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«Fair-play» financeiro é indispensável e urgente, mas acarreta riscos

O “fair-play” financeiro imposto pela UEFA partir de 2013/14 é “indispensável” e “urgente”, mas comporta riscos e apresenta ainda “arestas por limar”, como as sanções a impor aos clubes incumpridores, defendem responsáveis do futebol nacional e internacional.

«Fair-play» financeiro é indispensável e urgente, mas acarreta riscos

As principais consequências da “regra de ouro” – os clubes não podem gastar mais do que as receitas que geram – devem passar pela redução considerável dos valores das transferências e da massa salarial de jogadores e treinadores, mas encerram também a possibilidade de deflação naquele mercado e até do agravamento da economia paralela.

“O princípio fundamental é que os clubes vivam de acordo com as suas possibilidades. Isto não quer dizer que não possam ter dívida e que os clubes tenham de ter lucro. Quer dizer que sejam sustentáveis e que tenham equilíbrio orçamental”, disse à agência Lusa Emanuel Medeiros, diretor-executivo da Associação das Ligas Europeias de Futebol Profissional (EPFL).

Para Emanuel Medeiros, o “fair-play” financeiro que a UEFA vai impor a partir de 2013/14, apurado com base nos resultados das contas das duas épocas anteriores (a atual temporada e a de 2012/13), é uma medida “urgente e indispensável para garantir a sustentabilidade do futebol e dos clubes em particular”.

O dirigente português da EPFL exemplificou com as receitas globais dos clubes que participaram nas competições europeias em 2009/10, as quais ascenderam a 11,7 milhões de euros, mais cinco por cento que na época anterior, mas observou que o agravamento dos custos atingiu quase o dobro desse valor, com um total de nove por cento de aumento.

“Dos 232 clubes participantes, 56 por cento reportaram prejuízos líquidos. A responsabilidade por essa espiral inflacionista deve-se aos gastos com pessoal. A massa salarial e as despesas relacionadas com as transferências de jogadores e até treinadores são a principal fonte de canibalização das receitas dos clubes e dos passivos que têm vindo a avolumar-se”, advertiu.

O presidente do Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol (SJPF), Joaquim Evangelista, não tem dúvidas de que “os clubes vão ter de reduzir a massa salarial” e que é preciso os agentes terem “consciência de que as comissões vão reduzir-se, que não há liquidez no mercado, que as receitas vão reduzir-se e que a sponsorização vai diminuir”.

Apesar de se mostrar favorável, o presidente do Lyon, Jean-Michel Aulas, alertou durante o Congresso do Futebol, realizado há um mês em Cascais, que a provável saída de patrocinadores e a limitação imposta aos clubes com capacidade para investir vai condicionar fortemente o mercado de transferências.

Segundo o proprietário do clube francês, a diferenciação nos valores dos direitos televisivos acentuará, por outro lado, os desequilíbrios entre os clubes dos países “ricos” e “pobres”.

A imposição de um limite máximo de cinco milhões de euros de desvio orçamental a partir de 2013/14 (que poderá ser superior se forem contabilizados investimentos em infraestruturas ou no futebol de formação) vai, de acordo presidente da Associação Nacional de Agentes de Futebol, “tornar ainda mais difícil a gestão de clubes que já estão asfixiados por despesas e dívidas do passado”.

Menos pacífica será a eventual introdução de um teto salarial, que Artur Fernandes considerou “um convite à clandestinidade”, uma vez que “no dia em que Lionel Messi ou Cristiano ficarem livres [dos contratos com FC Barcelona e Real Madrid], certamente que os 12 ou 15 milhões que ganham por ano vão continuar a ganhar, independentemente de existir um teto de 10, de nove ou de oito”.

“Não me parece que se deva interferir diretamente na gestão dos clubes. Deve-se é criar leis que permitam ao clube ter alguns cuidados na sua gestão, nomeadamente de não gastar mais do que as suas receitas. Há jogadores de um milhão de euros que são extraordinariamente caros e há jogadores de 10 milhões que saem mais baratos porque dão muita rentabilidade, quer desportiva, quer financeira”, observou Artur Fernandes.

O principal foco de discórdia poderá contudo surgir relativamente às sanções a aplicar aos clubes incumpridores, uma das mais importantes “arestas a limar” ao diploma da UEFA, na opinião de Emanuel Medeiros: “O que se pode antever é que haverá um catálogo de sanções que pode ir da repreensão até a exclusão das competições europeias. Esta discussão ainda está em curso”, assinalou.

“Em Portugal, o ‘fair-play’ financeiro é desejável e é urgente, porque há um sentimento de impunidade e de que em função dos resultados tudo vale. Vai abrir o mercado [de transferências] em janeiro e vai ver-se o folclore que vai ser de viagens para o Brasil e para a Argentina, de clubes que não tem capacidade para pagar salários”, lamentou Joaquim Evangelista.

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