loading

Benfica: Assim falava barafusta

Artigo de opinião de Gil Nunes.

Benfica: Assim falava barafusta
Futebol 365

Até que é compreensível e legítimo que se afirme que o Benfica, à 13ª jornada e a um ponto da liderança, não esteja propriamente em crise. Por aí, Rui Costa tem razão. Seria uma imprudência de todo o tamanho acionar-se o estado de emergência, ainda por cima quando as aspirações nas provas nacionais – que não limpam o mau desempenho da Liga dos Campeões, mas ajudam – continuam perfeitamente intactas.

Depois, há ainda outro aspeto positivo a ressalvar: apesar de tudo, e apesar da valia de um plantel que justifica um rendimento muito superior, que o Benfica lá fez o suficiente para vencer o Farense, lá isso fez. E o Farense não é uma laranjinha fácil de digerir. Causou, por exemplo, imensos problemas aos dragões, pelo que a dose de mérito dos algarvios é também substancial, isto numa liga portuguesa que possui treinadores de altíssimo nível técnico e que, por conseguinte, conseguem diminuir os fossos orçamentais existentes e combater quase de igual para igual.

Ainda assim, há três questões que podem ser levantadas: em primeiro lugar a contínua insistência em dois laterais adaptados que, por muito competentes que sejam, nunca conseguem substituir alguém (mesmo em má forma) com rotinas estabelecidas para aquelas posições em específico, ou então um ala - se Sérgio Conceição lá coloca Pepê e Amorim também lança Catamo às feras, também faria sentido colocar-se em jogo Tiago Gouveia; depois, também não se entende que o desenho do meio-campo seja, quase em permanência, definido em função de dupla, quando até há matéria-prima de qualidade para se pensar em algo de diferente (leia-se também mais robusto); por último, é também altamente discutível que a subida das linhas seja sempre definida com um avançado e um médio/segundo avançado (no caso Rafa) a surgir na zona de finalização, quando o contexto final de jogo, sempre mais anárquico, pede mais homens na área e menos soluções de entrada na área – algo que acontece dentro de um quadro de jogo mais elaborado.

Mas há um problema maior a montante. Um problema com contornos de montanha. A má comunicação de Roger Schmidt. E a questão desagua numa frase bem portuguesa: cada cavadela (cada semana), cada minhoca. No episódio desta semana, Roger Schmidt lembrou-se de pedir aos adeptos que assobiam para “ficarem em casa”. Esqueceu-se, mais uma vez, que está a falar de adeptos que pagam bilhete, que suportam o frio e a chuva, para apoiarem o clube de sempre. E que, legitimamente, não estão contentes com o que veem e, logicamente, se manifestam. Aliás, mal estaria o Benfica se tivesse as suas bancadas repletas de gente amorfa, às aranhas, apenas seduzida pelo espetacular ambiente do estádio. E, num segundo aliás, Schmidt voltou a esquecer-se (como se esqueceu na temporada passada quando bateu o Estoril e disse que ficou aliviado) que é treinador de uma equipa grande – que tem uma notável massa crítica capaz de se galvanizar e puxar a equipa para outros patamares. Algo que poucos têm e que não pode ser desperdiçado. De todo. E assim se ganhou ao Sporting.

Até se poderia alegar que Schmidt se esqueceu de que está num país democrático, onde toda a gente se pode manifestar. Mas também não se vai por aí: pareceu desabafo, mais uma vez impensado, mas não mais do que isso. E, claro está, aquele fiozinho de razão no novelo: aos vândalos, que existem em todo o lado, mais vale ficarem em casa. Por aí sim.

Já Rui Costa faz o que lhe compete. Defender o treinador com quem renovou há meia dúzia de meses, garantindo que o projeto é para continuar. Outra coisa seria de estranhar, até porque a renovação representou uma forte decisão do Presidente que, de um momento para o outro, não pode ser colocada em causa. Assim sendo, é para seguir a toda a velocidade na autoestrada desenhada. Contudo, é sempre prudente construir-se uma estação de serviço: existe uma campanha sem precedentes e injustificável em torno do técnico alemão, que está a tornar o cenário bastante complicado de gerir. O discurso é certinho e adequado mas as coisas não são bem assim: numa alturas destas – em que não se vê grande horizonte tático nem na equipa nem naquilo que o técnico diz – nada como criar-se um fantasma artificial que, no futuro, possa permitir uma saída airosa do treinador em face da criação dessa asfixiante nuvem insuportável.

Dizer-se também que o Benfica joga o futuro em Braga é também tocar na tecla do exagero. No entanto, a tecla existe e emite ruído. Acima de tudo, perceber-se de que forma a equipa reage, e não apresenta um cenário de descalabro como aquele que apresentou na primeira parte diante da Real Sociedad. Ou seja, verificar-se se existe um ponto de inflexão no quadro exibicional e se as coisas começam efetivamente a mudar.

Caso não mudem, é uma questão do Benfica continuar a adensar a nuvem. Cada vez mais escura, cada vez mais baça, cada vez mais insuportável. Nesse caso, pode sempre pintar-se a história de negro: até para proteção do próprio, a saída foi sempre uma inevitabilidade ditada pelo contexto e nunca pelos ditames de um projeto que sempre se manterá vencedor. Ou Benfica já ou cenas dos próximos capítulos após o intervalo de Natal.

Siga-nos no Facebook, no Twitter, no Instagram e no Youtube.

Relacionadas

Futebol365 365
05-01-2024 · 15:04

Benfica: politicamente falando

Para si

Na Primeira Página

Últimas Notícias

Notícias Mais vistas

Sondagem

Roger Schmidt tem condições para continuar no Benfica?