Futebol Moderno: O que é feito dos grandes matadores?

Esta interrogação começou a borbulhar na minha cabeça a meio da semana, quando me deparei com a antevisão de Paulinho Cascavel ao Clássico do próximo domingo entre Benfica e Sporting. O avançado brasileiro, que representou em Portugal o FC Porto, Vitória de Guimarães, Sporting e Gil Vicente disse o seguinte, a propósito das opções atacantes dos leões para baterem as águias no Estádio da Luz.

«O Sporting tem carência de um verdadeiro homem de área, como fui eu, Jardel ou Liedson. Falta ao Sporting e também a muitos clubes do futebol europeu. Resta Radamel Falcao e pouco mais. Há muito avançado que sai da área, que joga mais para a equipa», analisou, em declarações à Rádio Renascença.

Os golos continuam a aparecer. A disposição tática de algumas equipas ou campeonatos dificulta cada vez mais esse objetivo, mas os atacantes também se adaptaram. Jogadores como Cristiano Ronaldo e Lionel Messi estão longe de ser pontas-de-lança tradicionais. Contudo, são verdadeiras máquinas de fazer golos e uma garantia inequívoca de que a sua presença em campo abalará as defesas contrárias. Possuem uma técnica acima da média, velocidade, marcam livres, cantos, assistem e, no caso de Cristiano Ronaldo, ainda sobra uma enorme capacidade de elevação e jogo de cabeça.

Mas porque desapareceram ou estão a desaparecer os tradicionais goleadores? Aquele ponta-de-lança de área, fixo, com forte posicionamento e letal nos últimos metros?

Em primeiro lugar, é fundamental ter em conta que o futebol moderno é cada vez mais exigente. Todos os elementos da equipa precisam de ser disponíveis: para atacar e defender (quem se lembra de Samuel Eto’o a jogar como defesa em Camp Nou, ao serviço do Inter de Milão?). As defesas são mais fortes taticamente e sabem sair a jogar. É preciso pressionar desde o primeiro terço do terreno. As equipas adversárias são estudadas ao mais ínfimo pormenor e com métodos evoluídos. Sim, pormenor. É esta a palavra-chave.

Um ponta-de-lança tradicional não o consegue fazer. Esse tipo de ponta-de-lança espera pela bola no lugar de a procurar, torna-se um elemento inativo quando a equipa está em manobra defensiva e, a sua utilidade nesse aspeto, verifica-se apenas nos lances de bola parada. O ‘tiki-taka’ do Barcelona mostrou que este tipo de jogador é dispensável e, mesmo as equipas sem tanta mobilidade atacante, começaram a possuir avançados no lugar de um ponta-de-lança. São exemplos desta tendência Cristiano Ronaldo, Lionel Messi, Carlos Tevez, Sergio Aguero, Karim Benzema, Van Persie, Wayne Rooney, Luís Suarez, David Villa e muitos outros.

No futebol moderno identifico três pontas-de-lança com lugar garantido nas suas equipas, embora sejam já moldados com uma atitude mais móvel: Radamel Falcao, Zlatan Ibrahimovic e Edinson Cavani. Mario Gomez e Edin Dzeko têm sido relegados para segundo plano nos emblemas que representam, enquanto nomes como Adebayor e Higuain vão aparecendo. Fernando Llorente é figura no Atlético de Bilbau, mas longe da ribalta do futebol mundial.

O futebol moderno evolui à velocidade da luz e jogadores com caraterísticas muito específicas são cada vez menos apreciados. O central ‘passa o homem, fica a bola’, o trinco ‘alicate’, o médio ‘destruidor’, o extremo puramente ‘ciclista’ e o avançado ‘pinheiro’ têm cada vez uma maior dificuldade para se imporem. É preciso saber fazer um pouco de tudo. E quem não o consegue pode ficar para trás. Talvez por isso, jogadores como Óscar Cardozo, por mais golos que marquem, parecem nunca convencer.

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