A última quinta-feira marcou o arranque da competição para duas equipas de futebol portuguesas. Vitória de Guimarães e Belenenses começaram a lutar por um lugar na fase de grupos da Liga Europa, com os lisboetas a conseguirem um melhor resultado que os vimaranenses. Para além da vitória, o Belenenses também se destacou por ter apresentado uma ficha de jogo com apenas jogadores nacionais.
Todos os futebolistas, fossem eles titulares ou suplentes, que derrotaram por 2-1 o IFK Gotemburgo, em pleno Estádio do Restelo, tinham nacionalidade portuguesa. Este é um exemplo cada vez mais raro no futebol mundial, algo que esperaríamos ver apenas em formações como o Athletic Bilbau. Mas aconteceu por cá e traduziu radicalmente uma ideia muitas vezes defendida pelos responsáveis da SAD do Belenenses: o projeto assenta em jogadores preferencialmente portugueses, se possível jovens e recrutados em escalões inferiores.
Na apresentação de Ricardo Sá Pinto enquanto novo treinador da formação da Cruz de Cristo, o presidente da SAD belenense reafirmou o projeto .
«Vamos ser fiéis à nossa identidade, de recrutamento de talentos em escalões inferiores e jogadores portugueses», assinalou Rui Pedro Soares. De facto, já há alguns anos que isto vem sendo cumprido. Mesmo não negando lugar a atletas estrangeiros, o plantel do Belenenses é desde pelo menos 2012-2013 constituído por uma muito significativa maioria de futebolistas naturais de Portugal.
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Mais importante do que louvar ou criticar esta opção, importa reconhecer uma raridade: há um clube em Portugal que tem tido a preocupação de comunicar um projeto e tem-no traduzido em atos, consubstanciando-o. Há uma imagem a ganhar forma às custas do cumprimento de objetivos partilhados publicamente. O facto de os resultados desportivos estarem a aparecer torna tudo muito mais fácil, naturalmente. Mas tudo isto é tão incomum que merece, pelo menos, o reconhecimento pela sua existência.
O exemplo do Belenenses é o mínimo que qualquer outra organização devia fazer: pensar no que se quer ser e cumprir. Para os pequenos clubes, a definição de uma identidade (ou, pelo menos, de uma ideia de futuro ou projeto) seria absolutamente fundamental para o seu crescimento. Seria seguramente por aí que começaria a identificação entre marca e públicos, possibilitando um futebol menos polarizado e, acredito, mais saudável. Antes, ser o clube da terra chegava. Porque ‘a terra’ tinha outro significado. Atualmente, a simples proximidade física não chega. É preciso encontrar outras proximidades que garantam identificação.
Curiosamente, o projeto do Belenenses está a ganhar forma numa organização onde SAD e clube nem sempre se entendem. Onde o líder da SAD já teve várias intervenções públicas a roçar o desastre, sobretudo na gestão do sucesso, dos objetivos e da relação com treinadores, nomeadamente com Lito Vidigal. Apesar de todo este ruído, algo foi surgindo. E isto é de louvar.
PS: Pedro Proença é o novo presidente da Liga de Clubes. A sua candidatura surgiu já muito perto do ato eleitoral e, também por isso, não foi possível perceber a existência de grandes ideias para o futebol português. Apesar deste mal partilhado pelas duas candidaturas que estiveram em contenda, Proença chegou a eleger a centralização dos direitos televisivos como prioridade e fez a apologia do futebol enquanto indústria que precisa de ser gerida como tal, sem esquecer a paixão pelo jogo.
Nada contra, tudo a favor. Ambas são verdades de ‘la Palice’. Contudo, nada foi dito sobre outros aspetos fundamentais: por exemplo, como levar gente aos estádios? Qualquer conversa sobre a sustentabilidade do modelo de negócio dos clubes portugueses não pode ignorar esta questão. Ficar à espera de um milagre que inverta as bancadas vazias é um mal que já dura há muito.
Este texto é resultado da colaboração semanal entre o Futebol 365 e o blogue marcasdofutebol.wordpress.com. Esta parceria procura analisar o desporto-rei a partir de um ângulo diferente: a comunicação.
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