O Senado brasileiro criará uma Frente Parlamentar que continuará a acompanhar a gestão da pandemia feita pelo Governo de Jair Bolsonaro, recebendo novas denúncias e monitorizando as ações das autoridades, revelou hoje à Lusa um senador.
De acordo com Otto Alencar, senador brasileiro que integra a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que ao longo de seis meses investigou alegadas falhas e omissões do Governo brasileiro na gestão da covid-19, será criada uma nova Frente Parlamentar que funcionará como um "observatório da Pandemia".
"Vamos criar uma Frente Parlamentar para acompanhar a situação da pandemia, porque a doença ainda vai conviver connosco no próximo ano. Os casos da covid-19 estão a diminuir, mas 2022 vai ser um ano em que continuaremos a usar máscaras de proteção, porque a covid-19 não vai apanhar num avião e voltar para a China, como disse Bolsonaro", afirmou à Lusa o senador.
Segundo Otto Alencar, a Frente Parlamentar deverá começar a atuar após o final da CPI da pandemia e "pressionará" o Governo de Bolsonaro por ações de combate à doença.
"No ano que vem, é preciso comprar vacinas, dar suplementação orçamentária para os Estados, internar os pacientes e esperar que uma dose de reforço de imunizantes comece a ser dada a todos os brasileiros em 2022", explicou.
"A Frente Parlamentar funcionará como um observatório para acompanhar as ações do Ministério da Saúde a partir de 2022. A pasta vai comprar vacinas suficientes? Se não comprar, nós vamos denunciar. Vai comprar medicamentos para ter nos hospitais? Vai fornecer kits de entubação? Nós vamos acompanhar. Então, é importante que o Governo tome providências. Se não pressionarmos o Bolsonaro, ele cruzará os braços", avaliou Alencar.
Além disso, a proposta pretende manter um canal aberto para novas denúncias sobre a condução da pandemia no país. A partir delas, a Frente também poderá sugerir iniciativas legislativas para corrigir falhas de gestão da saúde pública.
Caso seja efetivamente criada, a Frente Parlamentar da Pandemia será a 16.ª instalada no Senado brasileiro.
O senador Otto Alencar, um forte critico da atuação do Governo brasileiro durante a crise sanitária, acredita que o chefe de Estado teve "culpa" nas mais de 600 mil mortes que o país acumula e espera que seja responsabilizado.
A CPI da Pandemia apresentará hoje o seu relatório final, que contém mais de 1.000 páginas e que resultou de uma investigação que se prolongou por seis meses no Senado do Brasil.
Desde a sua instalação, a comissão recolheu indícios de inúmeras irregularidades, que vão desde a defesa de fármacos ineficazes contra a doença por parte do Governo, até possíveis casos de corrupção na negociação de vacinas.
"Iremos apresentar um relatório bem consistente. Nós temos todas as provas. Temos áudios, vídeos, e-mails, mensagens, quer do Presidente, quer de todos os envolvidos. O que não falta nesse relatório são provas consistentes e robustas. Muitos dos crimes foram cometidos pelo próprio Presidente e seus auxiliares", disse o senador.
Nesse sentido, e tendo em conta a avaliação que faz da gestão do atual Governo, o parlamentar considera "quase impossível" a reeleição de Bolsonaro em 2022.
"Acho que será muito difícil a reeleição. Bolsonaro está isolado, nem partido ele tem. Perdeu muito eleitores, então acho que muito difícil ser reeleito Presidente em 2022. É quase impossível, na minha visão", argumentou.
O Brasil é o país lusófono mais afetado pela pandemia e um dos mais atingidos no mundo, totalizando 603.855 óbitos e mais de 21,6 milhões de infeções pelo novo coronavírus.
A covid-19 provocou pelo menos 4.902.638 mortes em todo o mundo, entre mais de 241,03 milhões de infeções pelo novo coronavírus registadas desde o início da pandemia, segundo o mais recente balanço da agência France-Presse.