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Portugal BB Gourmet

Artigo de opinião de Gil Nunes.

Portugal BB Gourmet
Futebol 365

Ele, Roberto Martinez, se calhar acredita mais em nós do que nós próprios. Porque as experimentações ofensivas não param e, mesmo no atual período de pousio competitivo que a seleção atravessa (no pós-qualificação assegurada vieram Bósnia, Liechtenstein e Islândia), a equipa nacional não tira o pé do acelerador e segue em zonas altas rumo ao avassalamento do adversário. Marchar, marchar. Sem olhar para trás.

Frente à Islândia, o desafio era diferente. Em face do contexto. É certo que de altos e toscos os nórdicos têm muito pouco mas, ainda assim, não deixam de ser altos nem corpulentos. Por isso, o desafio passava por meter a bola principalmente no chão e enveredar por uma tónica de “toca e vai”, com triangulações e movimentações em catadupa, tornando a frente muito móvel e difícil de contrariar por parte de um adversário geneticamente menos flexível. Para tal, dá muito jeito ter um elemento – Otávio – com capacidade para definir o espaço entre linhas, assegurar a recuperação em zona alta, reagir de pronto à perda, e, também, descer no terreno para garantir circulação efetiva a partir de zonas mais recuadas. Tal como aconteceu em partidas anteriores, Portugal voltou a aparecer com um lateral esquerdo destro – João Cancelo – que se movia para dentro, arrastando consigo as marcações e, por conseguinte, deixando a autoestrada livre para João Félix explorar em conformidade. Do lado contrário, a novidade João Mário procurava apresentar um cardápio de funções semelhante ao que apresenta no FC Porto: aproveitamento das situações de um contra um para aceleração rápida com enfoque no drible, típico de alguém que tem a palavra “ala” no seu ADN.

O lateral portista apenas por uma vez comprometeu – na primeira parte – mas, no capítulo ofensivo, foi mostrando que pode ser um produto diferenciado em relação a Cancelo, Dalot e Semedo. É que há certas situações do jogo que demandam maior exploração do jogo interior, através de tabelinhas rápidas, processos em velocidade, e mesmo aparecimento em zona central para finalizar (golo do FC Porto ao Vitória na temporada passada). Aliás, por falar na questão do lateral a explorar a zona central, foi ver Raphael Guerreiro nos minutos finais a atuar como verdadeiro médio, promovendo uma hábil circulação a partir da primeira zona de construção. Subtil mas útil e perspicaz.

Com os centrais a jogarem subidos – foi ver Rúben Dias quase em construção na área contrária e Gonçalo Inácio a definir sem qualquer tipo de receio – houve ainda um aspeto individual a ressalvar: a confiança de João Palhinha. É certo que, no capítulo do passe longo, o médio defensivo melhorou muito às mãos de Rúben Amorim, mas uma coisa é melhorar o ponto fraco, outra ainda melhor é transformar o ponto fraco em ponto forte (ou quase forte). Num quadro tático em que Ronaldo tentou, também ele, desprender-se da zona mais central e acrescentar frequentes linhas de passe à equipa, há uma sociedade que é a alma de todo o desempenho atual da seleção: a dupla Bernardo Silva / Bruno Fernandes. Propositadamente sempre muito juntos pelo desequilíbrio que aportam: se Bernardo Silva capitaliza uma montanha de pernas à sua volta, a capacidade de tiro de Bruno Fernandes usufrui da tal abertura da cratera. A tal dupla BB.

Nestes contextos, às vezes as coisas são circulares. Ponto forte evidente é também ponto fraco, na medida em que os adversários vão, certamente, incidir sobre o bloqueio dos “BB” para ferirem a dinâmica portuguesa. Daí que o robustecimento de outras zonas ofensivas seja vital: vários pontos fortes implicam desdobramentos, e quem tem obrigatoriamente de pensar na estancagem do adversário também fica sem recursos e, num ápice, desequilibra-se a favor do mais forte.

É lógico que a análise tem de ser feita dos dois lados (ofensivo e defensivo) mas há pouco a dizer perante um desiderato de qualificação em que a seleção só sofreu dois golos. Acima de tudo, a clara assunção da mensagem de Roberto Martinez: jogamos de igual para igual com todos os adversários. Não vale a pena uma seleção com tanto talento perder tempo com contenções ou criação de redomas artificiais para que este ou aqueles não brilhem. Porque, mesmo que brilhem, nós temos uma qualidade espetacular e temos toda a capacidade para dar a volta ao texto. E vencer.

É que, por muito simplista que possa parecer, há um ponto altamente favorável à estratégia de um selecionador que não tem problemas em entrar em 3x3x4 diante do Liechtenstein ou em 3x2x5 frente ao Luxemburgo. A melhor tática é aquela que os jogadores mais gostam. Ora, se estou a ter um prazer imenso naquilo que estou a fazer (porque toda a gente prefere estar a atacar do que estar a defender), então também não me importo de correr mais um bocadinho para equilibrar o cenário.

A mensagem é forte mas o ponto e a vírgula ainda aparecem no horizonte da superfície navegável. Sobre o ponto, é o mesmo de sempre: de que forma Portugal se vai moldar perante adversários de maior envergadura? Já a vírgula interliga-se com o ponto: como vai reagir Portugal quando estiver em situação de desvantagem? Porque, tal como canta Mariza, “é preciso perder para depois se ganhar”. Mas, para já, há razões para espalhar a fé do fado por esta Europa fora.

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