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Liga Europa: Um triste momento histórico para a Série A

Há quase um ano escrevi sobre o declínio do campeonato italiano. A mais interessante liga doméstica dos anos 90 estava (e está) com pouco fôlego. Ainda assim, a passada quinta-feira parece ter sido um dia histórico para o Calcio: cinco equipas transalpinas conseguiram a qualificação para os oitavos de final da Liga Europa. Contudo, este é um triunfo pírrico. Apesar de ser um feito indiscutivelmente importante, tem o condão perverso de relembrar até onde desceu o nível do futebol italiano.

Liga Europa: Um triste momento histórico para a Série A

O sucesso da Fiorentina, do Inter, do Nápoles, da Roma e do Torino na Liga Europa é apenas uma das faces da moeda. A outra é a incapacidade do Calcio em colocar equipas italianas a competir seriamente pela principal competição europeia: a Liga dos Campeões.

Nesta, apenas a Juventus ainda está presente e quantos a consideram favorita? Nos últimos anos, os 'bianconeri' têm dominado em absoluto a Série A. Para além disto, também têm sido o seu mais significativo representante nas competições europeias. Mas nem mesmo a 'Vecchia Signora' tem mostrado competência para honrar uma liga que já foi fortíssima. Itália já não é a pátria de nenhum dos 'tubarões' do futebol europeu.

A Gazzetta dello Sport de ontem falava de uma «grande Itália» e de um «feito histórico para o nosso Calcio». Hoje fala da «nossa Europa». Convém recordar que essa Europa é a da segunda linha, é nessa Europa que equipas como as portuguesas ainda podem sonhar, já que a outra – a da Liga dos Campeões – está reservada para os colossos ingleses, espanhóis e alemães.

A Série A está ainda vários furos acima do Liga NOS, mas está cada vez mais distante de poder ser considerada uma competição de topo. Coincidentemente, este texto foi escrito na antecâmara de mais uma jornada da liga italiana, precisamente aquela que começará 15 minutos mais tarde em cada partida, em solidariedade com um histórico novamente caído em desgraça: o Parma.

No texto anterior já abordei alguns dos principais problemas que o futebol transalpino enfrenta. A edição da France Football do passado dia 25 de fevereiro é uma leitura indispensável para se perceber as razões do declínio, estando o trabalho da revista francesa centrado nos dois históricos da capital económica italiana: AC Milan e Inter. De estádios «ocos» à falta de dinheiro, passando pela falta de planeamento a médio e longo prazo e de futebol de qualidade, são várias as razões apontadas para uma decadência indisfarçável. Ainda assim, há um aspeto que penso merecer particular atenção: a identidade que está em falta.

O que é que tinham em comum o AC Milan de Arrigo Sacchi e o Inter de Giovanni Trapattoni? Em princípio nada, já que partiam de visões do futebol antagónicas. Mas tinham um aspeto óbvio partilhado: ambos tinham uma identidade vincada. Pode-se gostar mais de uma do que de outra, mas ninguém tem dificuldades em caracterizar ambas. Para além disto, o 'catenaccio' que marcou algumas gerações de seleções italianas também nunca escondeu o que queria ser, nunca abdicou de ser um traço de carácter, uma filosofia aplicada.

Olhando para o futebol praticado quer pela 'squadra azzurra' quer pelos principais clubes da Série A, vemos que não há ideias suficientemente fixas e abrangentes em Itália. É apenas navegação à vista e adaptação ao imediato. As equipas transalpinas não querem ser excessivamente defensivas ou assumidamente atacantes. Não são carne nem peixe, usando uma expressão popular.

Nenhuma formação italiana sabe responder à questão 'o que queremos ser?'. Limitam-se a tentar sobreviver, sem tentar uma intenção ou criação. Recordando Agostinho da Silva em ‘Sete cartas a um jovem filósofo’, estaria tentado a dizer que falta não abdicar de tentar criar e, por isso, ser, mesmo face a uma complexidade que reduz as intenções a um ínfimo impacto.

Este texto é resultado da colaboração semanal entre o Futebol 365 e o blogue marcasdofutebol.wordpress.com. Esta parceria procura analisar o desporto-rei a partir de um ângulo diferente: a comunicação.

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