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O programa da TVI24, na linha do que foi o Mais Transferências, tem de ser encarado com grande interesse por quem se dedica à gestão da comunicação dos clubes. No Mais Bastidores fala-se muito pouco do jogo, mas muito do que o antecede. Sejam rumores ou verdadeiras fugas de informação, aquilo que sai de um programa que chega a ter duas emissões diárias pode ter consequências no quotidiano de um clube e, portanto, nas perceções existentes à volta deste.
As edições mais longas do Mais Bastidores chegam a ultrapassar os 60 minutos de duração. É muito tempo para preencher com conteúdos, daí que o programa misture informações únicas com a reprodução de notícias de outros meios. Ambas merecem atenção, nem que seja pela tremenda amplificação que um programa de televisão em horário nobre garante. Ainda assim, as primeiras são as mais relevantes, até porque são simultaneamente uma ameaça e uma oportunidade.
Os três comentadores do programa têm um passado ligado ao jornalismo desportivo. Todos eles tiveram a oportunidade de criar e estreitar laços com fontes dos clubes. Por isso, conseguem ter acesso a algumas informações privilegiadas. Os comentadores e as fontes estabelecem um jogo, sobretudo se as últimas forem profissionalizadas: ambos querem ganhar; uns pela possibilidade de difundir uma ‘cacha’, outros pelo condicionamento que provocam ao definir o que é dado a ver ao público.
É neste facto que reside a simultânea oportunidade e ameaça: o Mais Bastidores é uma oportunidade para fazer spin ou sofrer as consequências de quem o faz. Tudo se resume à capacidade de enquadrar o que é relatado pelos comentadores do programa, de conquistar a confiança destes.
Que ninguém duvide: muitas das informações que saíram do programa da TVI24 procuraram trabalhar a reputação de alguém, ferir um rival ou testar a reação dos públicos. Outras, claro, surgiram pela facilidade que os comentadores têm em mover-se nos bastidores do futebol.
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O Mais Bastidores, por ser diário, por ser transmitido em horário nobre num dos mais importantes canais da televisão por subscrição, trouxe uma mudança das regras do jogo, mostrando que este é agora bem mais complexo. Há alguns anos seria impensável um programa deste género, desde logo porque tudo estava bem compartimentado. Havia os programas de informação e os de opinião. A divulgação de informação de fontes não identificadas era bem mais cautelosa, sobretudo se se tratasse de meras opiniões. Mas hoje isto já não acontece. A flexibilidade e a permeabilidade dominam.
O Mais Bastidores é sintomático da realidade comunicacional existente. Mesmo na chacota de que é alvo nas redes sociais. Tem tanto de popular como de criticável. Para uns é um guilty pleasure, para outros é a verdadeira novela da noite. Para quem trabalha a comunicação é mais um trabalho impreterível e particularmente difícil.
Este texto é resultado da colaboração semanal entre o Futebol 365 e o blogue marcasdofutebol.wordpress.com. Esta parceria procura analisar o desporto-rei a partir de um ângulo diferente: a comunicação.
