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Portugal: Martinez escolheu bem

Artigo de opinião de Gil Nunes.

Portugal: Martinez escolheu bem
Federação Portuguesa Futebol

Roberto Martinez já tinha garantido que a convocatória para o euro não seria revolucionária e cumpriu. Depois, há também um fio condutor que deve ser ressalvado: o ADN ofensivo de Portugal é para manter, sobretudo num grupo do europeu onde a equipa das quinas desempenha, de forma inequívoca, o papel de Golias. O papel de dominador. E sem espaço para o David desta história falar georgiano, turco ou checo.

Acima de tudo, fala a voz da experiência de quem já foi selecionador da Bélgica e está vacinado para este tipo de situações. Ora, se Portugal for avassalador nestes três primeiros jogos, é provável que adquira o estímulo emocional para se impor no resto de uma caminhada que, de uma forma muito segura, estará composta por lesões, castigos e necessidades de repouso e de tempos de recuperação.

Sendo que este tsunami também afetará Portugal. E, na ótica de Martinez, a turma das quinas nunca poderá dar uma cambalhota radical: de ofensivo a conservador nunca na vida, porque se França e Espanha são tubarões, não há nenhuma razão (escassez de talento) para que Portugal não deixe de habitar esse oceano. Com ajustes, é certo.

Um aspeto que salta logo à vista nas contas de Martinez é a inexistência de um centrocampista propenso ao terramoto. À transição ofensiva violenta: Renato Sanches (menos provável) ou então Matheus Nunes. De oceanos falando, os mesmos jogadores até poderiam ser úteis dentro de um cenário de maior contenção que não vai existir por si, de acordo com o pensamento de um selecionador que está absolutamente virado para a componente de posse, mais ofensiva. Venha quem vier.

É certo que pode existir o contra-argumento: os dois nunca na vida, mas não haveria um espacinho para um deles? Mas aqui também a resposta: com os laterais, Pedro Neto, Leão, Diogo Jota, e mesmo um meio-campo que não é propriamente “pastelão”, será que a falta de um terramoto não pode ser devidamente maquilhada? Se calhar, sim. Foi por aí.

Do lote dos convocados há dois nomes que despontam não como surpresas, mas como confirmações que sobressaíram dentro de um natural universo de dúvidas. O primeiro desses nomes é o de Francisco Conceição. Por aí a razão aponta para o produto diferenciado. O dito “espalha-brasas”.

A capacidade de desequilíbrio que aporta em situações de duelo individual é muito difícil de encontrar e pode ser fundamental quando o jogo pedir uma maior dose de penetração no último terço ou, então, quando houver a possibilidade de se transplantar uma dinâmica muito utilizada pelo FC Porto nos seus jogos: a atração estratégica para o flanco esquerdo com rápida variação de flanco e criação de clareiras providenciais. Para o talento de Francisco Conceição fazer o resto.

Seja como for, analisar Francisco Conceição é respeitar o “espalha-brasas” e o seu contrário. A transição defensiva. Diante da Eslovénia, o jovem extremo até nem teve um dia muito inspirado, mas esteve irrepreensível nesse aspeto específico do jogo, algo que terá pesado também nas contas finais de Martinez. Porque os estágios contam. E muito! E por duas razões: como antecâmara e laboratório da concentração final, porque se um jogador se desleixa em estágio também acarretará dúvidas num contexto de prova dos nove; depois, por uma questão de integração de grupo e de consolidação de um espírito de equipa que, não correndo o risco de ser um novo “Saltillo”, nunca poderá ser desarmonioso.

E foi no estágio que Nélson Semedo também conseguiu o seu bilhete. Diante da Suécia, sobretudo, com a exploração de uma característica particular do jogo: recuo estratégico da equipa para zonas mais baixas e consequente atração do adversário para exploração precisa dos flancos através de lançamentos longos. Frente à Suécia, Nelson Semedo não se limitou a passar no teste como também a ser o melhor da turma e a garantir uma fiabilidade que não pode ser desperdiçada.

Porque as vitórias, principalmente neste tipo de competições, se definem neste tipo de detalhes que, no fundo, não o são. São, isso sim, a chave de tudo. E veja-se que o próprio movimento que originou o golo de Éder tinha sido executado vezes sem conta no Lille. Afinal de contas uma seleção pode, e deve ser, um somatório de excelentes exemplos trazidos dos clubes. Nenhum mal há nisso. Até porque nenhuma equipa se faz num só mês. Há positiva e compreensível necessidade de transplante tático.

Se os guarda-redes são indiscutíveis e a zona central da defesa também era previsível – cinco centrais (sempre com um central esquerdino) são justificáveis em face das tais linhas de três e de quatro – o meio-campo está definido para um tal padrão ofensivo de que Portugal não deve abdicar. Com nuances de gigante: pressão alta (Otávio), construção em zonas mais subidas (Rúben Neves) ou então ligação efetiva de setores (João Neves) e, sobretudo, alimentação permanente à sala de máquinas da seleção: Bernardo Silva e Bruno Fernandes. No fundo, colocá-los num cenário onde, sem assumirem o papel de protagonistas, tudo é definido para que se sintam cómodos e possam espalhar a imprevisibilidade que só os “BB” conseguem providenciar.

E a linha avançada vem nesse seguimento: se for necessário alargar as alas então Pedro Neto é o único que pode providenciar essa fonte de alimentação com a devida velocidade. E, na linha da frente, a possibilidade de potenciação de dois avançados – como aconteceu diante da Eslováquia no Dragão – tem sempre de estar em aberto e na linha do processo.

Com Cristiano Ronaldo legitimamente convocado: não há como ele em termos de exploração das zonas de finalização. Se conseguir entender, e assimilar, que será sempre uma mais-valia seja no onze seja no banco, assumirá um papel determinante: o de verdadeiro capitão fora de portas. Aquele que garante a harmonia independentemente de estar ou não a jogar. É esse o CR7 que é essencial. Cimento resistente. CR.

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