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Portugal: solta o Adamastor que há em nós!

Artigo de opinião de Gil Nunes.

Portugal: solta o Adamastor que há em nós!
Futebol 365

De facto, não há muito a dizer. Senão aplaudir. São sete vitórias em sete jogos e uma qualificação que nunca foi colocada em causa. Não estamos habituados a viver assim. Sem pressão, sem calculadora. Apenas com a perspetiva de um cenário certo: o europeu 2024. Mas, afinal, o que proporcionou todo este desiderato? Isto para além de outro benefício indireto: uma reta final de três jogos para testarmos ou consolidarmos aquilo que quisermos. Para um tubo de ensaio tático ou, então, para dar luz verde a um conjunto de jogadores que estão no limbo da convocatória. Ou, então, para pensar de forma diferente.

Martinez diz algo de crucial. A porta está aberta, mas é muito difícil entrar no lote dos escolhidos. É lógico que tal afirmação acarreta o risco de ser levada ao extremo: fazer como Scolari, que transformou a seleção nacional numa espécie de “turminha dos porreiraços” com lugar cativo independentemente do rendimento. Por aí não. Mas percebe-se o que Martinez quer dizer em face do que tem sido a prestação da seleção: ou joga numa linha de cinco ou então rapidamente efetua a sua metamorfose de construção para uma linha de quatro. Ou, como aconteceu diante do Luxemburgo, o caminho é mesmo o do risco total: um 3x2x5 em que a estratégia passa por sufocar o adversário; ou mesmo potenciar uma dupla Ronaldo- Ramos sem abdicar de Leão, Bernardo Silva ou Bruno Fernandes. Algo que seria impensável com Fernando Santos.

Tudo passa a ser lógico: com tantas mudanças táticas operadas na equipa naquele curto espaço de tempo de que a seleção dispõe, só um grupo mais ou menos estanque tem a capacidade de assimilar o que o selecionador pretende. Grão a grão enche a galinha o papo. E muitos grãos dispersos, por muita qualidade que apresentem, fazem com que o resultado final fique menos denso. Trata-se de um risco, é certo. E uma abertura à crítica caso algo descambe: com o Bruma nada disto teria acontecido. E com Pedro Gonçalves muito menos. Mas são opções, senhor.

Diante da Eslováquia, o sol que norteou as decisões foi o mesmo das partidas anteriores. A melhor tática que pode existir não é aquela que une os pontos fortes e fracos do adversário e os entrelaça com os nossos. É, isso sim, a tática que os jogadores mais apreciam. Aquela que faz com que todos não se importem de correr mais um bocadinho pois, no fundo, o que a malta prefere mesmo é ter a bola no pé e atacar. Marcar golos. Exponenciar o talento de uma forma nunca vista no passo recente.

Com João Palhinha como pivô defensivo a marcar determinante presença na pressão alta, transição defensiva e jogo aéreo, houve ainda mais novidades a assinalar: desde logo a presença do destro Dalot do lado esquerdo, isto para além de uma dupla de ataque capaz de refrear qualquer linha defensiva contrária: mesmo que Ramos tivesse de jogar ligeiramente mais recuado ou Ronaldo tivesse de aparecer vindo da direita, com Leão mais fiel ao lado esquerdo e às suas possantes arrancadas. É claro que, para além de toda uma linha defensiva que sabe o que fazer no processo de construção, há sempre a destacar a proeminência de Bernardo Silva e Bruno Fernandes como principais eixos de criação. Com liberdade controlada mas ampla, o que no caso de Bruno Fernandes se traduz até em diferente papeis dentro de campo: tanto apareceu colado à faixa direita (segunda parte) como no encalço do avançado - primeiro tempo. E assim se desembrulhou o golo inaugural: os “BB’s” a fazerem das suas, com Gonçalo Ramos a fazer jus a um dos seus principais atributos: o ataque à primeira bola. Característica que dizimou a Suiça nos oitavos do mundial. Situação que explora como poucos à escala mundial.

Se a versatilidade tática se conjuga com a harmonia? Ainda não. E a seleção traz a filosofia para cima da mesa da análise: afinal de contas o que é o coletivo se não o individual em plano de conforto? Veja-se o que aconteceu em Bratislava: o 4x3x3 apresentado até falhou no plano coletivo mas a alegria com que os jogadores interpretaram a disposição apresentada fez com que a criatividade brotasse e, por conseguinte, que o Adamastor de Bratislava se ultrapassasse com um sorriso vencedor.

Nada se constrói em sete jogos e tudo o que se vê ainda deambula pelo hemisfério da imperfeição. Pela melhoria dos timings de jogo, pelo pleno controlo quando o que se pretende é resguardar o corredor central (como aconteceu no Dragão) e evitar que o moribundo adversário readquira asas e volte à terra dos sonhos.

Se a tranquilidade de Ronaldo é um excelente sinal (entrada de Luís Castro no Al-Nassr a produzir benefícios diretos e indiretos), todo o compêndio tem sublinhados. Que, no caso, são dois: de que forma é que a seleção vai reagir quando tiver de se proteger em face do poderio dos seus oponentes? Sim, porque até ao momento Portugal foi superior aos seus adversários, sendo que é um mérito tremendo fazer prevalecer a lei do mais forte de forma inequívoca; e a segunda dúvida advém mesmo da autoestrada de vitória: como vai reagir a equipa quando estiver em situação de desvantagem? Será que se vai enrolar na carapaça do individual? Ou vai encher o peito de ar e ultrapassar todos os Adamastores que ousarem beliscar o glorioso caminho marítimo?

Quem respira melhor, também pensa melhor. Falta quase um ano para o europeu. E, sem pressão, há mais tempo para se testarem todas as situações de risco e emendarem-se todos os erros: os que estão definidos como pontos débeis e os que podem no inesperado brotar à superfície. Martinez abomina calculadoras. Repete-o vezes sem conta, num português quase perfeito. E tiene razón!

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