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FC Porto: Aeroporto de Nico Maduro

Artigo de opinião de Gil Nunes.

FC Porto: Aeroporto de Nico Maduro
Futebol 365

Nem “palhaços joguem à bola” nem “lá em casa tudo bem”. Analisar o dragão nesta altura é resistir aos impulsos e tentar escalpelizar o contexto da forma mais precisa que seja possível. E vem-nos à memória uma frase batida (no futebol): o FC Porto não é a pior equipa do mundo após ter empatado no Bessa; nem tão pouco a melhor depois de ter vencido o Estoril de forma concludente.

O cenário, nesta altura, também são ovos mexidos. As saídas de Uribe e de Otávio. E as contratações que podem ser reforços ou não, consoante um conjunto de variáveis. FC Porto e Pavia não se fizeram num dia. E uma questão tática que está associada: será que o regresso a um sistema de 4x2x3x1, privilegiando-se os alas em vez do maciço jogo interior, vem resolver de vez todos os problemas associados à criatividade em si ou às lacunas relacionadas com a finalização/ definição clara de linhas de tiro?

A resposta parece ser não. Até porque o FC Porto já assim atuou e, por outro lado, se fosse assim tão simples seria uma questão de se implementar o mesmo sistema de forma permanente. E isso já não se usa. A montante existe outra vírgula: convém não esquecer o papel dos laterais portistas na manobra ofensiva, sendo que o FC Porto bateu o Chaves através de um golo apontado por João Mário e no seguimento de uma variação de flanco.

É claro que, nestas partidas em que há um claramente mais forte (FC Porto), a obtenção do primeiro golo tem sempre o mágico condão de tornar as coisas mais fáceis. Ironia do destino, por falar em faixas e aposta na exploração dos corredores, o primeiro golo surgiu na sequência de uma jogada potenciada pelo eixo central – passe em profundidade e diagonal de Evanilson culminada com gesto técnico de elevado grau de dificuldade.

Noutro apeadeiro, e taticamente falando, a entrada de Nico Gonzalez no onze (salvo algumas desatenções pontuais) namora com uma dupla perspetiva coletiva: em primeiro lugar a capacidade de ligação entre os setores, com os corredores a serem também beneficiados com a presença de um jogador mais tecnicista e hábil para se “desenrascar” em espaço curto; depois, uma robustez física considerável que, devidamente calibrada, representa uma mais-valia em termos de bolas paradas (na segunda parte esteve perto do golo na sequência de um canto) bem como eficácia nas segundas bolas e pronta estancagem das transições ofensivas (ou intenções de) do adversário.

É que nem “Girona” nem qualquer outra paragem extemporânea a meio do cruzeiro. Porque, efetivamente, o FC Porto precisa de Nico Gonzalez para ser mais forte. Não que dependa em exclusivo de um só jogador (nem é isso que se pretende) mas, sobretudo, porque a presença de um “Nico maduro” vai permitir que o FC Porto seja mais multifacetado em campo, apresentando ênfases no jogo interior ou nos corredores consoante as necessidades da equipa e a consequente leitura dos adversários. Sejam eles mais fracos ou mais fortes. Porque é isso que se pretende.

Com o tal “Nico Maduro” (sem ele também é possível, é certo, mas não é a mesma coisa) contemplam-se também uma série de benefícios indiretos: como a presença de Pepê em zonas mais adiantadas e mais propensas a um contexto de desequilíbrio que é quase automático dada a sua elevada qualidade técnica. Na realidade, é quase como ter uma solução pronta quando a bola não vem com tanto açúcar ou a relva não está tão bem aprumadinha como deveria. Minudências que fazem a diferença naquele momento em que o desequilíbrio individual confere pontos extra no pântano ou no caos do jogo. Que puxam a equipa mais para a frente e lhe dão um toque de imprevisibilidade que, por muito que possa ser definido em termos espaciais e em contexto de laboratório, é sempre um imponderável quando a bola rola. E as coisas acontecem porque têm de acontecer à velocidade da vida.

Porque o melhor caminho é mesmo não se encontrar o substituto de Otávio. É positivamente fazê-lo desaparecer na neblina, através de novas dinâmicas que possibilitem a potenciação dos presentes. Dos que cá estão. Que são necessariamente diferentes. Não se pode pedir a Pepê que seja tão saliente na reação à perda ou início da transição defensiva. Mas é igualmente polivalente e multifacetado. E, verdade seja dita, até tem uma dose bem maior de talento natural.

Neblinas à parte, e num espectro de terceiro lugar de liga que nunca é satisfatório, o estado do tempo para os lados do Dragão pode ainda ter lacunas por preencher (sobretudo no centro da defesa) mas em termos de coletivo caminha para novos rumos de consolidação. De versatilidade. De trás para a frente, com o desejo interno de que as pequenas remontadas (invariáveis em face das dinâmicas de mercado) sejam concretizadas a tempo dos títulos.

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