loading

A metamorfose, segundo Martinez

Artigo de opinião de Gil Nunes.

A metamorfose, segundo Martinez
Futebol 365

Disse quando chegou a Portugal: sempre quis treinar esta seleção porque considero que os seus jogadores têm um talento enorme. E o que Martinez alegou faz, na realidade, todo o sentido: mais do que todos os desenhos táticos do mundo, o que se tem verificado é um verdadeiro salto no desconhecido. Sem qualquer receio. Se somos bons há que avançar sem se pensar neste ou naquele. Contra os canhões, marchar, marchar! Contra os bósnios a mesma coisa.

Só uma nova mentalidade fez com que a vitória na Bósnia não enchesse páginas de jornais. Nem os mais céticos considerassem tal acontecimento algo de grotesco. De surpreendente. E o facto de alegarmos, e justificadamente, que a vitória diante da Eslováquia pecou por ter sido lograda num terreno algo sobressaltado, a questão é que mesmo o terreno sinuoso onde foi obtido desaguou num total de três golos. E é muito raro para a seleção nacional, mesmo no seu cosmos de loucura sadia, encaixar três golos e perder pontos.

É esta a metamorfose segundo Martinez. Eu acredito que vocês são os melhores do mundo e não admito nada menos do que isso. Pé no acelerador que tudo o resto será calibrado. Não deixa de ser um positivo paradoxo: é certo que estamos na terra dos melhores treinadores do mundo, mas é preciso vir alguém de fora para constatar algo de relativamente óbvio: terra do talento. Ou terra do talento mediante a capacitação desse mesmo talento feita por um conjunto assinalável de técnicos que se disseminam desde o escalão principal até às raízes do futebol de formação.

Por isso, agora o tempo é de afinação. De algum travão – não na euforia mas de racionalidade, isto no cockpit de uum veículo que também tem curvas e precisa de as tornear em conformidade. Mas mantendo o ritmo de vertigem. O embate diante da Bósnia trouxe o desafio imediato: manobrar os ritmos de jogo para que o mesmo, mesmo não estando sôfrego, adquira uma plataforma de controlo que faça com que as “Eslováquias” desta vida rondem o perigo mas nunca o causem verdadeiramente. Daí o primeiro jogo pós-qualificação ter afinado por esse diapasão: entradas de Danilo e Gonçalo Inácio determinantes para protagonizar um controlo mais efetivo (quando e de que forma fazer o passe a partir da primeira zona de construção) com experiência de forma a beliscar os pontos fracos do adversário na hora certa. Ora, passe limpo também implica caminho livre, e nada melhor do que o desbravador Otávio para fazer toda essa invisível ação de limpeza: hábil na pressão alta e no condicionamento das linhas de construção ao adversário, já tinha estado em grande nível frente a Eslováquia, colocando uma placa de gelo determinante nos últimos minutos onde o caos poderia imperar e os ventos da fortuna tenderem para os lados de Bratislava.

A quarta novidade – entrada de João Félix – trilhou o mesmo pensamento base. Desta vez em zonas mais adiantadas, onde a assunção do risco deve ter um caminho mais consciente e definido pelo paradigma do tal risco dentro da bem protegida cápsula da definição. E aqui entramos novamente no perímetro da lógica: se conseguimos ter a astúcia necessária (leia-se criatividade e talento) para despachar a Bósnia ainda na primeira parte, também temos toda a capacidade do mundo para mexer na caixa de velocidades da tática. Sem a fazer tremer.

Porque o desafio ganha novos contornos daqui para a frente. Porque, mesmo perante uma multiplicidade e complexidade de dinãmicas que impede que a porta seja mais ampla, há que precaver a criação de uma nuvem de segundas linhas que obscure o céu limpo que pontifica atualmente. Uma mensagem para os guarda-redes suplentes – José Sá e Rui Patrício – com um alcance significativo: é certo que nem todos se podem sentar à minha mesa, mas todos aqueles que por cá andam serão tratados com a devida atenção. O tempo das discriminações positivas chegará, até para se precaver algo que pode ser fulminante: saída de jogadores fundamentais – João Mário ou Rafa – porque alegadamente não tiveram minutos suficientes. Jogar nos bastidores para que a casa continue de pedra e cal e com os alicerces bem fortes.
E com Ronaldo bem mais tranquilo e a demonstrar que não há como ele em termos de exploração de zonas de finalização. Não há. Pé esquerdo, pé direito e de cabeça, quase como se tivesse sido produzido em laboratório. É lógico que o tempo dita a sua lei e também, de soslaio, vai roubando o seu espaço de ação. Para Ronaldo render, para Ronaldo colocar em prática todos os seus atributos de finalizador por excelência, há que perceber o seu território de ação e colocá-lo bem luminoso naquele momento em específico em que tudo poderá fazer sentido. Mas sempre com a ideia de que o futuro sem CR7 já está mesmo aqui ao lado: sim, já é universal que a seleção não depende do seu capitão. Mas também sim, importa chegar ao outro nível: construir o puzzle de forma a que todas as peças se articulem no sentido de que Ronaldo seja mais uma peça e não a única chave possível do cubo rubik.

Porque, ao contrário do célebre cubo, a metamorfose trouxe consigo o tempero da simplicidade. É só pegar no talento e colocá-lo no prato. Que se torna suculento por si, pela excelência da criatividade do jogador português. Afinal de contas, aqui nas contas do burgo, ganhar é bem mais elementar do que aquilo que parece. Não fosse o povo português gostar de complicar, isto até chegar um selecionado espanhol que abomina calculadoras. No! Mil veces no!

Siga-nos no Facebook, no Twitter, no Instagram e no Youtube.

Relacionadas

Futebol365 365
20-11-2023 · 23:06

Portugal BB Gourmet

Para si

Na Primeira Página

Últimas Notícias

Notícias Mais vistas

Sondagem

Quem será o próximo presidente FC Porto?