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Benfica: O homem que corrigia demais

Artigo de opinião de Gil Nunes.

Benfica: O homem que corrigia demais
Gonçalo Flores Semedo / Futebol 365

Que é melhor corrigir do que deixar o erro exponenciar-se, lá isso é verdade. E que a estratégia, o bluff e a leitura do adversário fazem parte do jogo, tal também é inequívoco e ninguém pode nunca ter 100% de certeza sobre o que vai na cabeça do técnico contrário. No caso do Benfica, contudo, a questão é outra: o facto de possuir o melhor plantel da liga faz com que tenha superioridade permanente nesse jogo de póquer, pois são os adversários que têm de inventar e colecionar nuances para contrariar o natural rumo da lei do mais forte.

Nem tudo é assim tão linear nem se pretende replicar no terreno de jogo a história de David e Golias. Mas a questão é que Schmidt passa demasiado tempo a corrigir. Dois exemplos: se, diante do FC Porto na Supertaça, foi necessário retirar Musa da cartola para dar uma referência de ataque à equipa, frente ao Vitória de Guimarães o dilúvio pedia algo de diferente do que o ataque móvel que iniciou a contenda na cidade-berço. E aí não foi a tempo da vitória.

Aliás, a opção pelo ataque móvel é bastante discutível por duas razões: em primeiro lugar porque o Benfica tem opções de sobra para a frente de ataque e a desculpa de que não há Gonçalo Ramos já não cola; depois, porque é demasiado perigoso retirar uma referência fixa da frente de ataque, sobretudo quando a equipa tem sempre um maior número de soluções individuais do que os todos os demais adversários da liga portuguesa, isto já para não referir os adversários que o Benfica enfrenta e enfrentou a nível europeu.

Ora, se já é sabido que a “casa de máquinas” do Sporting pontifica na linha defensiva, importa é condicioná-la. Sempre com o ficheiro aberto de que deve ser também o adversário a nos condicionar. Porque somos mais fortes. Agora, claro está, para tudo na vida tem de haver um equilíbrio: para além de não se ter qualquer tipo de referência ofensiva, também não ajuda ter em campo três jogadores com fraca predisposição defensiva – Di Maria, Rafa e Neres, o que acarreta uma natural superioridade ao adversário na altura da transição ofensiva – o que, no caso do Sporting, é um handicap brutal.

Mas o dérbi trouxe outro fator primordial: os duelos físicos. É certo que João Neves faz “das tripas coração” e consegue ganhar duelos à partida inimagináveis para alguém do seu arcaboiço. Mas ter Neves e João Mário na mesma parcela de terreno de Hjulmand e Morita é suicida. E tal se contrariou na segunda metade com a chamada do “faz-tudo” Aursnes para compensar as contas. Não ficou tudo resolvido, mas sempre deu para se garantirem os equilíbrios necessários.

Tal como a entrada de Tengstedt em jogo. Mais vale tarde do que nunca. Até porque o jogo pedia o norueguês de início. Ora, se os centrais do Sporting são exímios na construção e se os leões baseiam o cérebro do seu jogo nesse setor em específico, é pertinente ter em campo o avançado que melhor desempenho apresenta em termos de pressão da linha defensiva contrária. Ou seja, mais do aquilo que Tengstedt jogou, importa ressalvar aquilo que ele condicionou. E, claro está, equipa condicionada no seu ponto nevrálgico tem influência sistémica: meio-campo tem de recuar para vir buscar jogo e, naturalmente, o ataque não tem focos de alimentação tão frequente.

Ladina foi também a colocação de Di Maria no flanco esquerdo. Porque, se o argentino é de top, mais vale colocá-lo na zona onde a mossa poderia ser maior. De tal forma que Rúben Amorim teve de colocar em campo Esgaio (bem mais útil do que aquilo que parece) para estancar a pequena hemorragia. Seja como for, o cerne da questão Benfica reside na reação à intempérie. E não na prevenção ou, por outras palavras, na definição de um estatuto de força que faça com que o adversário fique condicionado antes de entrar em campo. Que não acontece.

Do ponto de vista individual, o Benfica vai registando algumas unidades em sub-rendimento. Otamendi. O prematuro amarelo condicionou, mas os problemas de posicionamento mantém-se. E agudizam-se. Leo Jabá na Amadora e grande penalidade diante do Inter só para dar alguns exemplos prévios. Sempre em esforço, às vezes até de forma espetacular, certo é que o rendimento do argentino tem deixado a desejar, e não foi só pelo golo de Gyokeres. Ainda por cima quando o Benfica dispõe de Morato que, para além de ser extremamente competente, é esquerdino e pode aportar novas soluções em termos de primeira fase de construção, situação que é vital numa equipa grande.

Em jogo de Taça de Portugal, a duas mãos, também se joga a montante. Com a competição em si e com as demais competições, para que nada fique desequilibrado. E há a componente emocional: com visitas a Alvalade e ao Dragão, os tempos são de resposta. E de teste. Porque, este ano, a liga portuguesa impõe outro tipo de desfecho: a receita da laranja espremida até ao limite, que foi triunfante na temporada passada, desta vez não chega. Schmidt ou prova o que vale ou o seu capital de confiança ficará seriamente comprometido. O Benfica vale mais.

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