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Hamilton, Alonso e o sucesso na Fórmula 1

Fernando Alonso, por muitos reconhecido como o melhor piloto da Fórmula 1 moderna e um dos grandes de todos os tempos, está de saída do desporto.

Hamilton, Alonso e o sucesso na Fórmula 1

Ainda não é certo o que vai fazer em 2019, para além do World Endurance Championship (WEC); especula-se que será a Indycar, pois o espanhol pretende vencer as 500 Milhas de Indianápolis para obter a Tripla Coroa (Mónaco, Indy 500 e Le Mans.)

Parece que sabem a pouco os seus dois títulos na Fórmula 1. Mas em que consiste o desporto, afinal? Será que Alonso tem responsabilidades naquilo que lhe sucedeu?

As “pontes queimadas”

Um artigo do histórico jornalista Dieter Rencken no site Racefans sublinha uma realidade inquietante: Alonso indispôs-se contra todos os quatro fabricantes da Fórmula 1 atual. Prejudicou ativamente a Mercedes em 2007, quando esta equipa fez batota juntamente com a McLaren. Foi o beneficiário do caso mais grotesco de batota da história da Fórmula 1, ao volante de um Renault, em 2008 (o “Crashgate”); a Renault atual já não tem Flavio Briatore e nunca se mostrou interessada em ter o seu antigo piloto de volta. Abandonou a Ferrari por considerar que a equipa não estaria em condições de lhe dar sucesso, em 2014. E maldisse a Honda com frequência entre 2015 e 2017. Será uma surpresa que Mercedes e Red Bull não estejam inclinadas para lhe ceder um volante, e que a Honda possa não querê-lo na Indycar?

Alguns dizem que a Fórmula 1 é demasiado “estandardizada” e politicamente correta e que, no passado, um piloto como Alonso seria capaz de ocupar qualquer carro que quisesse, independentemente do que fizesse fora da pista. Mas será mesmo assim? Será que os mais bem sucedidos jogadores de futebol conseguiram o seu sucesso “queimando pontes”? Já ninguém se lembra de como a Ferrari despediu Alain Prost no final de 1991?

Há uma distinção clara entre lutar pelos seus interesses e criar o caos à volta. O histórico de Alonso, neste aspeto, é estranhamente questionável. São as “pontes queimadas” que Rencken refere.

O papel de Hamilton (e dos outros)

E depois há outra questão: Alonso não é o único piloto talentoso na Fórmula 1. Entre 1994 e 2005, até os fãs de Hakkinen (e depois Raikkonen) poderiam reconhecer que Michael Schumacher era o piloto que se destacava no plantel. Mas desde 2005 voltámos a um tempo antigo, como era regra nas décadas de 60 e 70, em que havia vários pilotos em simultâneo a quem era reconhecido grande talento. De resto, veja-se nos anos oitenta.

No nosso tempo, e além dos “jovens” Verstappen e Ricciardo (este não tão jovem), temos Vettel e Hamilton. Os dois tetracampeões já demonstraram várias vezes que têm capacidade para liderar uma equipa à conquista de um título. A reputação do alemão tem sofrido um pouco com os erros que tem cometido entre 2017 e 2018, mas é inquestionável a superioridade com que venceu os seus 4 campeonatos com a Red Bull.

E depois temos Hamilton, que só parece melhorar com a idade. Há que começar por 2007 e relembrar que o jovem estreante inglês se mostrou logo ao nível do bicampeão em título. Depois, a forma como conquistou o título à segunda tentativa (alguém se lembra de Heikki Kovalainen, o seu colega que foi trucidado em 2008 e 2009?) e como se manteve ao nível de Jenson Button durante os anos seguintes; nomeadamente em 2010, quando se manteve na luta pelo título até à última prova. Na era híbrida, ele tem sido a referência – e no GP Singapura 2018 fez uma volta de qualificação que poderá ser considerada uma das melhores desta década.

Assinar com a Mercedes: uma jogada de casino?

Deplora-se o papel da sorte na obtenção de resultados na Fórmula 1. Alonso já falou desta questão várias vezes; como ele não cita nomes, normalmente pensa-se que está a falar de Vettel nos seus anos Red Bull, mas também se diz o mesmo da sorte que Hamilton teve ao assinar com a Mercedes. Como se Hamilton, em 2012, tivesse decidido jogar no Betsson da Fórmula 1 e tivesse conseguido, com a chegada da era híbrida em 2014, o prémio máximo da roleta.

Mas não é assim tão simples. Primeiro, porque é necessário mostrar resultados e construir um currículo. Qualquer piloto do plantel poderia sonhar com uma vaga na Mercedes para 2013, mas a Mercedes apostou em Hamilton para substituir Schumacher. Depois, porque é preciso manter esses resultados e esse currículo, e Hamilton nunca fraquejou nestas 6 temporadas que já leva como piloto Mercedes.

Finalmente porque, como também disse Dieter Rencken, “o trabalho dos pilotos é dominar a Fórmula 1 do seu tempo: tecnologias, circuitos, competição e política”. Hamilton considerou em 2012 que deixar uma equipa cliente e em decadência e apostar num fabricante, que acabara de alcançar nesse ano a sua primeira vitória (com Rosberg), não era um simples lançar de fichas na roleta – era uma aposta séria e ponderada. Deu frutos. E a verdade é que faz parte do jogo.

Acontece o mesmo no futebol. Faz sentido que Buffon nunca tenha ganhado a Liga dos Campeões? Será que a Juventus vai ganhar a Champions agora que o histórico guarda-redes saiu? É possível - simplesmente, faz parte do jogo.

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