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As culturas organizacionais do futebol não gostam de velocidade

Como qualquer organização, um clube desenvolve uma cultura organizacional própria. Uma cultura que, por sua vez, não surge desenraizada dos contextos (históricos, sociais, etc.) de onde emergiu. Muitas das figuras cimeiras do desporto-rei perceberam-no e, por isso, triunfaram mais facilmente.

As culturas organizacionais do futebol não gostam de velocidade

A reestruturação do Manchester United, um clube do Norte industrial de Inglaterra, por Alex Ferguson foi disso exemplo. As vitórias nos últimos minutos, no 'Fergie Time', ou o 'secador de cabelo' refletiam a personalidade do treinador, mas também a cultura de uma região e de um clube. Como muito bem considerou Jorge Castelo ('Futebol. Organização Dinâmica do Jogo', 2009, Edições Universitárias Lusófonas), a cultura organizacional é um dos subsistemas do futebol a ter em consideração.

«O subsistema cultural, do ponto de vista da organização dinâmica do jogo, pressupõe um compromisso de carácter moral e afetivo que recai sobre todos os seus intervenientes», escreveu o autor (p.25).

Ora, este compromisso nem sempre é atingido, estando cada vez mais dificultado pela volubilidade e pelas incongruências de uma modernidade líquida. De um lado, as expectativas e as normas morais que a história edificou e que ainda persistem, sobretudo nos adeptos locais. Do outro lado, as recorrentes mudanças de propriedade, a globalização destas e as diferentes realidades dos muitos jogadores que chegam e partem em pouco tempo. No fundo, a tradição enfrenta a velocidade.

Dito isto, atualmente não é fácil apreender e partilhar uma mesma cultura organizacional. Se há uns já largos anos as expectativas eram óbvias, até porque a maioria dos jogadores eram também adeptos dos clubes, hoje em dia há muitas – e por vezes opostas – vontades. Nunca como agora os atletas foram elevados à qualidade de mitos. Nunca como agora as suas carreiras não dependem apenas do comportamento desportivo (sem nunca o negligenciar, claro está). Nunca como agora as estrelas do futebol estão tentadas a viver no seu próprio mundo.

Há alguns textos referimo-nos a um desses futebolistas, a Mário Balotelli. A recente polémica troca de camisolas ao intervalo, quando o Liverpool perdia por 3-0 em Anfield contra o Real Madrid, é só mais um exemplo de um atleta que simplesmente não encaixa numa cultura organizacional.

A questão é, então, como compatibilizar expectativas e perceções. E parece-me que as marcas podem dar uma ajuda. As marcas, tal como as culturas organizacionais, dependem em muito do capital simbólico partilhado. Mas a grande diferença reside, acredito, na dimensão estratégica das primeiras. Trabalhar a marca de um clube é um passo fundamental para compatibilizar expectativas, já que se trata de gerar e partilhar perceções. No fundo, tenta-se orientar as interações que originam a cultura organizacional para uma ideia estabelecida estrategicamente.

Uma marca bem enunciada é meio caminho andada para que todos percebam ao que vão. Idealmente, os adeptos saberão que o clube reconhece a sua história. E os jogadores e restantes públicos ficarão a conhecer de antemão o que os espera.

Este texto é resultado da colaboração semanal entre o Futebol 365 e o blogue marcasdofutebol.wordpress.com. Esta parceria procura analisar o desporto-rei a partir de um ângulo diferente: a comunicação.

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