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Sporting: Com souplesse te devoro à bruta

Artigo de opinião de Gil Nunes.

Sporting: Com souplesse te devoro à bruta
Futebol 365

Marcar. Devorar. O leão aposta muito na componente ofensiva e no esmagamento rápido dos adversários de menor potencial. Chegar, ver e rugir. E tal até se sobrepõe a um conjunto de dificuldades no miolo, que se agudizam com a saída temporária de Morata e a sua intrínseca capacidade de controlar os ritmos do jogo. O relógio. No entanto, se há que levar com a sofreguidão do jogo, que assim o seja. Que a lei do mais forte impere. Até porque o Sporting conta nas suas fileiras com um tal de Gyokeres, que é um jogador diferenciado de todos os outros. E o craque da liga até ao momento.

Mas não é só nos controlos dos ritmos de jogo que a debilidade bate à porta. Aliás, os dois golos sofridos diante do Vizela são sintomáticos desse mesmo microuniverso de imperfeições: por um lado a “hipnose” que se desencadeou no seguimento dos próximos capítulos de um lance de bola parada, que colocaram os avançados do Vizela em supremacia e os defesas do Sporting em apuros a tentarem recuperar as marcações; depois, mais um lance em que os adversários bateram Coates – nas suas costas ou então no compulsivo e precipitado impedimento de tal cenário – o que naturalmente acentua outros problemas a reboque.

As virtudes pontificam no andar de cima. Na linha ofensiva. Curiosamente, o lance do primeiro golo de Gyokeres define o avançado sueco quase a régua e a esquadro. De forma algo atabalhoada mas com muito poderio físico e sem aquele “souplesse” que às vezes é necessário num avançado “world class”, certo é que Hugo Oliveira, defesa do Vizela, nem sequer ousou fazer-lhe frente: a rotação foi de tal forma rápida e “bruta” que não havia outra solução que não a de rezar que o remate não tivesse tido o êxito que teve. Eis Gyokeres.

Sim, porque esse é o ponto fraco de Gyokeres: sem ser propriamente tosco (o que é fantástico) também não é refinado. Nem finaliza com aquele toque maroto de quem adivinha a zona de finalização um segundo antes que todos os outros. Positivamente, leve e levemente à bruta. E sem souplesse. Mas, na realidade, cria que se farta e a sua robustez física faz com que tenha capacidade para aproveitar aquilo que cria. Atirando a contar: então se o remate for com força máxima tanto melhor. Fica logo resolvido.

Aliás, o próprio “falhanço do ano” protagonizado por Gyokeres – em que atira à barra a escassos centímetros da linha de golo – é um retrato indireto e fiel das suas próprias características. Mas o que importa referir é que todo o seu perfil – no seu desiderato de atributos e vulnerabilidades – representa algo de excentricamente diferente em relação ao que se encontra na liga portuguesa. No fundo, nem é uma questão de ser o melhor nem de poder não o ser. Trata-se, isso sim, da constatação de que o diferente pode ser bem mais benéfico do que o otimizado, se assim a raiz do contexto o permitir. Como Rúben Amorim tem construído num trabalho de adaptação que já vem desde o último terço da temporada passada.

Diante do Vizela, como já tinha acontecido anteriormente, destaque também para a explosão de Francisco Trincão. Um jogador de elevado potencial e, neste caso, a viragem da bússola da subtileza para sul. Ao contrário de Gyokeres, a Trincão não lhe falta souplesse: se os cruzamentos foram sempre bem medidos e meticulosamente definidos para o finalizador em específico, as suas características também aportam ao Sporting algo de diferente em relação a Edwards: a capacidade de decisão e assistência em contexto de espaço “livre”, o que contrasta com a maior propensão do inglês para o drible curto e assistência precisa no turbilhão de um espaço mais povoado. No fundo, trata-se de mais uma situação de complementaridade num Sporting que vai passando todos os pequenos testes com a clarividência de quem tem o chip “conquista da liga” devidamente instalado e calibrado. Mãe das prioridades.

As bolas paradas podem, contudo, representar um problema mais saliente. Se não é admissível (claro que os descontos são sempre uma justificável atenuante) que João Neves finalizasse ao segundo poste no derby, também se deve assinalar o marcador o lance do primeiro golo dos vizelenses. Com a imponência ou permissividade do guarda-redes (não tendo culpa direta é certo) a também entrar no ficheiro da análise: porque, acima de tudo, o Sporting não pode ser enfeitiçado para depois sofrer um golo de cabeça relativamente fácil – posicionamento deficitário dos centrais e falta da devida articulação com Ricardo Esgaio.

Às portas da “final four” da Taça da Liga, a tónica emocional esteve presente em todos os minutos. Em condições normais o Sporting teria vencido o jogo, mas a prioridade passava mesmo por extinguir em pleno as probabilidades de algum imponderável acontecer. Pelos três pontos em si. Sim. Mas também porque nada como entrar na Taça da Liga com a “souplesse” de quem é líder da liga, marca que se farta e com aquele estatuto de rei de selva que faz os outros temerem-nos. E, mais do que vencer, tornar o Vizela em presa fácil deu um jeitaço daqueles.

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