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Taça de Portugal: Dragões Sandinenses beneficiaram do espírito grupal

O percurso dos Dragões Sandinenses, o penúltimo clube do quarto escalão do futebol nacional a alcançar os ‘quartos’ da Taça de Portugal, em 1999/00, deveu-se a “gente ambiciosa e solidária”, amparada num “excelente balneário”.

Taça de Portugal: Dragões Sandinenses beneficiaram do espírito grupal

“Tanto era assim que, passados estes anos, ainda nos juntamos de vez em quando. Isso demonstra o grupo que tínhamos. Aceitávamos os desafios e íamos à luta, mesmo que nos dissessem que seria difícil e não era para nós. Tínhamos jogadores com experiência, mas também jovens sedentos de conquistas e com valor, dos quais alguns acabaram por ter sucesso nas suas carreiras”, frisou à agência Lusa o ex-guarda-redes Jorge Baptista.

Então a disputar a III Divisão, logo abaixo da I e II Ligas e da extinta II Divisão B, o clube de Sandim começou por deixar pelo caminho Juventude de Ronfe (2-0), Cabeceirense (4-2) e Elvas (2-0), todos do quarto escalão, sempre após prolongamento e como visitante.

“O facto de existirem muitas equipas da zona norte em divisões superiores fazia na altura com que jogássemos vários amigáveis durante a semana com adversários desse calibre. Estávamos habituados a defrontar adversários de escalões superiores, mas o balneário era a maior recordação, porque tínhamos um ambiente fantástico, éramos muito unidos e estávamos sempre na brincadeira”, enalteceu à agência Lusa o ex-médio Paulo Gomes.

Seguiu-se novo êxito fora de portas frente ao Paços de Ferreira (1-0), então treinado por Henrique Calisto, que se iria sagrar campeão da II Liga em 1999/00, com uma “exibição tremenda” da equipa de Ulisses Morais, que se superou “mesmo sem ponta de lança”.

“Lembro-me de uma história curiosa que se comentava, mas não sei se será verdade. No dia do jogo houve confraternização entre presidentes e o nosso perguntou ao líder do Paços de Ferreira que prémio iria dar aos atletas. Respondeu que não dava prémio para vencer os Dragões Sandinenses. No final, não teve de dar nada, pois fomos superiores”, gracejou Paulo Gomes, habitual médio defensivo, que teve de atuar “como número 10”.

Essa vitória espoletou uma “escalada de emoções”, com “crescentes solicitações das televisões”, além de ter incitado adeptos “incansáveis e importantíssimos” a esperarem pelos jogadores em Sandim, onde iria ‘cair’ o ‘vizinho’ Vilanovense (2-0), da II Divisão B.

“A nossa prioridade sempre foi o campeonato da III Divisão, porque queríamos subir e andámos a discutir essas posições. Na Taça de Portugal, o objetivo era chegar o mais longe possível, mas nunca falando de final ou qualquer coisa do género”, admitiu Paulo Gomes, autor do primeiro golo ante o Vilanovense, num resultado fechado por Pinheiro.

Este ex-médio ofensivo seria fulcral na eliminatória seguinte, ao ‘bisar’ para a reviravolta no estádio do primodivisionário Estrela da Amadora (2-1), vencedor da prova ‘rainha’ em 1989/90, que tinha marcado logo no primeiro minuto, através de um autogolo de Elísio.

“Os outros jogos foram importantes, mas esse foi o mais marcante, por ser com um clube da I Liga. O Estrela da Amadora era uma boa equipa, orientada por um excelente técnico [Jorge Jesus] e ia fazendo uma boa campanha. Sabíamos que era um estádio difícil, pois os próprios ‘grandes’ tinham dificuldade em lá jogar, mas mostrámos que tínhamos uma excelente equipa e pusemos em prática as nossas qualidades”, destacou Jorge Baptista.

Com apenas três golos sofridos em seis jogos, os Dragões Sandinenses “já sentiam os olhares diferentes das pessoas”, sobretudo após afastarem dois opositores dos escalões profissionais, antes do jogo com o Sporting, que seria campeão nacional 18 anos depois.

“Acho que veio na altura certa, mas, se calhar, preferia ter apanhado o Sporting na final, porque aí seria a coroação de um excelente trajeto. Acabámos por dar boa réplica em Alvalade, mesmo perdendo 3-0, e voltámos a dar uma excelente imagem dessa equipa, daquilo que poderia fazer e jogar e da qualidade que tinha”, analisou o ex-guarda-redes.

Só que, quando os adeptos da casa já assobiavam uma “equipa fabulosa” de Augusto Inácio, cujo ‘onze’ tinha César Prates, Pedro Barbosa, Ivone De Franceschi ou Ivaylo Iordanov, o espanhol Toñito aniquilou a esperança gaiense, ao marcar aos 76 minutos, numa contagem avolumada pelo brasileiro Marcos, aos 83, e Afonso Martins, aos 90+4.

“O aspeto emocional retirou-nos alguma frescura física durante o jogo, pois a realidade é que não estávamos habituados a essa pressão. Ainda assim, sofremos o primeiro num canto a nosso favor, em que o Sporting marca um golo fortuito numa transição. Caímos redondamente e os últimos 15 minutos foram muito pesarosos para nós, mas deixámos uma excelente imagem do que é o futebol nas divisões inferiores”, notou Paulo Gomes.

Se o Sporting viria a perder a final da Taça de Portugal com o FC Porto, numa partida de desempate, os Dragões Sandinenses “não deram um prémio especial” ao plantel pela crença coletiva em “fazer algo especial e que ninguém estaria à espera”, mesmo que a façanha só tenha sido igualada 22 anos depois pelo Leça, do Campeonato de Portugal.

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