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Bloco de Notas: Um balanço de fim de época

Com o aproximar do fim do mês de maio também chegam os inevitáveis balanços da época futebolística. Apesar de ainda haver objetivos para disputar, seja em competições domésticas ou europeias, já não faltam análises sobre o que correu bem e mal na temporada 2014-2015. E este tipo de reflexões pode e deve ter um lugar importante na vida dos clubes, sobretudo quando têm origem no seio da organização. Afinal, teorizar um pouco sobre o que se fez, o que se devia ter feito e o que se quer ser é uma prática essencial para se estabelecer um rumo realista.

Bloco de Notas: Um balanço de fim de época

Este texto é também um balanço, um balanço que parte de três temas abordados este ano, no Futebol 365. Começo por dar a mão à palmatória em dois casos: a reputação da Juventus e a candidatura de Luís Figo à presidência da FIFA.

1- A REPUTAÇÃO DA JUVENTUS

A 28 de fevereiro escrevi, num artigo intitulado 'Um triste momento histórico para a Série A', que «nem mesmo a 'Vecchia Signora' tem mostrado competência para honrar uma liga que já foi fortíssima. Itália já não é a pátria de nenhum dos 'tubarões' do futebol europeu».

Ora, a realidade provou que estava enganado em relação à Juventus. Continuo a considerar que já não é um dos ‘tubarões’ óbvios do futebol do Velho Continente. Ainda assim, a formação orientada por Massimiliano Allegri é um muito forte oponente para qualquer outra equipa europeia e não merece ser desvalorizada. Por exemplo, foi um adversário intransponível para o gigante Real Madrid, como provou na semi-final da Liga dos Campeões.

Para o meu erro de avaliação em muito contribuíram dois aspetos intimamente relacionados. Por um lado, a Juventus não tem a mesma capacidade para atrair os grandes profissionais desta modalidade como clubes como Barcelona, Bayern ou Chelsea. Por outro lado, os ‘bianconeri’ provêm de um campeonato com reputação em queda, o que contamina a forma como olhamos para os atuais campeões italianos. E isto apenas comprova como o contexto é importante para a perceção das organizações, como a comunicação nunca o deve esquecer. Contudo, também convém não ignorar (como fiz) os méritos próprios, mesmo quando estes estão rodeados de outros menores, fora da organização. Compreender esta complexa interação entre o exterior e o interior de uma organização é um dos grandes desafios para quem trabalha a criação de perceções.

2- A CANDIDATURA DE LUÍS FIGO À FIFA

Já no derradeiro dia do mês de janeiro foi o anúncio da candidatura de Luís Figo à presidência da FIFA que ocupou o texto escrito. Esse artigo procurou centrar-se em duas ações concretas de comunicação, não aprofundando a candidatura e o candidato. Ainda assim, sugeri que Luís Figo tinha uma boa reputação no mundo do futebol. De facto, continuo a acreditar que a maioria das pessoas olha para o percurso futebolístico de Figo com respeito. Apenas no que ao desporto diz respeito, há dezenas de grandes feitos contra dois ‘pecados’ (discutíveis, sobretudo o último) que persistem na memória: a transferência falhada para Itália, em 1995, ao ter assinado simultaneamente por Parma e Juventus, e a troca do Barcelona pelo Real Madrid, em 2000. Ainda assim, esses ‘pecados’, que são de conduta, não são de somenos na corrida a um cargo diretivo e, portanto, tinham de ser enfatizados no artigo.

Para além disto, a desistência da disputa do ato eleitoral do próximo dia 29 de maio promete deixar marcas. Porque foi o abandono do mais mediático oponente de Blatter. Porque a justificação dada – a «anormalidade» da eleição – não explica nada e soa a falso. Afinal, do que é que Figo estava à espera frente a um campeão da sobrevivência, como Blatter? Dito isto, se esta quase candidatura foi uma espécie de balão de ensaio para próximos voos, a forma como o ex-internacional português abandonou a corrida à liderança da FIFA pode vir a assombrar as pretensões futuras. Figo comunicou mal a desistência e isto enfraquece a perceção da convicção da vontade. Uma comunicação oca dá origem a um candidato de plástico.

3- A CHEGADA DE BALOTELLI A ANFIELD ROAD

Por sua vez, o terceiro artigo veio a ser confirmado com a passagem do tempo. O texto versou sobre Balotelli e data de 27 de setembro do ano passado. A saída de Luís Suarez deixou um vazio na frente de ataque do Liverpool e uma vaga a preencher necessariamente por um outro grande nome do futebol mundial. A escolha da formação orientada por Brendan Rodgers recaiu na eterna promessa italiana. Uma opção arriscada e que me levou a questionar se Balotelli era «um 'enfant terrible' ainda a tempo de se afirmar?». Sempre duvidei. Como já o tinha feito aquando da ida do ponta de lança do Manchester City para o AC Milan.

Aos 24 anos, Balotelli é um grande conjunto de polémicas fora do campo. Dentro do relvado é apenas um grupo igualmente grande de promessas nunca concretizadas. Nada disto o torna recomendável para ser uma das estrelas de um grande clube. Muito menos de um histórico em fase de reconstrução. Porque o atleta será sempre um foco de instabilidade. Porque Balotelli será sempre mais prejudicial ao grupo do que benéfico. A sua reputação – que insiste em alimentar – é um extraordinário foco de distração para todos os públicos do seu clube. E uma tremenda dor de cabeça para quem tem de apagar os fogos provocados: o treinador, o departamento de comunicação do clube, os colegas, etc..

Para piorar e confirmar este cenário, eis o desempenho futebolístico ao serviço dos ‘reds’: um golo na Premier League, outro na Liga dos Campeões, um na Liga Europa e, por fim, outro na Taça da Liga. Ao todo, Balotelli não jogou sequer mil minutos na Liga Inglesa. Estes são valores demasiado pobres para quem custou, aparentemente, 16 milhões de libras. Não admira que esteja novamente no mercado.

Este exemplo deve ser compreendido por todos: na comunicação como na estruturação de um plantel, não faz sentido centrar a estratégia num milagre eternamente adiado. Uma estratégia sem uma base firme dificilmente pode deixar raízes. Porque não tem sequer presente, quanto mais futuro. A ousadia e o risco são importantes, acrescentam a necessária dose de emoção. Mas não podem passar a fronteira para a ilusão. Caso contrário nunca serão transformados em benefícios para a organização.

Este texto é resultado da colaboração semanal entre o Futebol 365 e o blogue marcasdofutebol.wordpress.com. Esta parceria procura analisar o desporto-rei a partir de um ângulo diferente: a comunicação.

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