loading

Bernardino Pedroto ao F365: «Estou disponível para a seleção de Angola»

Bernardino Pedroto, atual treinador do Interclube, aceitou falar com o Futebol 365 sobre a sua longa carreira. Apesar de ter começado em Portugal, o técnico encontrou um poiso de sucesso no Girabola. Agora, é um dos nomes mais fortes para suceder a Gustavo Ferrín no comando dos 'Palancas Negras'.

Bernardino Pedroto ao F365: «Estou disponível para a seleção de Angola»

Antigo jogador profissional, com passagens por clubes como o Vitória de Guimarães, Benfica e Marítimo, Bernardino Pedroto começou a sua aventura como treinador profissional em Portugal. Orientou emblemas como o Vitória de Guimarães, Gil Vicente, Campomaiorense e Moreirense. Até que, em 2000, e apesar de alguma desconfiança inicial, decidiu rumar ao Girabola, onde começou por orientar o ASA.

O sucesso foi imediato e, hoje, é um dos técnicos mais respeitados na ex-colónia portuguesa. Tanto, que está entre os favoritos para substituir o despedido Gustavo Ferrín no comando dos 'Palancas Negras'. Ao Futebol 365, e em primeira-mão, Bernardino Pedroto revelou-se disponível para aceitar o cargo que, apesar da responsabilidade inerente, nunca ousará negar.

F365: O que levou o Bernardino Pedroto a sair de Portugal há mais de uma década para um país como Angola?

Bernardino Pedroto: Na altura que recebi o convite para vir para Angola encontrava-me no desemprego. Felizmente que me encontrava desempregado, porque, não fosse esta (in)feliz coincidência, e não teria a oportunidade de poder exaltar as minhas qualidades. Ao receber o convite para vir trabalhar para Angola fiquei bastante cético, porque o processo de paz neste país estava longe de estar concluído. Mas, ainda assim, aceitei falar com o Sr. João Alves Andrade, que nesse momento era o Presidente do ASA - Atlético Sport Aviação, o primeiro clube que representei em Angola. Marcámos um encontro em Lisboa e, passados alguns minutos de conversa, percebi que não fazia qualquer sentido a desconfiança que inicialmente se tinha apoderado de mim. Por esta e outras razões, estou há mais de uma década em Angola e hoje continuo a sentir um enorme prazer de aqui estar. Foi um momento único, inesquecível e feliz.

F365: Qual a realidade atual do futebol angolano? E o que se alterou dos anos 90 até agora?

Bernardino Pedroto: Quando cheguei a Angola ainda existiam alguns campos de terra batida. A formação dos jovens jogadores era bastante descuidada, não por falta de interesse ou conhecimento dos treinadores (alguns sem formação técnica, apenas com a experiência como ex-praticantes), mas, e sobretudo, pelas más condições que estes encontravam: falta de espaços para a prática desportiva, falta de bolas e falta de equipamentos. [Desde aí], houve melhoramentos nas infraestruturas. Os clubes começaram a modernizar a sua organização, os treinadores estrangeiros (não só eu) transportaram duvidas e criámos expetativas e meios de observação e visão diferentes, quer na metodologia do nosso trabalho, quer no aproveitamento dos meios para sobre-elevar modernos conceitos de jogo e filosofias inerentes a estes. Nesta base, os treinadores angolanos (e há bons treinadores, creiam), começaram a perceber que sem formação, sem teorizarem os seus conhecimentos práticos, teriam sérias dificuldades em se adaptarem às exigências consubstanciadas à nossa profissão. Hoje, o futebol angolano está melhor. Está mais competitivo e mais organizado. Estas alterações, os conhecimentos e comportamentos que se lhe associam, estão na base deste crescimento.

F365: Muitos foram os treinadores portugueses a seguir o seu caminho, mas nenhum venceu como o senhor. Qual o segredo para se vencer em África?

Bernardino Pedroto: Não há segredo nenhum. O fundamental é procurar associar o conhecimento e a experiência adquiridos ao longo dos nossos anos, à cultura, aos hábitos e aos comportamentos a si associados, bem como, mais importante que tudo, conceber uma liderança com base no respeito pela diferença que existe entre todos nós. Autocracia? Nunca. Criar um estilo de liderança onde a confiança, a motivação e o exemplo sejam fundamentos essenciais para todos. Criar um espírito solidário. Sermos cooperantes e colaboradores. Compreender, aceitar e corrigir os nossos erros. Este é o segredo.

F365: Obteve sucesso em clubes como o ASA, Petro de Luanda e agora com o Interclube, o que o coloca como um dos treinadores capazes de assumir a liderança da seleção de Angola. Vê com bons olhos a possibilidade desse projeto acontecer?

Bernardino Pedroto: Ser um dos candidatos a esse cargo, por si só, já representa para mim um grande motivo de orgulho. Sobretudo, sugere reconhecimento pelo trabalho que tenho realizado neste país. Se estarei disponível? Com certeza absoluta! Simultaneamente, tenho perfeita consciência que tão elevada é a honra quanto a responsabilidade que este cargo encerra. Estou tranquilo quanto a este assunto e estarei preparado se tal vier a acontecer.

F365: Onde considera o futebol mais evoluído: Moçambique, Angola ou Cabo-Verde? O que distingue estes três países lusófonos entre si?

Bernardino Pedroto: Neste momento, Cabo Verde. Indiscutivelmente! Uma das razões, quiçá a mais importante, é terem um grande número de jogadores a evoluírem fora do seu país e a conviverem com campeonatos mais competitivos. Assumiram uma estratégia visionária, elegante e sábia. Estratégia visionária no sentido de orientarem os seus melhores jogadores a competirem num contexto mais exigente que o campeonato local. E, sem dúvida, com resultados muito positivos. Criaram condições aos seus treinadores para adquirirem os conhecimentos indispensáveis à estratégia orientada. Quanto a Moçambique e Angola, sinceramente, terão que ter uma estratégia idêntica. Por estes motivos, e não só claro, cada um destes países, Angola e Moçambique, terão que traçar objetivos claros. Visar a organização competitiva interna, por um lado, e, por outro, promover muitos e variados contactos internacionais nos escalões mais jovens. Elaborar princípios estratégicos que sugiram aos atletas um grau competitivo mais adequado aos fundamentos do jogo e assegurar instrução (cursos, estágios em equipas europeias, ...) aos seus treinadores.

Nota: Esta é a primeira parte de uma longa entrevista realizada pelo Futebol 365 ao treinador Bernardino Pedroto. O objetivo deste artigo passou por falar sobre a experiência do reputado técnico no futebol angolano e confrontá-lo com a realidade do futebol no Girabola e noutros campeonatos africanos. Na segunda parte desta rica conversa, o treinador português falará de uma forma mais abrangente: sobre o Girabola, mas também sobre a Seleção Portuguesa e a Liga Zon Sagres.

Confira aqui tudo sobre a competição.

Siga-nos no Facebook, no Twitter, no Instagram e no Youtube.

Relacionadas

Para si

Na Primeira Página

Últimas Notícias

Notícias Mais vistas

Sondagem

Roger Schmidt tem condições para continuar no Benfica?