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Bana, o «Rei da Morna» de Cabo Verde, morre aos 81 anos

Bana, de nome completo Adriano Gonçalves, 81 anos, conhecido como o ''Rei da Morna'', faleceu este sábado de madrugada no Hospital de Loures, vítima de doença prolongada.

Bana nasceu em 11 de março de 1932, no Mindelo, São Vicente, Cabo Verde, dez anos antes da sua conterrânea Cesária Évora, falecida a 17 de dezembro de 2011. Gravou mais de cinquenta discos, ao longo da sua carreira, iniciada em 1942,com apenas 10 anos de idade, tendo sido apadrinhado por B.Leza, um dos maiores músicos, poetas e compositores de Cabo Verde.

Alto (quase dois metros), de sorriso fácil e atento, embora alguns lembrem que quando se irritava se tornava insuportável, Bana deixa um legado extra carreira, pois foi graças ao “Rei da Morna” que muitas das actuais “estrelas” da música cabo-verdiana começaram a brilhar.

Foi Bana quem ajudou, por exemplo, Celina Pereira, Paulino Vieira, Tito Paris, Leonel Almeida, Titina, Zizi Vaz, entre muitos outros.

Em maio de 2008, sofreu um acidente vascular cerebral. Foram meses duros, mas que não o impediram de, depois, voltar a pegar no violão, pouco usual, e a cantar.

Companheiro de todos os “históricos” da música cabo-verdiana, Bana foi embalado pelos instrumentos tocados por Manuel d’Novas, Luís Morais, Morgadinho, entre muitos outros de todas as gerações.

Em 2012, foi distinguido com o Prémio Carreira, pelo Cabo Verde Music Awards, sucedendo a Cesária Évora, a “Rainha da Morna”.

Bana foi alvo de inúmeras homenagens e uma das mais comoventes aconteceu em junho de 1992, quando viu encher a sala da Aula Magna, em Lisboa, para celebrar 50 anos de carreira na presença de todas as gerações.

Luís Morais, Manuel d’Novas, Celina Pereira, Ildo Lobo, Morgadinho, Manel de Ti Djena, Ana Firmino, Zizi Vaz, Fernanda Queijas, Maria Alice, Titina, Leonel Almeida, Paulino Vieira, Tói Vieira, Armando Tito, Djon, Tito Paris, Vaiss, Nabias, Quim e Nando, todos nomes sonantes, estiveram lá a tocar para o “Rei da Morna”.

“Bana: Uma Vida a Cantar Cabo Verde” conta a sua vida num livro biográfico, escrito pela jurista portuguesa Raquel Ochôa, lançado em 2008 em Lisboa.

Antes de chegar a Portugal, o que só aconteceu em 1969, Bana passou pelo Senegal, Holanda, França e por muitos palcos do mundo, onde foi gravando discos uns atrás dos outros, a solo ou com os “Voz de Cabo Verde”.

A “estreia” em Portugal, que aconteceu na inauguração da Casa de Cabo Verde em Lisboa, dá-se pela insistência de vários elementos da Tuna Académica de Coimbra, que tentava levá-lo à então Metrópole em 1959. Entre eles figuravam Manuel Alegre e Fernando Assis Pacheco.

As reacções à more do ''Rei da Morna''

O presidente de Cabo Verde afirmou na sua página do Facebook que o cantor cabo-verdiano Bana é uma “voz impar que não se vai”, considerando que ficará, “sempre” na memória de todos.

“Recebo a notícia da morte do nosso Bana. Esse, sim, cujo nome lembra de imediato o de Cabo Verde, a sua voz. Voz ímpar que não se vai. Voz que faz ecoar «Eternidade», «Nossa Senhora de Fátima», «Lua nha testemunha», «Na caminhe de Maderalzim», «Traiçoeira de Dakar», «Lora»... Bana continua, pois, entre nós, sempre. Sempre grande, um dos grandes”, escreveu Jorge Carlos Fonseca.

“Há um ano, a meu lado, via-lhe e sentia-lhe as lágrimas fartas de um homem e de uma alma plenos de autenticidade. Ainda cantou uma morna. E continuou com as lágrimas. Foi-se o nosso Bana?! Não, fica eternamente connosco. A nossa solidariedade e a nossa partilha de dor com os familiares e os amigos”, concluiu o chefe de Estado cabo-verdiano.

O primeiro-ministro cabo-verdiano também falou da importância que o cantor teve em projectar Cabo Verde no mundo e que Bana que se tornou “claramente” um “património” do arquipélago e da humanidade.

“Bana é um grande homem, um grande cabo-verdiano e um homem desta grandeza não morre, deixa obras que viverão eternamente. Bana projetou de tal modo Cabo Verde no mundo que é claramente um património nosso e da Humanidade”, disse José Maria Neves, ouvido pela Rádio de Cabo Verde (RCV).

Para José Maria Neves, a melhor homenagem que se poderá fazer ao cantor cabo-verdiano é trabalhar “arduamente” para elevar a Morna a Património Imaterial da Humanidade, processo que foi desencadeado em 2012 pela cantora cabo-verdiana Celina Pereira.

“Mais do que um busto, Bana poderá levar o nome de uma rua, de um edifício, de um património nacional. Mas acho que a maior homenagem que lhe poderemos prestar é elevar a Morna a Património Imaterial da Humanidade”, defendeu.

“Bana é um património do mundo, de Cabo Verde, e tudo o que pudermos fazer, aqui e na diáspora, para o homenagear, além da reedição das obras importantíssimas, continuarmos a trabalhar para que a Morna seja elevada a Património Imaterial da Humanidade”, insistiu.

Questionado sobre o facto de haver o desejo de o corpo do “Rei da Morna” ser sepultado em Lisboa e não em Cabo Verde, José Maria Neves afirmou compreender o desejo da família, salientando que, se houver mudança de ideias, o Governo assumirá a trasladação e prestará um funeral com honras de Estado.

“Teremos de fazer as articulações com a família. Temos de ver quais eram os desejos do próprio Bana e quais são as intenções da família. Havendo o desejo e a intenção da família em que ele seja sepultado em Portugal, teremos de fazer as necessárias articulações para prestar-lhe lá, em Lisboa, uma importante ilha de Cabo Verde, as devidas homenagens”, disse.

O corpo de Bana estará em câmara ardente na Igreja de Benfica e o funeral será domingo.

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