duas épocas pela formação principal do emblema de Paranhos, tendo evoluído do escalão secundário para a elite, antes de, com 20 anos e no rescaldo do Mundial de sub-20, ingressar no Sporting.

“Não era nosso intuito ir para o estrangeiro no imediato. É evidente que podia haver ou não essa possibilidade nas nossas carreiras, mas o foco era afirmarmos nos nossos clubes, que, por si só, eram prestigiados nacional e internacionalmente. Vejo isso como um problema nas gerações atuais, porque lhes falta essa afirmação nacional”, apontou.

O ex-lateral esteve seis anos em Alvalade, juntando ao título de campeão da II Divisão pelo Salgueiros (1989/90) os triunfos na Taça de Portugal (1994/95) e na Supertaça Cândido de Oliveira (1995), que embalaram a ida para os ingleses do Aston Villa.

“Vejo com preocupação alguns jovens que têm muito valor e não cimentam a sua evolução nos melhores clubes portugueses. Depois, quando chegam lá fora, sentem muitas dificuldades para se poderem afirmar, porque o seu projeto formativo e de desenvolvimento ainda não está consolidado, e acontecem retrocessos”, ressalvou.

Aportando desde junho de 1995 o estatuto de internacional ‘AA’ de Portugal, Nélson assumiu-se duas épocas como titular num clube da ‘Premier League’, mas optou por regressar à I Liga para celebrar o inédito ‘pentacampeonato’ do FC Porto (1998/99).

“Sinto-me um privilegiado, porque as pessoas reconheceram capacidade e valor para estar ao mais alto nível. Dei sempre o melhor para corresponder às expectativas que sempre criaram em torno de mim e, como é óbvio, mais não fiz do que tentar prolongar esse estado de graça durante muitos anos. Graças a deus, consegui-o”, valorizou.

O ex-defesa nascido no Porto rematou o palmarés com mais duas Taças de Portugal (1999/00 e 2000/01), despediu-se da seleção em abril de 2001, após 10 jogos, e alinhou por Vitória de Setúbal (2002/2004) e Rio Tinto (2004/2006) na iminência da reforma.

“Perante apoios muito importantes em termos financeiros, de prestígio e projeção, alguns jovens conseguem manter os pés no chão e outros querem elevar-se. Por norma, quanto mais sobem, maior é o tombo. Estamos fartos de ver exemplos assim. Depende muito da personalidade e dos que nos rodeiam em termos familiares e de agenciamento”, vincou.

Pouco dado à exposição pública, Nélson terminou a carreira aos 34 anos e tem operado numa empresa de exploração de espaços desportivos, sem deixar de falar com saudade de uma geração “muitíssimo valorosa” e ciente “daquilo que queria desde a primeira hora”.

“Assumimos logo que queríamos vencer o Mundial. Só entrei um ano antes neste grupo, mas todo o trajeto feito pelos meus colegas nas finais dos Europeus de sub-17 [1988] e sub-19 [1990] já tinha mostrado que era possível. Perderam-nas, mas, se lá chegámos, por que não irmos à final do Mundial? Foi dar continuidade a esse trabalho”, enquadrou.

Face aos 18 convocados de Carlos Queiroz, o ex-lateral chegou ao torneio como caso raro de utilização prolongada na I Liga e nunca mais saiu do radar das seleções, tendo sido finalista vencido no Europeu de sub-21 em 1994, com mais 14 ‘heróis’ de Lisboa.

“O título de sub-20 em 1989 aumentou as expectativas em torno da nossa equipa, até porque tínhamos qualidade individual e coletiva que as corroborava. Ao jogar dentro de portas, existia uma responsabilidade acrescida. Todos esperavam muitíssimo de nós e queríamos corresponder essa vontade ao país. Foi o casamento perfeito”, descreveu.

Nélson descreve Carlos Queiroz, com quem trabalhou no Sporting, entre 1994 e 1996, como o “motor de toda a transformação”, ao “conjugar forças individuais numa força coletiva muito forte” para “dar uma sapatada na visão do futebol e do jogador nacional”.

“Demonstrou a dirigentes e clubes que valia a pena apostar no jovem jogador português. Seguramente, ficava muito mais barato face a atletas de maior experiência e até estrangeiros e oferecia a qualidade que se requeria para conquistar grandes títulos. No fundo, justificou olhar para dentro de casa sem estar a olhar para fora”, finalizou.

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