loading

Bloco de Notas: Dunga e a revolução adiada do Brasil

Após a dolorosa participação no Mundial-2014 que terminou há semanas, o Brasil pediu uma revolução. Com os desastrados jogos frente à Alemanha (7-1) e à Holanda (3-0), o futebol brasileiro clamou por uma mudança estrutural. Esta ambição foi até abordada no nosso último texto. No fim de contas, havia algo unânime: era preciso mudar. E a mudança tinha de ser um verdadeiro salto em frente.

Bloco de Notas: Dunga e a revolução adiada do Brasil

A sucessão de Luís Felipe Scolari foi amplamente debatida. A vontade de inverter os acontecimentos era tanta que até se chegou a aventar a possibilidade de se contratar um técnico estrangeiro. Mais uma vez, era a ideia mudança que unia todos os discursos. E qual foi a resposta da Confederação Brasileira de Futebol (CBF)? Contratar o antecessor de Scolari.

Dunga comandou a selecção brasileira no Campeonato do Mundo da África do Sul, em 2010. O antigo médio-defensivo chegou à competição com crédito. Em 2007, por exemplo, tinha-se sagrado campeão sul-americano de seleções, ao bater a eterna rival Argentina por uns contundentes 3-0. Ainda assim, a participação no Mundial-2010, na África do Sul, foi uma desilusão. O Brasil foi batido nos quartos-de-final pela Holanda (2-1). O resultado não foi um desastre equivalente às duas últimas partidas do escrete. Mas se atentarmos na crónica do jogo do portal UOL encontramos um relato que tem tanto de surpreendente como de familiar.

Nas palavras de Alexandre Sinato, Bruno Freitas e Maurício Stycer, «a Copa do Mundo acabou para o Brasil. E pela segunda vez seguida nas quartas-de-final. Dunga recuperou o brio que faltou à equipe de 2006, mas foi pouco. Vontade não basta para ser campeão. A seleção fez um primeiro tempo empolgante, mas um segundo tempo patético, repleto de erros infantis e descontrole emocional». (Brasil perde a cabeça após gol e é eliminado pela Holanda na Copa do Mundo, copadomundo.uol.com.br). A segunda parte da selecção brasileira foi uma espécie de prelúdio à participação no Mundial-2014. E isto pode indiciar uma tremenda confusão de conceitos na CBF.

Como já dissemos, Dunga foi um trinco. Ao contrário do que é habitual nos jogadores brasileiros, em Dunga pontificava um futebol duro, não artístico. E esse espírito guerreiro chegou ao Brasil de 2010. Por isso muitos o apelidaram de chato. Como dissemos no texto anterior, o Brasil não pode abdicar do futebol alegre. É a sua vantagem competitiva sustentável. É aquilo que os seus públicos esperam. Tem é de o enquadrar, potenciando-o, num jogar coletivo.

Ora, o que a escolha de Dunga parece indiciar é que a grande lição aprendida pela CBF é algo terrivelmente redutor: o futebol anárquico dos craques já não resulta, é preciso voltar a mostrar os pitons aos adversários. Se não dá para jogar bonito da única maneira que sabemos, jogamos feio. A organização – aquilo de que o Brasil mais precisa – não foi um traço distintivo da primeira passagem de Dunga pela canarinha. Porquê esperar algo diferente agora, perguntarão os adeptos.

No fim de contas, a CBF mostra ser uma organização com difícil capacidade de empreender a mudança. Está demasiado presa a lógicas do passado. E esta percepção pode comprometer a necessária evolução que qualquer organização tem de conseguir fazer para sobreviver no topo.

Este texto é resultado da colaboração semanal entre o Futebol 365 e o blogue marcasdofutebol.wordpress.com. Esta parceria procura analisar o desporto-rei a partir de um ângulo diferente: a comunicação.

Siga-nos no Facebook, no Twitter, no Instagram e no Youtube.

Relacionadas

Para si

Na Primeira Página

Últimas Notícias

Notícias Mais vistas

Sondagem

Quem será o próximo presidente FC Porto?