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Futebol é bandeira da autodeterminação de regiões que querem ser países

A primeira edição do Campeonato do Mundo da ConIFA (Confederação de Associações de Futebol Independentes) termina hoje na Suécia, uma competição desportiva que junta países ou regiões que não são reconhecidos internacionalmente.

Futebol é bandeira da autodeterminação de regiões que querem ser países

A competição, que se iniciou a 1 de junho, reúne algumas das regiões mais marcadas por conflitos nos últimos anos, bem como outras regiões mais pacíficas que procuram maior visibilidade no plano internacional.

Na competição podem encontrar-se equipas do Darfur, da Assíria, do Curdistão Iraquiano, da Ossétia do Sul, da Abecásia, do Tamil ou de Nagorno-Karabakh, regiões marcadas por instabilidade nas últimas décadas, sendo que os seus jogadores são sobretudo oriundos da diáspora destas regiões.

O Darfur, região entre o Sudão e o Chade, atravessa uma guerra desde 2003, que opõe grupos do Darfur (Exército da Libertação do Sudão e Movimento para a Justiça e Igualdade) e milícias apoiadas pelo Governo do Sudão, que é acusado de massacres sobre a população não árabe da região, o que levou o Presidente sudanês Omar al-Bashid a ser acusado de genocídio pelo Tribunal Penal Internacional (TPI).

"Há mortes e violações em todo o lado. Não acho que vá haver paz tão cedo", disse à AFP Ismail Gamaradin, guarda-redes do Darfur que vive num campo de refugiados no Chade, tal como toda a equipa. "O futebol ajuda... temos oportunidade de falar às pessoas sobre os nossos campos de refugiados". Gamaradin foi forçado a abandonar o Darfur com 11 anos, depois de ter visto o seu pai ser morto pelas milícias Janjaweed, apoiadas pelo Governo de Cartum.

"Precisamos de meter o Darfur no mapa outra vez", disse à AFP Gabriel Stauring, da i-ACT, uma organização californiana que levou bolas de futebol para os campos de refugiados em 2005 e que ajudou a que a equipa do Darfur participasse na competição.

"Se não pegam em bolas, pegam em armas", acrescentou.

Há também lugar no torneio para equipas de regiões problemáticas do Cáucaso, como a Ossétia do Sul, Abecásia e Nagorno-Karabakh. Os conflitos na Ossétia do Sul e na Abecásia, regiões georgianas ocupadas pela Rússia em 2008, foram lembrados na sequência da crise ucraniana e da anexação da Crimeia por Moscovo.

Mais antigo é o problema da região de Nagorno-Karabakh, composta maioritariamente por arménios mas que está dentro do Azerbaijão. Na sequência da dissolução da União Soviética, a então Região Autónoma de Nagorno-Karabakh (parte integrante da República Socialista Soviética do Azerbaijão), começou a ser disputada por Arménia e Azerbaijão numa guerra que terminou em 1994 e que deixou o território 'de facto' independente, mas isolado da comunidade internacional, que o toma como parte integrante do Azerbaijão.

Mais a sul está o Curdistão Iraquiano, uma região autónoma do norte do Iraque, e faz fronteira com outras regiões curdas da Turquia, Irão e Síria. O Curdistão, na sua totalidade, nunca se conseguiu afirmar internacionalmente como Estado independente, estando dividido entre regiões autónomas de vários países do médio-oriente. Conta com uma equipa maioritariamente oriunda da diáspora.

A equipa da Assíria, também designada por equipa dos Arameus, está igualmente baseada na diáspora, já que conta com grandes comunidades em vários países, entre os quais a Suécia, país anfitrião do torneio.

As origens dos assírios estão na Mesopotâmia, e este povo existiu enquanto entidade nacional desde o século XXIV a.C. até ao VII d.C., tendo-se depois dividido em diversas minorias nos países que se formaram na região. Nos últimos séculos, foram ainda mais divididos por massacres, guerras e êxodos, como sucedeu durante o Império Otomano, no período de Saddam Hussein como presidente do Iraque, e na II Guerra do Golfo.

Mais para leste, a situação na região do Tamil, no Sri Lanka, foi problemática durante 25 anos. A guerra civil durou entre 1893 e 2009, ano em que os Tigres do Tamil perderam a guerra (que causou mais de 100 mil mortos) contra o Governo local e se iniciou um processo de paz.

Hoje em dia, os Tamil estão espalhados pelo mundo, com fortes comunidades no Canadá, Reino Unido, França ou Alemanha. A equipa é composta por elementos destes países. Umaesh Sundaralingam é do Canadá e está a representar os Tamil na competição: "Sinto-me mesmo honrado por vestir a camisola do Tamil. É a nossa maneira de mostrarmos que somos uma nação e que estamos mais fortes que nunca", disse à AFP.

Nas equipas de regiões menos problemáticas estão a Padania, do norte de Itália, que é apoiada pelo partido Liga do Norte, de França vêm a seleção da Occitânia e a do Condado de Nice, e do norte da Europa estão presentes a seleção da etnia Sami (presente na região da Lapónia que está dividida entre Noruega, Suécia, Finlândia e Rússia) e a da Ilha de Man, dependência da coroa britânica localizada entre a Irlanda e a Grã-Bretanha.

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