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A rede “3 G” do Sporting

Artigo de opinião de Gil Nunes.

A rede “3 G” do Sporting
Futebol 365

Sempre foi médio só que ninguém o avisou. Gonçalo Inácio. Na realidade, e feita a devida análise e enquadramento, a capacidade de construção que demonstra pode perfeitamente ser replicada noutros setores do campo. E não há almanaque que determine que um defesa não pense como um médio, até porque as novas exigências do jogo recomendam (para não dizer obrigam) que os centrais têm de ser hábeis no processo de construção. Sobretudo em equipa grande.

O primeiro “G” do Sporting é mesmo o de Gonçalo Inácio. Decisivo e absoluto. Nunca se saberá se a escassez de médios leoninos estará ou não relacionada com a preparação de Gonçalo Inácio para zonas mais avançadas do terreno. Reinará sempre a dúvida. Agora, a questão pode ser analisada de outra forma: se temos um central tão hábil no processo de construção – a sair sob pressão, a quebrar linhas ou mesmo a meter profundidade – por que não colocar todos estes atributos numa zona mais propícia ao desequilíbrio? Ainda por cima quando Inácio é esquerdino o que, num mundo dominado por destros, representa sempre um produto diferenciado e uma adaptação dos modelos leoninos mais para aquele corredor em específico. No caso de Gonçalo Inácio, uma fria análise da polivalência é residual: porque o polivalente muda partes do seu “ADN” para se adaptar. Neste caso em particular, a adaptação quase que sai borda fora. No fundo, trata-se de uma deslocação no verdadeiro sentido do termo. Sais daqui para ali e o assunto está arrumado. Porque rendes qualquer que seja o contexto.

Óbvio que o Sporting perde alguma capacidade em termos de duelos e de rotinas ao nível da transição defensiva. Também não é normal que o Farense marque dois golos em situações de descompensação da defesa– em alguns momentos enfrentando apenas três elementos – mas a componente ofensiva sai enriquecida. Com outro “G” a entrar em cena.

A explosão de Geny Catamo surpreende não só pelo passado recente do jogador – na época passada nem sequer fazia parte do plantel – mas sobretudo pela sua afirmação na tal componente do “pé trocado” que Sérgio Conceição tanto destacou na última conferência de imprensa que realizou. É lógico que tal contexto pressupõe apoios mais rápidos e diferentes, até porque o pé trocado impõe uma tendência para se jogar por dentro. Mas nunca se sabe quando e de que forma vai surgir o movimento. Esta leitura de timing tem sido, aliás, um dos pontos fortes de Geny Catamo, cuja preponderância se afirma até mais no capítulo ofensivo. Mais lá para trás toda a equipa se articula para definir uma linha de quatro (na maior parte das vezes) mais protecionista, que aguarda a chegada dos médios e dos laterais subidos para realinhar as linhas orientadoras do seu processo defensivo.

Aliás, perante o Boavista, a questão do timing foi fulcral no lance do primeiro golo: Catamo percebeu que a dinâmica da equipa pressupunha cruzamento longo de Matheus Reis e, por conseguinte, ataque imediato do lateral contrário à zona do segundo poste. Que deu em golo - não tanto saído do improviso mas antes relacionado com uma dinâmica de laboratório que determina que o jogador pensa e aja de uma forma mais ou menos automática.

É claro que há alturas no jogo em que a melhor coisa que se pode fazer é mandar a tática às urtigas. E o terceiro “G” – de Gyokeres – é o melhor passaporte para essa zona de “jogo feio” que, no fundo, se pode traduzir como jogo eficiente. O quarto golo diante do Farense é apanágio desse mesmo pensamento: na realidade, todas as soluções de passe curto podem ser eliminadas quando temos do nosso lado um jogador com capacidade para arrancar, explorar a profundidade, e finalizar em conformidade. O que acarreta a tal dúvida para quem defende: nunca se sabe se o desenvolvimento da dinâmica ofensiva do adversário vai ser mais escalada – passe curto – ou então se uma alternativa sai da cartola e tudo se resolve. Afinal de contas, podemos ir de uma baliza à outra em meia dúzia de minutos e evitar uma série de problemas. Feito.

É um Sporting que, esta temporada, se apresenta cheio de positivas “nuances” dentro de um esquema aparentemente simples. Mas diferente. Tal como o perfil do seu técnico Rúben Amorim, quase como se fosse um jogador do plantel que passou a técnico por anuência democrática do grupo. No seu estilo muito descontraído – o Sporting só tem a ganhar com isso – aproveita a positiva cadência de resultados para deixar um salpico de dúvida no ar, enquanto introduz os estímulos necessários para a equipa se unir e sonhar. “Tenho uma ideia acerca do que vai acontecer no final da época.”

É certo que se pode argumentar que Rúben Amorim pode ter ido longe demais – sobretudo nesta altura da procissão – e tal é legítimo. Agora, do outro lado da moeda, a tónica do sprint final pode trazer ao grupo a poção mágica que pretende pintar o quadro a ouro: tudo acabou bem nesta história de glória. Saímos da melhor maneira possível. Porque sprintamos juntos e ninguém ficou para trás. Afinal de contas, nem Sporting nem Rúben Amorim têm muito a perder após tais declarações. Até porque lá chegará o dia em que o Sporting terá de navegar sem Amorim sendo que esse é talvez o principal problema que aparece a médio/longo-prazo: com um padrão tão diferente das demais equipas, com tantas nuances, o primeiro técnico pós-Amorim terá sempre de operar uma mini-revolução para não chocar com ideias tão diferenciadas. Ou então prossegui-las em naturalidade plastificada, num contexto em que será sempre o treinador a moldar-se ao passado e, por conseguinte, a reenquadrá-lo de forma progressiva. Mas, hoje, o que é interesse é o presente. E, para já, não há Sporting sem Amorim.

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Futebol365 365
20-11-2023 · 23:06

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