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Covid-19/Um ano: Maior hospital moçambicano respira melhor após pico de infeções

Nazário Mário, 60 anos, está internado no centro de isolamento do maior hospital moçambicano com um quadro clínico grave e várias patologias, numa luta pela vida face a uma doença que está longe de ser “uma mera gripezinha”.

Covid-19/Um ano: Maior hospital moçambicano respira melhor após pico de infeções

Nazário contraiu o novo coronavírus e a covid-19 colocou-o na ala criada no Hospital Central de Maputo (HCM), a mais concorrida por entre os centros de isolamento criados no país.

Após o aparecimento do primeiro caso em Moçambique, a 22 de março de 2020, a covid-19 deixou de ser uma ameaça desconhecida para ser encarada como uma ameaça séria, com rosto.

Um rosto que cada um liga aos conhecidos entre mais de 65.000 casos e 730 mortos, a maioria desde janeiro, mês carrasco numa vaga de infeção que se estabilizou em fevereiro e que tem estado a descer.

O cumulativo de casos e de óbitos por milhão de habitantes coloca Moçambique entre os países menos afetados pela pandemia na África Austral e poderia ter sido ainda menos atingido, não fosse a propagação vertiginosa que se seguiu às festas de natal e passagem de ano.

O número diário de internamentos no HCM caiu entre fevereiro e março, estando a maior unidade de saúde do país a receber agora, em média, sete pessoas, contra 25 no mês anterior, conta a enfermeira chefe Helena Chissaque.

Sejam quais for os números de que se fale, os olhos de Nazário Mário não escondem o medo.

Receia ver o seu estado clínico piorar, mas, neste momento, tem uma preocupação mais urgente na sua cabeça: continuar a respirar.

Refém de uma máquina de oxigénio numa das salas do centro de isolamento, a camisa desabotoada revela o quão frágeis estão os seus pulmões.

“Quando me movimento, eu perco o ar”, conta à Lusa o paciente, sentado na sua cama, acrescentando que, no leito da enfermidade, quem vive com a infeção sabe que “isto não é uma gripezinha, é um assunto sério”.

“Recebi um recado. Informaram-me que um dos meus filhos não está bem. Orientei a mãe para levá-lo imediatamente ao hospital. Pode ser que toda a minha família esteja infetada”, lamentou.

Na mesma sala está Lourenço Banze, que recorre à máquina de oxigénio para respirar há uma semana.

“Primeiro foi uma febre e depois fiquei cansado. Vi que já não estava a aguentar e então fui ao hospital. Bastava dar dois passos e ficava sem força”, contou Lourenço, 60 anos.

As noites são longas e não muito longe, noutro quarto, Belarmina Matavel enfrenta, além da covid-19, a solidão.

Acostumada ao calor de uma grande família, tem saudades dos filhos e dos netos e espera que a melhoria do seu estado de saúde garanta rapidamente o seu regresso ao convívio familiar.

Por agora, a atenção dos médicos e enfermeiros têm sido uma espécie de atenuante, algo compreendido por Helena Chissaque: além dos cuidados clínicos é necessário cuidar das emoções.

“O que nos leva a estar aqui é o valor da vida e o amor ao próximo. Temos dado o nosso máximo”, disse a enfermeira chefe, de 33 anos e que abraçou a carreira há 12 anos.

“Sou uma mulher casada e mãe. No início, houve medo quando recebi a notícia de que ia trabalhar no centro de isolamento. Mas a minha família deu-me muita força e eles também foram preparados. Mudámos o nosso estilo de vida. Mas estou aqui”, concluiu Helena.

“Os números estão a diminuir, mas isso não quer dizer que não voltem a subir", refere, cautelosa, Lúcia Chambal, médica e coordenadora da resposta à covid-19 no Hospital Central de Maputo.

Tudo depende dos "comportamentos considerados de risco" da população e do cumprimento das medidas de prevenção, nomeadamente aquelas que em Moçambique se recomendam desde o início: uso da máscara em locais públicos, respeitar o distanciamento social e lavar as mãos com frequência.

"Neste momento, o sistema de saúde moçambicano está mesmo a ressentir-se por causa desta doença, que é nova e requer muita atenção”, alertou a médica.

Moçambique viveu em estado de emergência entre abril e setembro de 2020, vigorando desde então estado de calamidade, designações legais para enquadrar diversas restrições com vista à prevenção da covid-19.

O Governo nunca chegou a declarar um confinamento geral obrigatório, mas há limites à ocupação de determinados espaços públicos e eventos, a maioria dos quais estão suspensos (cultos religiosos, conferências, provas desportivas, entre outras).

O comércio tem horários mais limitados, as praias estão interditas, o ensino pré-escolar está fechado (apesar de os restantes níveis de ensino estarem abertos) e na região da grande Maputo vigora desde fevereiro um recolher obrigatório noturno entre as 21:00 e as 04:00.

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