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Benfica: A chama que conquista os três pontos

Artigo de opinião de Gil Nunes.

Benfica: A chama que conquista os três pontos
Futebol 365

Se a vitória do Benfica foi justa? Não foi, de todo. A haver um vencedor seria o Sporting. Aliás, é de causar enorme preocupação o facto dos encarnados passarem quase meia parte a jogar contra dez e a serem tão insípidos na frente de ataque como foram. Bombeamento atrás de bombeamento sem qualquer tipo de sentido, à espera que o génio de Di Maria fizesse a diferença. Ou então que a dita “chama imensa” saltasse da bancada e se transformasse em golo. Como aconteceu. Os deuses da fortuna estiveram no Estádio da Luz e foram vestidos de vermelho. Com António Silva e João Neves no papel de “santos da praça”. De facto, os jovens jogadores – benfiquistas de gema – fizeram a ponte entre todos e demonstraram que o sentimento, às vezes, pode falar bem mais alto. E alcançar vitórias. Em tempo de gelo. O Benfica tem de fazer mais e melhor se quiser efetivamente ser um sério candidato à reconquista do título. Mas “remontada” é “remontada” e o Benfica só tem mesmo de aproveitar a onda emocional daí proveniente. Siga a festa!

Na razão da análise, há lógicamente fatores que ajudaram à tardia reviravolta. Desde logo a entrada em cena de Gonçalo Guedes. Rápido, possante e, sobretudo, com capacidade para ligar os três setores da frente de ataque, a sua entrada permitiu que o Benfica apresentasse um padrão de jogo diferente, sendo que alguma fadiga evidenciada pelos jogadores leoninos também ajudou. Depois, há a questão dos detalhes: Trubin não teve qualquer interferência no lance do golo do empate mas, porém, a sua presença na área fez com que as marcações tivessem de ser ajustadas. Como num sistema: para se tapar “a” tem de se destapar “b”. E a presença de João Neves ao segundo poste beneficiou dessa mesma pequena confusão instalada. Um deslize que, para além de ter dado golo, fez com que os leões tivessem ficado desnorteados em termos emocionais, num rio espontâneo que desaguou no segundo golo do Benfica.

E aí salta nova reflexão para o caldeirão: à semelhança do que aconteceu diante do Estrela da Amadora – em que leu a jogada um segundo antes que todos os outros e finalizou na passada – Tengstedt voltou a ser expedito na exploração das zonas de finalização. Móvel e no timing certo, foi determinante e demonstrou que, no meio de Musa e de Arthur Cabral, talvez seja a solução mais credível para, de momento, atuar na frente de ataque.

A Tengstedt junta-se Tiago Gouveia e Gonçalo Guedes no rol de jogadores que podem ser tomados como desaproveitados. A jogar contra dez e com as incidências da partida a solicitarem mais corredor, mais profundidade, estranhou-se que Schmidt não tenha optado por um refresh às laterais. Na realidade, apesar da equipa ter jogado uns metros mais à frente após a expulsão de Gonçalo Inácio, o ataque nunca foi avassalador, criativo ou que desse efetivamente para assustar a bem organizada linha defensiva do Sporting. Que só tremeu de forma realista após dois episódios: a tal entrada de Gonçalo Guedes em cena; e o facto de os minutos finais representarem um cenário de risco total, com muita gente na área. E risco total ou dá glória ou dá bandeirada. Deu glória.

FC Porto e Sporting na Luz e sentimentos comuns. Apesar de derrotados, nenhuma das equipas se pode sentir diminuída ou então penalizada com um crescimento emocional dos encarnados que, no fundo, não vai existir. Com onze (e mesmo com dez), os leões foram sempre melhores: hábeis na construção a partir do centro da linha defensiva, potenciando o jogo muito para o seu lado esquerdo (Matheus Reis em posse), com variações constantes para o centro do terreno onde o desequilíbrio existia de forma regular. De resto, foi ver os médios leoninos – sobretudo Hjulmand e Morita – a arrastarem o bloco benfiquista para zonas dianteiras e, a partir daí, a desenvolverem transições ofensivas que se revelaram absolutamente certeiras. Aliás, o lance do golo leonino foi sintomático: rápida transição com o desequilíbrio provocado por Edwards a ter consequência numa desmarcação astuta de Gyokeres. E o avançado sueco, caso melhore no desempenho em posse e afine por um jogo mais simples e menos brusco, tem todas as condições para se tornar ainda mais num caso à parte. Até a nível europeu.

Seja como for, houve um aspeto em específico onde o Sporting foi claramente melhor: a circulação em posse. Sem mácula: quem tinha a bola possuía, desde logo, uma ou mais saídas válidas. Se era necessário variar o jogo, então o jogador do lado contrário já estava livre e desimpedido. Um desempenho muito mais fluido que o do Benfica, que viveu muito da qualidade individual de João Neves para equilibrar as contas no miolo. Recuperando, recuando e avançando, o jovem português conseguiu ganhar situações de um contra dois/três, evitando por diversas vezes situações que podiam ter sido bem mais desconfortáveis para a sua linha defensiva.

Mais do que o resultado, o dérbi trouxe consigo uma rápida mudança de paradigma: no espaço de poucos minutos, Schmidt passou de contestado a treinador com novo balão de oxigénio. Ainda por cima numa altura em que vem aí a pausa para as seleções e muita coisa pode ser trabalhada e afinada. É certo que o primeiro lugar traz consigo novos argumentos mas também é inequívoco que um treinador que foi campeão na temporada passada não pode estar preso nem por arames nem por contingências dos últimos minutos. Faz-se inclusive o raciocínio inverso: por muito contranatura e mirabolante que o episódio possa ser, não teria sido bem mais conveniente ao Benfica ter perdido e resolvido desde já a questão do treinador? É claro que não há razão nenhuma, nem lógica, em se perder. É um exercício especulativo e futurista. Mas o futuro do Benfica ainda se escreve com tinta muito tortuosa: no meio de um desenho de três centrais ou de um regresso ao esquema que deu o título na temporada passada, o Benfica vai atravessando a sua crise de identidade. Que é disfarçada por uma verdade indesmentível: que os jogadores são de qualidade, lá isso são. E enquanto há qualidade há esperança.

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