A comunicação de Benfica e Sporting na luta pelo título

Em abono da verdade não acredito que haja uma estratégia comunicativa definida por parte de Benfica e Sporting para o que resta do campeonato. Seria bom que ela existisse e fosse estruturada, mas, infelizmente, penso que muito daquilo que é feito em Portugal no que toca à comunicação dos clubes é sobretudo fruto do improviso. É uma pena, já que o aspeto comunicacional é cada vez mais essencial num mundo globalizado e com um acesso instantâneo a conteúdos informativos.

No entanto, analisando a comunicação dos dois clubes chegamos a algumas conclusões. No Sporting, a comunicação foi sendo feita de forma diária e provocatória. Os traços de personalidade do presidente leonino ajudam a entender esse registo. Bruno de Carvalho esteve sempre muito presente na comunicação social e nas redes sociais e 70% a 80% das suas mensagens tinham como propósito atacar e provocar o seu principal rival: o Benfica.

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O que se verifica, nesta fase da temporada, é uma maior contenção por parte do presidente dos leões. Bruno de Carvalho já não comunica com a mesma intensidade e regularidade. Esse papel tem sido dado a Jorge Jesus que não se tem feito rogado e tem aproveitado para retomar as suas provocações do início da época ao Benfica – uma frase recente: «Há outros que têm ganho jogos com sorte» – bem como em pressionar os árbitros.

Já tinha escrito, neste espaço, que a incisiva comunicação de Bruno de Carvalho estava a prejudicar o Sporting. Desde que os leões perderam o primeiro lugar do campeonato que se tem vindo a notar uma certa moderação; não deixa, contudo, de ser uma boa estratégia já que tudo aquilo que é comunicado para o exterior tem reflexo a nível interno, principalmente nos jogadores. Se alguém deve comunicar algo, essa pessoa deve sempre ser o treinador.

Já do lado do Benfica a estratégia tem sido quase sempre a mesma: o silêncio. Poucas vezes vemos Luís Filipe Vieira falar ou reagir às provocações dos rivais. Esse papel tem sido desempenhado por João Gabriel.

O presidente das águias já tem experiência suficiente para saber que muito se joga nesta fase da temporada e que qualquer comentário pode vir a ser prejudicial para os objetivos da equipa. Todos se lembram do ano em que o Benfica esteve na corrida para vencer campeonato, Taça de Portugal e Liga Europa e tudo perdeu, por sinal sob a orientação de Jorge Jesus. O presidente encarnado tem a perfeita noção de que a maior força do Benfica é, tantas vezes, também, a sua maior fraqueza, ou seja, a elevada pressão que a ‘nação benfiquista’ coloca na equipa tanto pode ajudar como prejudicar. É por isso natural que, pelos lados da Luz, se queira trabalhar mais do que falar. Uma orientação que se tem vindo a notar desde o início da temporada e tem dado os seus frutos. Afinal, quem vai na frente do campeonato é o Benfica.

Contudo, penso que as próximas semanas serão intensas no que toca à comunicação dos dois clubes. O final do campeonato aproxima-se e a margem de erro de águias e leões é mínima. É bem provável que aumente a pressão sob os árbitros - Jorge Jesus já começou, basta ler a edição do último sábado do jornal ‘Record’ - e o regresso da tensão entre Jesus e Vitória pode também voltar a sentir-se.

A luta desportiva entre Benfica e Sporting está no seu auge e vale um campeonato. Ganhar dentro das quatro linhas pode não ser suficiente e os gabinetes de comunicação podem ajudar a vencer este desafio. Resta-nos esperar para ver o que se vai passar nas próximas semanas e desejar que tudo seja feito dentro do maior respeito profissional. Para agir com o coração já bastam os adeptos!

Este texto é resultado da colaboração semanal entre o Futebol 365 e o blogue marcasdofutebol.wordpress.com. Esta parceria procura analisar o desporto-rei a partir de um ângulo diferente: a comunicação.