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Bloco de notas: Os públicos são todos iguais?

Não, não são. A centralidade que esta opinião assume neste texto é tal que me leva a responder imediatamente à questão levantada no título. A necessidade de afirmar que os públicos não são todos iguais tem origem em Inglaterra, mais concretamente em Liverpool. Uma mensagem enviada por dez mil pessoas tem de significar algo. Para os donos dos 'reds' significou.

Bloco de notas: Os públicos são todos iguais?

A história teve amplo destaque na imprensa inglesa, mas também um pouco por toda a Europa. Nos media e nas redes sociais, claro. Afinal, não é todos os dias que se vê dez mil pessoas a abandonar um estádio de futebol em protesto. O motivo? O preço dos bilhetes para a bancada central de Anfield Road, que estariam para aumentar para umas impressionantes 77 libras (cerca de 99 euros)!

A ação dos apoiantes do Liverpool ganha ainda maior dimensão por envolver adeptos de um gigante com uma mística muito singela. Para além da popularidade, a formação agora comandada por Jurgen Klopp vive revestida de uma aura muito própria, em parte originada por símbolos como o seu estádio e o ambiente nele gerado. Essa aura pode ser também designada, sem grandes hesitações, por reputação. Uma reputação que se consubstancia na perenidade dos tais símbolos, todos eles carregados de um significado amplamente partilhado.

De facto, pensar no Liverpool nunca significa recordar (apenas) um qualquer número de títulos conquistados, por muito impressionantes que sejam as cinco Ligas dos Campeões que os 'reds' têm no palmarés, por exemplo. Pensar no Liverpool é pensar em títulos, em Steven Gerrard e no inevitável toque no logótipo do clube que antecede a entrada no relvado de Anfield Road, por exemplo. E, claro, pensar no Liverpool obriga a evocar uma assinatura muito própria, o “You’ll Never Walk Alone” cantado a cada jogo caseiro.

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Ora, após o minuto 77 da partida frente ao Sunderland, na semana passada, o Liverpool andou sozinho, ou pelo menos não tão firmemente amparado pelos adeptos. A ação dos apoiantes causou tanta estranheza como impacto. Poucos dias depois, os proprietários do Liverpool – os norte-americanos da Fenway Sports Group – vieram pedir desculpas num comunicado redigido exemplarmente. Sem meias palavras, os dirigentes reconheceram o erro que estavam prestes a cometer, pediram desculpas e garantiram que a mensagem tinha sido recebida.

Mas a mensagem terá sido recebida por todos os dirigentes de clubes de futebol? Espero bem que sim, ainda que sem grandes esperanças. O protesto e o seu impacto – as imagens tornaram-se virais – representam a materialização de algo que defendo há muito: os clubes de futebol devem promover com particular acuidade a ligação aos seus adeptos. Isto significa que os clubes não podem existir apenas em dias de competição e que os bilhetes ou as receitas não são todos iguais. O empenho é uma variável importante, até porque comporta um maior grau de lealdade. Daí que preservar e alimentar a ligação com aqueles que estão mais próximos da organização desportiva não seja algo que se possa negligenciar.

As libras não são todas iguais. Há libras que, mesmo valendo menos monetariamente, acarretam outro tipo de capital. Para um espetáculo que só é milionário à custa da televisão, ter adeptos empenhados, capazes de criar uma atmosfera única e irrepetível pela sinceridade do apoio e pela proximidade em relação à organização, é um trunfo que não pode ser desbaratado.

Tendo em conta o atual momento desportivo do Liverpool, longe das glórias de outros tempos, o que é que o torna ainda numa marca tão valiosa? A reputação e os seus símbolos, parece-me. Como o ambiente de Anfield Road é um dos mais importantes, preservar este capital deve ser uma prioridade. O mesmo se aplica em todas as organizações desportivas com adeptos e símbolos que não sejam de plástico.

Este texto é resultado da colaboração semanal entre o Futebol 365 e o blogue marcasdofutebol.wordpress.com. Esta parceria procura analisar o desporto-rei a partir de um ângulo diferente: a comunicação.

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