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Liga Ibérica: Uma ideia ambiciosa sem comunicação à altura

Recentemente, a Liga Portuguesa de Futebol Profissional anunciou que o seu presidente, Pedro Proença, se deslocou a Madrid para dialogar com o máximo responsável da espanhola Liga de Fútbol Profesional. O texto intitulado «Primeiro passo para Liga Ibérica, um dos desígnios deste mandato» refere que… a Liga deu «o primeiro passo num projeto que constitui um dos seus desígnios para este quadriénio: a Liga Ibérica».

Liga Ibérica: Uma ideia ambiciosa sem comunicação à altura

Para além desta fórmula redonda partilhada entre o corpo do texto e o título, a organização portuguesa não explicou o que será a tal Liga Ibérica. Em quase cem palavras, entre a descrição da comitiva portuguesa e dos cargos dos seus elementos, a LPFP não encontrou espaço para expor uma ideia sobre um projeto de nome pomposo e claramente ambicioso.

Aparentemente, o protótipo de competição em causa já estava no programa eleitoral de Pedro Proença. Ainda assim, a forma como decorreu a disputa entre o vencedor e Luís Duque, centrada nas rivalidades clubísticas, não (me) possibilitou um verdadeiro esclarecimento sobre os projetos dos candidatos. Para além disto, pesquisando no site da LPFP não se encontra o projeto de Pedro Proença: o mais próximo que me foi dado a ver pela pesquisa foi um vídeo incorporado num artigo chamado «Novo posicionamento da Liga Portugal». Nesse vídeo, a Liga Ibérica é referida uma única vez e apenas se ouviu o seu nome. Detalhes não houve. Como continua a não haver.

Deste modo, confesso que fui surpreendido por esta proposta, tal como acredito que tenha acontecido com muita gente. Já o texto citado em primeiro lugar foi reproduzido um pouco por todo o lado, levando-me à inevitável questão: o que é, afinal, a Liga Ibérica?

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Como nada era explicado, tive de supor. Não surpreendentemente, reduzi as suposições a duas hipóteses: ou será uma competição extraordinária, a acrescentar ao calendário, ou será uma muito improvável tentativa de fusão entre as ligas portuguesa e espanhola. A última hipótese pareceu-me completamente surreal. E uma notícia do Expresso sobre a tal viagem a Madrid de Pedro Proença confirmou essa suspeita: a hipótese número um estava certa, a Liga Ibérica almeja juntar clubes portugueses e espanhóis numa «prova de figurino curto, tendo por participantes as equipas melhores classificadas nos campeonatos dos dois países» (Isabel Paulo, Expresso, «Pedro Proença debate Liga Ibérica em Madrid»). Foi preciso recorrer a um meio externo para ler uma descrição de algo que é apontado como um «desígnio» da organização que agrega o futebol profissional português.

A ideia é interessante, sobretudo para este lado da fronteira: quem de entre nós não gostaria de ver os melhores clubes da Península a jogarem entre si com regularidade? Seriam certamente jogos competitivos, mediáticos, com muito público e, claro, receitas. Os benefícios para os clubes portugueses seriam enormes. Para os espanhóis seriam bem mais duvidosos. Afinal, não nos podemos esquecer que a nossa liga é arraia-miúda quando comparada com a espanhola. A atenção que a Liga Ibérica suscitaria do lado de lá da fronteira, bem como em outros territórios, é um mistério pela inexistência de garantias de grande interesse. Por muito que nos fira o orgulho, lá fora, o nosso futebol não é um produto massificado como o espanhol. As maiores marcas do futebol português não jogam o mesmo campeonato das do desporto-rei espanhol.

A vacuidade da comunicação da LPFP abre espaço a muitas questões, como já se tornou claro. Para além das que já enunciei, há ainda outras demasiado óbvias:

(1) No calendário povoadíssimo das formações peninsulares, será possível encaixar uma nova competição?
(2) Tendo em conta a diferença de peso entre clubes portugueses e espanhóis, os sacrifícios a fazer seriam equitativos na hora de ajustar calendários?
(3) E a distribuição das receitas televisivas seguiria que modelo?

Estes são apenas alguns exemplos de dúvidas suscitadas por má comunicação, daquela que nada acrescenta. Ou melhor, que acrescenta confusão. Por um lado, é de louvar que a LPFP produza conteúdos. Por outro lado, é de lamentar que estes não sejam úteis, que criem mais dúvidas do que interesse. A má comunicação cria ruído. Não convém que uma ideia classificada como estruturante seja marcada por uma escusada entropia originada em textos desprovidos de utilidade para os públicos e para a organização.

Este texto é resultado da colaboração semanal entre o Futebol 365 e o blogue marcasdofutebol.wordpress.com. Esta parceria procura analisar o desporto-rei a partir de um ângulo diferente: a comunicação.

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