Crónica: Bounou e os postes 'tramam' Espanha e Marrocos faz história

Em Doha, o guarda-redes marroquino, que atua precisamente em Espanha, no Sevilha, defendeu duas grandes penalidades, já depois de ter feito intervenções importantes durante o tempo regulamentar e prolongamento, e ‘enviou’ pela primeira vez o seu país para os quartos de final de um Campeonato do Mundo.

Além de Bounou, os ‘postes’ também ajudaram à eliminação espanhola, com Sarabia a ter demasiada pontaria no seu penálti, mas também pouco antes, quando o ex-Sporting acertou na barra na última jogada do prolongamento. O agora jogador do Paris Saint-Germain entrou em campo aos 119 minutos, fazendo a sua estreia na prova, e, em poucos minutos, acabou por ficar ligado no adeus da Espanha.

Marrocos imitou assim Camarões (1990), Senegal (2002) e Gana (2010) e, apenas pela quarta vez na história dos Mundiais, África vai ter uma equipa entre as oito melhores.

Num Estádio Education City claramente a puxar por Marrocos, os norte-africanos beneficiaram também da inércia e da falta de ambição da Espanha, ‘supostamente’ favorita, que entrou em campo com a regra de ‘risco zero’, sempre mais interessada em ter a bola.

Por isso mesmo, a equipa de Luís Enrique terminou a primeira parte com 70% de posse de bola, mas o máximo que conseguiu foi um remate de Asensio às malhas laterais, numa primeira parte que o futebol bonito esteve ausente da capital do Qatar.

Por seu lado, Marrocos, sem nada a perder, foi sempre mais agressivo do que o seu adversário nos duelos e na luta pela bola (com Boufal a ser o único a mostrar criatividade com várias arrancadas do lado esquerdo) e, perto do intervalo, o central Aguerd ficou mesmo perto de marcar, mas o seu cabeceamento passou por cima da baliza espanhola.

Na segunda parte, o ‘filme’ voltou a ser o mesmo, com a Espanha a agarrar-se à bola, mas sem qualquer intensidade no ataque, e Marrocos a defender bem e a procurar saídas rápidas para o ataque.

Só depois dos 60 minutos é que Luís Enrique percebeu que, dessa forma, a Espanha dificilmente chegaria à vantagem e lançou Morata, Soler e Williams na partida, na tentativa que alterar o cenário.

A Espanha até melhorou, começou a imprimir mais velocidade, mas a falta de inspiração manteve-se, enquanto os marroquinos foram ganhando cada vez mais confiança com o passar dos minutos.

Cheddira esteve mesmo perto de marcar para Marrocos, aos 86 minutos, com Simón a salvar e, pouco depois, na outra ponta do campo, foi a vez de Bounou manter o nulo, após um livre traiçoeiro de Pedri.

Justamente, o jogo seguia para prolongamento, tal as poucas oportunidades de golo que aconteceram de parte a parte durante o tempo regulamentar e, nesta fase, a Espanha encostou Marrocos atrás, embora, novamente, com muitas dificuldades em criar dificuldades a Bounou.

Luís Enrique estava notoriamente assustado com o cenário de grandes penalidades, enquanto Marrocos assumiu que o seu objetivo passava mesmo por essa situação.

Aos 119 minutos, Sarabia, que deixou saudades no Sporting, fez a sua estreia no Mundial2022, talvez com Enrique a pensar mesmo nos penáltis, mas o extremo ficou perto de solucionar os problemas para espanhóis, quando, em cima da baliza, mas de ângulo difícil, acertou no poste esquerdo.

Nas grandes penalidades, já depois de Sabiri ter dado vantagem a Marrocos, Sarabia voltou a ter um encontro com o poste, desta vez o direito, no que foi o início do fim da Espanha neste Campeonato do Mundo.

Soler e Busquets, que passou a ser recordista de jogos em Mundiais pelo seu país com 17 (igualou Casillas e Sérgio Ramos), permitiram a defesa de Bounou e Hakimi, com todo o estilo e calma, fez história para Marrocos.