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Sporting: em sueco se mudou o mundo

Artigo de opinião de Gil Nunes.

Sporting: em sueco se mudou o mundo
Futebol 365

É a questão para um milhão de dólares: como é que é possível nenhum clube da Premier League ter pescado Gyokeres quando ele ainda estava no Coventry? A resposta a esta questão pode passar pela simples incompetência – apesar do futebol ser hoje um mercado global o perto será sempre perto – ou então pela competência dentro de um espectro de dimensão humana em que não se consegue controlar tudo e há sempre algo que escapa. Nunca se saberá.

Por falar em dimensão humana, o raciocínio pode também ser circular. O ponto forte pode ser, ao mesmo tempo, também o ponto mais fraco se analisarmos o contexto de cima para baixo. Ou seja, uma possível saída de Gyokeres (por uma montanha de dinheiro ou então por alguma lesão ou imponderável) representaria um rude golpe nas aspirações dos leões e, para além disso, uma violentíssima revolução em termos táticos para colocar de súbito a equipa a jogar de outra forma. Algo que, com o comboio em andamento e o título na estação central, não dá jeito nenhum. Seja como for, o realismo é sempre amigo do futuro. E a ilusão um perigo à espreita. Leão ponderado sabe, de antemão, que não poderá manter Gyokeres nos seus quadros por muito mais tempo. Cru e duro.

O sueco, que tem sido o MVP da liga até ao momento, realizou diante do Estoril uma das melhores exibições individuais de que há memória na liga portuguesa. E numa linha de ação que, por simples que seja, oferece uma amplitude significativa: se gostas de fugir da zona central então cai em cima dos laterais/centrais desse lado para adquirires quer o espaço quer a supremacia necessária para que outros possam passar pelas zonas de finalização e também brilhar. No primeiro golo, a forma como o Gyokeres se desembaraça de Rodrigo Gomes é tão natural quanto a trivela que assiste Edwards na pequena área. Esta forma de exploração das potencialidades do avançado sueco traz consigo um leque de benefícios indiretos que tem também uma leitura emocional: no fundo, todos recebem os holofotes da fama de forma parcelar. E a soma das partes é sempre a consolidação de tudo. Ou de um tudo que começa mais atrás. Na defesa.

É certo que o Sporting aposta muito na profundidade para aproveitar a capacidade de explosão do seu melhor jogador mas tal não é sinónimo de recuo. É também certo que a zona central da defesa é a tomada elétrica que fornece a energia a toda a equipa e que nunca, em qualquer momento, pode deixar de ter recursos abundantes. No presente e no futuro. A contratação de Rafael Pontelo afina assim por um duplo propósito: em primeiro lugar essa mesma dotação dos centrais como fortaleza inexpugnável; depois, a salvaguarda criteriosa em relação a futuras vendas, com natural tempo para se trabalhar um jogador de imenso potencial e cujo valor de mercado poderá largamente suplantar aquele que foi investido. Um bom negócio.

Num janeiro definido pelo mercado de transferências, o polvo de atuação pode ter três tentáculos: a contratação do craque, sendo que craque é para apanhar se assim houver oportunidade; depois, a recruta de jogadores jovens com potencial, que possam evoluir de forma minuciosa em contexto de laboratório; por último, a análise das prioridades da equipa e a colmatação das mesmas através de jogadores que não só resolvam o problema a curto-prazo como também sejam ativos valiosos de médio e longo-prazo.

No ponto três reside uma das incógnitas do leão: o reforço da linha de miolo com um jogador estável que impeça o recuo estratégico de Pedro Gonçalves (jogador que finaliza bem e com ambos os pés é para estar nas zonas de tiro e tal não pode ter discussão) e que assegure a ausência temporária de Morita (garantida) ou então de qualquer outro elemento fundamental do meio-campo: Hjulmand e Daniel Bragança. E o regresso deste último é uma boa notícia: técnica apurada, ampla capacidade de passe e, em termos de nuance, o acréscimo daquele minúsculo detalhe que faz Rúben Amorim salivar: é esquerdino. E os esquerdinos definem sempre as coisas de outra maneira, o que num mundo dominado por destros representa, em todo o caso, um produto diferenciado. Daí Catamo (também esquerdino) pontificar do lado direito possibilitando não só a potenciação de Edwards em zonas mais centrais (e com isso mais espaço para Gyokeres explorar) e, também, aquela falta de rotina no seu opositor: que está habituado a lidar com destros. É sempre outra coisa.

A liderança do Sporting não é confortável e pode ser momentânea. Mas quem acredita pode sempre ir mais longe, sobretudo quando o contexto foi preparado desde a segunda parte da temporada passada. Depois, a estratégia vencedora é também aquela que melhor percebe os rivais: com o Benfica a afinar por um modelo novamente muito estanque e com o FC Porto a ter alguns problemas naturais no processo de reconstrução pós – Otávio e Uribe, é a altura certa para se colocar o pé no acelerador. E, novamente, analisar os benefícios de um mundo ao contrário: sem a exigência da Liga dos Campeões (é certo que os milhões fazem muita falta mas podem ficar para outras núpcias) há também espaço para se respirar fundo fora do universo nacional.

E o grande mérito de Amorim foi mesmo não mudar: não há 4º lugar que me afaste das minhas convicções. Da minha forma de pensar o jogo. Dizem que o universo ajuda quem muda mas, se calhar, também vale a pena ver o universo ao contrário. Vê-lo à moda de Amorim.

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