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Sporting: um fascínio pelo desconhecido

Artigo de opinião de Gil Nunes.

Sporting: um fascínio pelo desconhecido
Futebol 365

O Sporting adora o que não vem nos livros. O que não está previsto nos almanaques. Não porque seja mais difícil de contrariar ou de analisar, mas porque, verdade seja dita, o que não é convencional demora mais tempo a escalpelizar e a encontrar os pontos fracos. E, enquanto tal acontece, o mundo do Sporting pula e avança com pontos conquistados nos momentos decisivos. Pontos esses que podem valer títulos. Como aconteceu no passado.

Há três épocas, através de uma linha de três defesas que, não sendo revolucionária, provocou um semblante de surpresa em todos os adversários, o Sporting deu corpo a uma máxima de simplicidade do seu jogo. O simples como amigo da perfeição e a perfeição como linha contínua para o título. Toda a gente sabia como desmantelar o Sporting. O problema é que ninguém o desmantelou a tempo. E o leão, mesmo com algumas debilidades, transformou-se no justo vencedor de uma liga que dominou de forma perentória.

Viro o mundo ao contrário e rio-me porque, de facto, o mundo ao contrário até pode estar completamente certo e tudo o que vemos pode estar, na realidade, de pernas para o ar. Se há equipas que, em situações excecionais, colocam um destro na posição de lateral esquerdo, só o Sporting é que tem um esquerdino (Geny Catano) como lateral direito. E, a partir daí, o pormenor ganha robustez: porque os adversários estão habituados a levar com um destro em cima e há sempre aquele bocadinho em que tudo se descontrola. E a receita já não vem de agora: largos são os exemplos do Sporting jogar com sete ou oito esquerdinos, sendo que larga também é a diferença de se enfrentar um adversário que tem sete ou oito destros.

Como também não é normal um central esquerdino – Gonçalo Inácio – a construir a partir da direita ou ter - também na zona central - um lateral de raiz – Matheus Reis. Que por acaso foi criativo do São Paulo e não vacila quando o pressionam. Ou sacar do Lecce um médio – Hjulmand – que está formatado para equilibrar o miolo em parceria com Morita. É certo que o Sporting também transporta debilidades – pressão efetiva aos centrais feita pelo FC Porto é talvez o melhor dos exemplos - mas há algo de que o leão não pode ser acusado. Falta de identidade. Vamos jogar desta forma e não vamos inventar a roda. Queremos este e aquele jogador para personificar aquilo que planeamos. Que até nem é muito complicado de entender. E ponto final.

Hoje, a busca pelo positivo do excêntrico mantém-se. Sem cair no bizarro, com os pés assentes numa estratégia singular. Até personificada na contratação da temporada. Gyokeres vale pela sua qualidade, é certo, mas o leão regozija-se pelo facto do avançado sueco ser, antes de tudo, um avançado diferente daqueles que existem em Portugal: poderio físico incrível, capacidade para acelerar e galgar metros com uma capacidade notável; discernimento para alimentar a profundidade e tornar a equipa mais perigosa no momento da transição ofensiva (daí Rafael Fernandes ter sido expulso mais pelo receio do que pela ação).

Tudo isto assente numa preparação que começou na temporada passada, quando o leão se prototipou para que Gyokeres pudesse encaixar na equipa sem grandes atropelos, até porque possui um atributo ainda mais determinante: o golo. Sporting eliminado pela Juventus porque, simplesmente, não marcou. Seja pela ação direta ou pelos benefícios indiretos que aporta, Gyokeres capitaliza os holofotes ao seu redor e deixa o tartan livre para Paulinho brilhar sem a bolha da pressão a asfixiá-lo. Se pode melhorar? Sim. Sobretudo no jogo em posse, mais central e sem grandes turbulências. Leia-se sem arrancadas. Em que se torne naquele avançado hábil que recebe e dá. Elementar. Porque as dinâmicas ofensivas nem sempre se fazem de terramotos permanentes. Há tempo para controlar, e bem, os ritmos de jogo.

Algo de que o Sporting parece padecer. Diante do Arouca, novamente em vantagem, voltou a ser contrariado e a sofrer para obter a vitória. E os arouquenses, que apresentam uma estratégia defensiva consolidada, colocaram todos os jogadores atrás da linha da bola e, embora com nuances diferentes mas com semelhanças em relação ao plano que apresentaram diante do FC Porto, taparam o espaço entrelinhas aos leões. Mas o Sporting tem uma capacidade de desequilíbrio mais definida que o FC Porto, fruto sobretudo de Marcus Edwards que, através de um drible curto muito preciso, atrai sempre dois ou três adversários para a sua zona de ação e provoca o tal alvoroço mais complicado de contrariar pela vertente tática.

Se a expulsão de Diomande não estava nos planos, o que se pode tomar como preocupante está espelhado no golo do Arouca. Mérito total a Jason Remeseiro e Mujica mas uma total desarticulação na dita “zona morta” entre guarda-redes e costas da defesa. Nas costas de Coates. Novamente. Seja como for, tudo se espelha e concretiza nas palavras de Rúben Amorim: apesar da qualidade dos seus intervenientes, não era através da transição que o Arouca estava a criar perigo na segunda parte. O grosso da preocupação estava nos cruzamentos. Sobretudo para a tal zona proibida que era necessário cobrir não na altura do cruzamento em si mas antes na sua prevenção. Daí Quaresma sair para entrar Neto não fosse o Arouca começar a inundar a zona em questão.

Mas, tal como aconteceu na altura do primeiro golo, o segredo esteve na potenciação do talento na dita zona permitida e definida pela tática. A partir da esquerda, e mesmo com dez, desenrolou-se o novelo pelos pés de Pedro Gonçalves, ele que tem aparecido sempre na altura certa. Na altura mais determinante. Para além da sua capacidade técnica, falar de Pedro Gonçalves é, novamente, enfatizar o tal fascínio pelo desconhecido e pelo produto diferenciado: porque não é nada normal um médio ter tanta capacidade de finalização. Com ambos os pés. De facto, Pote coloca a bola dentro da baliza como se o guarda-redes não existisse. Como se o golo já tivesse ocorrido na sua cabeça há um bom par de segundos. O milagre da fé. Ou do raciocínio rápido que vale pontos. Muitos pontos.

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