loading

Namaso: Deste fruto não se quer só metade

Artigo de opinião de Gil Nunes.

Namaso: Deste fruto não se quer só metade
Futebol 365

No FC Porto, há um jogador que parece estar a ser trabalhado para voos mais ambiciosos. Passo a passo e sem grande pressão à sua volta, até porque há um eixo de blindagem na frente de ataque (sobretudo Taremi e Evanilson) que robustece uma espécie de bunker de desenvolvimento sustentável que se vai criando. Danny Namaso. Se, ao instinto goleador que já apresenta, conseguir juntar uma série de outros atributos táticos, poderá dar um salto de gigante rumo a um outro estatuto. Mas a boa notícia é mesmo a predominância do inato: o faro de golo. Tudo o resto parece ser possível de apreender dentro de um contexto onde cada minuto no laboratório se pode revelar determinante. Grão a grão.

Quando, na temporada passada, abriu o marcador em Chaves na sequência de um inesperado remate em arco em que desembrulhou espaço no meio de uma floresta de pernas, ficou patente a sua principal característica: o golo sempre na cabeça. Sobretudo golos decisivos, que abrem o marcador e tornam tudo menos complicado. Na temporada passada, refira-se, até começou a titular no jogo da Supertaça, atrás da mais rotinada dupla Taremi – Evanilson. Se bem que o seu espaço não seja nem o da criatividade nem o da definição, certo é que o seu desempenho foi positivo e, para além disso, começou a trilhar-se um caminho que, diante do Montalegre, se evidenciou como mais maduro. Há jogos teoricamente mais fáceis que vêm por bem.

Porque o jogo da Taça de Portugal apresentou o “slide” que faltava no portefólio de Namaso: a maturidade coletiva. Para além do excelente jogo que realizou, todos os golos tiveram a sua assinatura. Direta ou indireta. No primeiro golo finalizou com astúcia, depois de uma jogada em que contribuiu decisivamente para a recuperação da bola em zona alta. E, noutras alturas, poderia ter atravessado esta praia na condição de veraneante. Já no segundo golo teve participação decisiva: desatenção da defesa do Montalegre e pressão alta consubstanciada em recuperação preciosa para Evanilson – mais a sua qualidade individual – fazerem o resto. Seguiu-se o terceiro tento, já perto do intervalo. Aí a ação foi diferente: recuo estratégico para abrir espaço quer ao passe de rutura de Grujic quer à aceleração em zona curta de Galeno. Que deu novamente golo de Evanilson. Tudo se conjugou com um quarto golo que elencou uma ação diferente: a variação rápida de flanco. Num ápice, Namaso rodou e mudou o centro do jogo sem hesitação, quase que sabendo que do outro lado se encontravam os azuis. E também deu golo.

Todo este percurso carece de consolidação e todo este percurso também apresenta circuitos de penumbra. Normais circuitos de penumbra. Como aconteceu no jogo da Supertaça, em que Namaso foi presa aparentemente fácil para a defesa do Benfica. Mas é por ali. A aposta continua em cima da mesa: potenciar as características de Namaso para que possa contribuir para o jogo de uma forma efetiva e regular, apresentando um rol de atributos que, devidamente conjugados com a sua inata capacidade de finalização, o transformem num elemento de referência da equipa e não numa credível opção de recurso. Para o universo de Namaso, tal não chega. Deste fruto não se quer só metade.

Até porque Sérgio Conceição é especialista nestas coisas. Aproveitar acontecimentos extra (como o quadro pré-eleitoral ou então as afirmações a propósito de João Mário na seleção) para trilhar um hábil caminho de capacitação das suas segundas linhas. Porque este é o momento certo: paragem nas seleções e jogo acessível na Taça de Portugal que conferem treinos em catadupa e muito trabalho de casa para os que ficaram no Olival. E sem polémicas adicionais, sobretudo quando não têm lógica.

É a substância do exagero. Quando tens um treinador português e não um treinador espanhol. E és um homem do norte e não um homem do sul. A questão é que é perfeitamente saudável dizer-se o contrário no encalço de uma boa gargalhada bairrista. Diferente de gritaria fanática.

Ou quando vemos a aparição do Dom Afonso Henriques a esbofetear o Capitão Falcão. “Afinal de contas és português ou és espanhol?”. Então toca a acordar e vamos a eles sem qualquer tipo de receio. No fundo, é uma questão de se perceber o contexto e tomar a mensagem apenas como uma alfinetada a João Mário e dar um preventivo toque de calcanhar em relação a uma possível ligeireza, isto numa altura determinante da temporada. É preciso ganhar e todos os detalhes são determinantes.

Ainda por cima às portas de um jogo diante do Barcelona onde a defesa poderá ter de ser reformulada. Porque no Dragão a melhor equipa foi o FC Porto, que apenas não foi mais longe no resultado não por incompetência, mas por desatenções pontuais. Não ter dito nada é que teria sido grave. E deixem lá Roberto Martinez brilhar em paz, sem leituras obtusas. Há quanto tempo a seleção portuguesa não estava tão tranquila? Que se desfrute. E que se sonhe.

Siga-nos no Facebook, no Twitter, no Instagram e no Youtube.

Relacionadas

Futebol365 365
26-10-2023 · 10:30

Quanto vale Evanilson?

Para si

Na Primeira Página

Últimas Notícias

Notícias Mais vistas

Sondagem

Roger Schmidt tem condições para continuar no Benfica?