Bloco de Notas: O FC Porto de Lopetegui tem duas faces

Mesmo sem os lesionados Maicon e Jackson Martinez, com Bruno Martins Indi e Aboubakar nos seus lugares, o FC Porto fez do Estoril-Praia 'gato sapato', vulgarizando a equipa de Fabiano Soares e Hugo Leal em todos os aspetos do jogo. Foi o quarto jogo ganho por cinco golos contra zero, depois da visita ao Arouca e das receções ao Rio Ave e ao Paços de Ferreira.

Com Oliver Torres a comandar no meio-campo, Ricardo Quaresma endiabrado na ala e uma dupla de centrais muito coesa, o FC Porto jogou 'à campeão', com jogadas de futebol bem construídas e um jogo pensado, por vezes mastigado, mas devidamente controlado. Sempre que necessário, atacou; sempre que necessário, temporizou. Não foi a melhor exibição da temporada. Foi antes a repetição de um rol de boas exibições, que vão acontecendo, curiosamente, diante de equipas que não se sentem bem sem o esférico.

Mas este FC Porto tem uma versão negra. Se esta segunda-feira deslumbrou e deixou boas indicações, tal como aconteceu na maioria dos jogos da Champions League esta temporada, há duas semanas foi uma verdadeira sombra frente ao Nacional, na Madeira. Também no 'Arquipélago Maldito', na última quinta-feira, os dragões perderam com o Marítimo (2-1) e disseram adeus à Taça da Liga.

Se o desaire no Estádio dos Barreiros foi claramente marcado por más opções de Lopetegui, cansaço e até alguma sobranceria, na Choupana o FC Porto acusou claramente a pressão de poder aproximar-se do líder Benfica, que horas antes havia caído em Vila do Conde, frente ao Rio Ave (2-1).

Se por um lado é natural que uma equipa tão jovem como o FC Porto acuse alguma pressão nos momentos decisivos, não parece tão natural a insistência de Lopetegui em mudar o seu onze inicial sem nada o fazer prever. Frente ao Marítimo, na última quinta-feira, não se percebeu a não titularidade de Alex Sandro e Tello, substituídos por José Angel e Hernâni, dado que nenhum dos dois indiscutíveis jogou pela sua seleção.

Além disso, e não menos relevante, Julen Lopetegui tem mostrado algum nervosismo nos momentos em que as coisas lhe correm pior. A eliminação - que pareceu inesperada - nas meias-finais da Taça da Liga, frente ao Marítimo, mostrou alguma dificuldade do espanhol em afinar o discurso.

Se na 'flash interview' não perdeu tempo a atirar-se ao árbitro Carlos Xistra, na conferência de imprensa após o encontro, mais calmo, Lopetegui analisou a partida friamente e sem precipitações.

É por demais evidente que o técnico basco tem seguido indicações internas para assumir uma postura menos tolerante para com a arbitragem nos jogos da sua equipa, de forma a pressionar os homens do apito, quanto a Liga NOS se aproxima rapidamente para o seu término. Contudo, uma análise irrefletida, contínua e repetida até à exaustão pode prejudicar a equipa e tornar a intenção do seu discurso - fazer pressão - num motivo de chacota geral.

A verdade é que, com três pontos de atraso para o líder Benfica e dois jogos complicadíssimos frente ao Bayern Munique, nos quartos-de-final da Champions League, o FC Porto não terá espaço para falhar. Se mostrarem o melhor que já fizeram esta temporada, e com um pouco de sorte à mistura, os homens de Lopetegui poderão chegar à glória. Se, por outro lado, prevalecer o lado mais sombrio, este conjunto de milhões poderá terminar a temporada de forma muito modesta.

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