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Covid-19: Autoridades fecham mercados de Maputo para reorganizar, vendedores queixam-se

Alice Cecília, 60 anos, vende roupas no mercado Xipamanine há mais de 30 anos para sustentar a sua família, mas hoje, com a suspensão das atividades devido à covid-19, teme pelo futuro do seu pequeno negócio.

Covid-19: Autoridades fecham mercados de Maputo para reorganizar, vendedores queixam-se

Com a pequena banca de roupas quase à porta da sua casa, foi sempre na azáfama de um dos mercados mais famosos da capital moçambicana que Dona Alice garantiu sustento dos seus oito filhos, uma atividade que hoje é ameaçada pelo novo coronavírus.

No âmbito das medidas de prevenção contra o novo coronavírus, o Conselho Autárquico decidiu encerrar temporariamente os 63 mercados da capital moçambicana e o Xipamanine é o primeiro.

No interior do mercado, técnicos do Conselho Autárquico de Maputo delimitam novos espaços para os vendedores, uma medida que vai servir para garantir o distanciamento social no mercado Xipamanine, que deverá estar encerrado por três dias.

O "negócio é o sustento da minha família e de muitas outras", declarou a vendedora, que acrescenta que o comércio informal naquele lugar começou em 1970, cinco anos antes da independência do país.

"É preciso colocar as pessoas noutros sítios, não as podem tirar de qualquer maneira, tem de haver um lugar para que também possam sustentar as suas casas. Eu tenho sete filhos, oito netos e um bisneto, todos dependem disto", acrescentou.

Tal como Alice Cecília, foram muitos os comerciantes que se fizeram ao mercado hoje temendo perder o seu sustento, logo nas primeiras horas do dia, mesmo com o frio típico deste período em Maputo.

Em vários grupos, os comerciantes estiveram nos arredores do mercado com visível receio de perder as suas bancas, sob olhar atento da Polícia da República de Moçambique que cercou o local, impedindo a entrada das pessoas.

"Eu tenho medo do coronavírus, mas esta doença veio aqui para ficar. Tenho medo sim, mas os meus filhos não têm nada para comer", conta à Lusa Neusa Gazito, outra vendedora informal.

Neusa Gazito, 33 anos, é viúva e tem quatro filhos, todos dependentes da sua pequena banca no meio do Xipamanine.

"Hoje não tenho nada para cozinhar porque eu dependo daqui", lamenta a comerciante, que critica a suspensão temporária dos mercados.

Em declarações à Lusa, o chefe da Comissão do Mercado Informal do Xipamanine, Vasco Massingue, esclareceu que os vendedores não serão retirados das suas bancas, acrescentando que o objetivo do município é salvaguardar a saúde dos comerciantes.

"Estamos aqui a demarcar para garantir o distanciamento social uma vez que a pandemia já está em Moçambique e no mercado as pessoas estão sempre aglomeradas. Para que não haja aglomeração vamos alargar o espaço, não é para tirar a ninguém, mas organizar o mercado", declarou Vasco Massingue.

No total, o Conselho Autárquico de Maputo conta existirem 7.724 comerciantes no mercado Xipamanine e, deste grupo, alguns terão de sair para outros mercados como forma de garantir o distanciamento, segundo Vasco Massingue.

"Temos estado a sensibilizar as pessoas todos os dias no sentido de cada um ficar na sua banca, usar a máscara e não vender produtos a quem não tenha máscara, não permitir que crianças circulem pelo mercado vendendo água e outros produtos", acrescentou.

Moçambique conta com 583 casos de covid-19, três óbitos e 151 recuperados.

O país vive em estado de emergência desde 01 de abril, prorrogado por duas vezes até 29 de junho.

Estão em vigor várias restrições: todas as escolas estão encerradas, espaços de diversão e lazer também estão fechados, estão proibidos todo o tipo de eventos e de aglomerações, recomendando-se à população que fique em casa, se não tiver motivos essenciais para tratar.

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